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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Mino Carta pendura as chuteiras

Mino Carta despediu-se em seu blog, dando-o por encerrado, e diz calar-se na revista Carta Capital.

Na contramão da popularidade recorde do governo e do presidente Lula, Mino manifesta frustação com governo Lula, o que me lembrou, em muitos pontos, o que já chamei aqui no blog como ESQUERDA DE ELITE.

Mino não é um cínico da ESQUERDA DE ELITE, mas parece estar cercado por muitos deles, e sucumbiu à influência em seu redor.

Jornalista não pode ficar apenas cercado de um grupo "formador de opinião", de uma elite intelectual que se apega às suas verdades. Precisa ouvir também a voz plural das ruas para ter uma percepção melhor da realidade. Se Mino desse mais atenção à voz dos contínuos, motoristas, faxineiros, porteiros da Carta Capital, garçons dos restaurantes onde ele almoça com empresários e intelectuais, teria uma percepção e julgamento bem diferente do governo Lula.

Mino, com sua bagagem de vida, sabe melhor do que ninguém disso, mas parece que já não queria mais fazer esse lado do jornalismo de participar das conversas da cozinha. Queria fazer só o jornalismo de falar, com a bagagem de conhecimentos que já tem, sem colocar à prova si mesmo. Então fez bem, porque estava na hora de dar um tempo.

Eu discordo em muitas coisas de Mino Carta. Ele não estava entre os meus preferidos por achá-lo erudito demais (não é pelas críticas que ele fazia ao governo), mas o respeito e considero um exemplo de integridade jornalística que, nesse ponto, deveria ser seguido por todos.

Diferente de Paco, vejo Mino Carta honesto em seu trabalho, não consigo vê-lo impulsionado por calculismo, nem por interesses escusos. Seus defeitos aparentes são apenas vaidade e orgulho, o que não é virtude, mas é normal na natureza humana. Mino não fez carreira na Globo, saiu da Veja por não se dobrar aos patrões, recusou suborno de Daniel Dantas em forma de anúncios na Carta Capital, e isso precisa ser reconhecido e louvado. Mas o problema é cegar-se pelo elitismo que o cerca.

Algumas de suas críticas eram simplistas, como repetir os bordões de Paco sobre a "BrOi", carecendo de sustentação em cima de jornalismo investigativo, de debruçar-se nos números, nas cláusulas dos contratos, nos bastidores, ouvir mais o outro lado também, confirmar ou desmentir o que dizia Luciano Coutinho (a quem Carta Capital deu espaço para se defender e publicou), em vez de apenas opinar contra. Era isso o que eu esperava da Carta Capital quando tratava do assunto "BrOi", ou seja: matar a cobra e mostrar a cobra morta, e nunca encontrei.

Outras críticas são incoerentes, como dizer-se decepcionado com os resultados da Satiagraha, quando caminha para ser exitosa. Também é incoerente não entrevistar Delfin Netto, colaborador da revista, para explicar sua conversa com Naji Nahas, captada nas gravações de Protógenes, e informar ao leitor do que se tratou de fato.

Também houve momentos em que sua obsessão por Daniel Dantas levou a publicar a infeliz edição de 7 de setembro passado, colocando Daniel Dantas como "O dono do Brasil". Na época, protestamos aqui no blog, e aquela infeliz capa foi desmentida à medida que os fatos foram se revelando com o tempo, com a condenação de Dantas, bloqueio de bens, etc.

Mas parte da frustação de Mino, é a maldição da ESQUERDA DE ELITE: é querer terceirizar para o governo, tudo aquilo que ela não faz. Se limita a criticar, assistindo de camarote.

Já li Mino se gabar (quando a revista tinha tiragem menor, antes de 2006, se não me engano) da Carta Capital ser lida majoritariamente pelo público das classes A e B, como sinal de status e prestígio para a revista (além de ser vantajoso para conquistar anunciantes). Quando li isso, pensei que, se fosse eu no lugar de Mino, me sentiria frustado, pois estaria escrevendo apenas para os "ovelhas negras", "dissidentes" das famílias da elite branca brasileira, sem qualquer perspectiva de fazer da revista um veículo influente em levar informação de qualidade para a maioria dos brasileiros. Eu preferiria uma revista de qualidade, mas popular, barata, acessível também à classe C, pelo menos, e, quem dera, atingisse a todas as classes.

A verdade é que as redações, não só do PIG, mas também dos veículos ditos de esquerda, estão precisando de sangue novo, de incluir jornalistas que vivenciem a vida da maioria dos brasileiros, que conheça as argúrias do transporte público, saúde pública, educação, (in)segurança pública, emprego e trabalho, que leiam encartes de promoção de supermercado com o preço do feijão e do sabão em pó.

Redações onde convivem somente jornalistas de classe média alta ou ricos, que só almoçam e jantam com gente da elite, que só passam férias no exterior, que interpretam a realidade brasileira apenas com "sensibilidade social", ou como cientistas políticos que observam o povo à distância, como ratos de laboratório, sem "tomar o pulso" do cotidiano, não leva à frustação apenas Mino Carta. Frustam também seus leitores.

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