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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O Brasil bombou em 2007

Foi um natal como há muito tempo não se via no Brasil. As vendas, de acordo com estimativas da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping Centers (Alshop), foram 12% maiores que em 2006 e as melhores dos últimos dez anos. Em muitos setores, a farra natalina aconteceu o ano inteiro. O mercado imobiliário está em ebulição, impulsionado pelo crédito farto, com juros mais baixos e lançamentos a preços mais acessíveis. Em 2007, o volume de financiamentos dobrou, para R$ 18,6 bilhões, um novo recorde. No setor automobilístico, nunca se vendeu tanto. Os números do ano ainda não estão fechados, mas calcula-se que as vendas fiquem em 2,5 milhões de veículos, quase 30% a mais que em 2006. O mesmo aconteceu com computadores, produtos de higiene e beleza, celulares.

O índice de confiança do consumidor, que mede a segurança no emprego, está no maior nível desde o início da pesquisa, em 1996, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O desemprego, na faixa de 8,2% em novembro, está no nível mais baixo desde 2002, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adotou uma nova metodologia de cálculo do índice. Também nunca se contratou tanta gente com carteira assinada. Em 2007, os trabalhadores recuperaram as perdas salariais que se arrastavam desde 2002. Até a distribuição de renda, um problema crônico, está melhorando.

Uma pesquisa recente realizada pelo instituto Datafolha apurou que 20 milhões de pessoas entraram na classe C, a classe média baixa brasileira, com renda familiar abaixo de R$ 4 mil por mês. “Quem está indo a algum lugar que se vende muito percebe que o povo pobre está comprando”, disse o Presidente Lula no programa de rádio Café com o Presidente, na véspera do Natal. “As coisas estão confluindo de forma positiva, como se tivéssemos uma energia dizendo: agora é a vez do Brasil.”

Há bons motivos para acreditar que o país esteja entrando num ciclo de crescimento econômico real e, para usar um adjetivo caro aos economistas, sustentado.

Com a consolidação da estabilidade e a entrada de uma massa de novos consumidores no mercado, o país cresceu 5,7% ao ano no terceiro trimestre (último dado disponível, do IBGE), em relação ao mesmo período de 2006.Algo que parecia impossível em 1993, há 14 anos, meses antes do Plano Real, quando a inflação roçava 2.500% ao ano.

Com uma política econômica consistente há mais de uma década e o recente dinamismo dos negócios, o Brasil caiu no gosto dos investidores internacionais em 2007. Em reportagem recente publicada pela revista Business Week, Jim O’Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, um dos maiores bancos americanos de investimento, fez uma verdadeira declaração de amor ao país. Ele cunhou o termo Bric (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China), em 2003, e previu que os quatro países seriam as maiores economias do mundo em 2050. “Algumas pessoas dizem que o Brasil não deveria ter sido incluído no grupo dos Brics”, afirmou O’Neill. “Eu diria que, hoje, parece que o Brasil é o melhor dos quatro.”

No fim de outubro, a revista inglesa The Economist publicou uma reportagem semelhante, intitulada “Por que o Brasil parece em melhor forma que muitos outros mercados emergentes”. Pouco antes, já havia s publicado dois outros artigos na mesma linha. Um deles afirmava que “o Brasil é o exemplo mais claro da recém-descoberta estabilidade financeira da América Latina”. O segundo, que “Lula, o campeão da igualdade, tem sido bom para a Bolsa” – só em 2007, o índice Bovespa, que reflete o desempenho dos papéis mais negociados na Bolsa de Valores de São Paulo, subiu 45%. Em dólar, segundo a empresa MSCI Barra, ligada ao Morgan Stanley, um dos maiores bancos americanos de investimento, foi a segunda maior alta do mercado acionário do mundo, atrás apenas do Peru.

Não por acaso, o volume de investimento estrangeiro na produção bateu recorde em 2007. Foram US$ 33,7 bilhões, mais que no auge da privatização, em 2000. No mercado de capitais, ocorreu a mesma coisa. Com empresas de primeira linha como Vale do Rio Doce, Embraer e Gerdau, o mercado acionário atraiu um volume recorde de dólares. Os estrangeiros investiram R$ 48 bilhões na compra de novas emissões de ações .No total, incluindo os negócios com novos papéis feitos por investidores nacionais, o Brasil movimentou R$ 75 bilhões em novas emissões de ações, o equivalente a 11% do mercado global. “O que está acontecendo no mercado de capitais do país é uma revolução”, diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC.

O cenário se mostra tão positivo que o Brasil está prestes a receber o almejado grau de investimento das agências internacionais de classificação de risco. Será um sinal verde para que um sem-número de fundos de pensão apliquem parte de seus recursos no país, algo que hoje estão impedidos de fazer. Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nem mesmo a crise no mercado de hipotecas americano poderá atrasar o “upgrade”. Meirelles afirma que, se o governo garantir a saúde das contas públicas e continuar a reduzir a proporção da dívida em relação ao PIB, a obtenção do grau de investimento será uma questão de tempo. “Estamos vivendo um ciclo virtuoso”, diz.

No mundo dos negócios, o bom momento da economia está fortalecendo as empresas nacionais. Segundo o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) de São Paulo, o faturamento dos negócios de menor porte é o maior dos últimos cinco anos. As grandes empresas vivem fenômeno semelhante. Uma pesquisa realizada com 220 empresas de capital aberto pela Economática, uma empresa de informações financeiras de São Paulo, revela que, nos primeiros três trimestres deste ano o lucro líquido alcançou R$ 39,2 bilhões, 45% a mais que no mesmo período de 2006. “Houve uma melhora geral. Nem a turbulência do mercado externo conseguiu perturbar a economia nacional”, diz o empresário Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim. “A gente sente que há crescimento econômico no país. No passado, sonhava com crescimento de até 2%. Era um horror. Agora, não há do que reclamar.”

Com a queda dos juros, os empresários estão investindo mais na produção e menos no mercado financeiro. Segundo dados do IBGE, o investimento em máquinas, equipamentos e imóveis em 2007 alcançou 17,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior nível em muitos anos. As fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras também bateram recorde. Foram US$ 37 bilhões até o fim de outubro, 93% a mais que no mesmo período de 2006, de acordo com a Thomson Financial, empresa internacional de informações financeiras. Em 2007, o Brasil ainda se tornou, segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, o segundo maior investidor externo entre os países emergentes, atrás apenas de Hong Kong. Otimista, o Presidente Lula previu, ainda assim, uma taxa de crescimento de 6,5% em 2008, mesmo sem os R$ 40 bilhões da CPMF.

Meirelles ainda acredita que a força do mercado interno deverá aplacar eventuais retrações externas. “Hoje, o crescimento da economia brasileira é ancorado pela demanda doméstica que é incentivada pelo aumento da renda real, do emprego e do crédito. O Brasil vai crescer a taxas robustas também em 2008”, afirmou em seu depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na véspera do feriadão do Natal. “Será um Ano-Novo repleto de esperanças para o povo brasileiro.”


Revista Época num. 0502 de 31/12/2007

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