Presidente Dilma manda recado aos especuladores

Dilma também disse que as finanças públicas estão em dia e comparou a oposição a personagem de Camões que ficava às margens do Rio Tejo dizendo aos navegantes que a viagem deles não daria certo.

 A solenidade de ontem no Palácio do Planalto para o lançamento do Programa Minha Casa Melhor do governo federal disponibilizou R$ 18,7 bilhões para que os proprietários do Minha Casa, Minha Vida possam mobiliar a casa, Dilma também assegurou que as finanças públicas estão em dia e que a inflação está sob controle. "Não há a menor hipótese de que meu governo não se empenhe em controlar e combater a inflação", disse

O discurso enfático serviu ainda para a presidente responder àqueles que atribuíram aos aumentos nos índices da inflação à queda da popularidade de Dilma. Dilma  comparou essas pessoas ao personagem Velho do Restelo, imortalizado por Luís de Camões nos versos de Os Lusíadas. "O Velho do Restelo ficava às margens do Rio Tejo dizendo aos navegantes que a viagem deles não daria certo. O Velho do Restelo não terá a última palavra no Brasil", garantiu a presidente, em um recado indireto aos integrantes da oposição.

Dilma também ligou as críticas à inflação às especulações feitas no início do ano sobre a possibilidade de um racionamento de energia no país após alguns apagões provocados por fenômenos naturais. Dilma disse que, da mesma forma como o racionamento apareceu nos jornais, ele desapareceu porque era apenas uma especulação. "Esses movimentos especulativos fazem mal ao Brasil. Leviandade política é grave porque não afeta apenas as pessoas, afeta o país."

A presidente declarou ainda que muitos poderão achar que é um desperdício fazer o Minha Casa Melhor. "O que nós estamos fazendo é dar dignidade para as pessoas, para que elas possam ter um lar para cuidar de seus filhos", declarou Dilma. O  ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP), também discursou  no lançamento do Programa Minha Casa Melhor, ontem no Palácio do Planalto,

Ribeiro foi o primeiro a discursar. Antes de detalhar o programa, o ministro das Cidades afirmou que "para alguns, o certo é o Brasil incerto". Pouco depois, emendou: "O Brasil certo (para esse grupo) só poderia ser o Brasil desigual".

"Sujeito oculto"
No discurso seguinte, a empresária Luiza Trajano (Magazine Luisa) também fez declarações em que o sujeito oculto parecia ser a oposição. "A agenda negativa atrapalha todo mundo. Não só o governo, todos nós", disse ela, que é presidente da rede de lojas de eletrodomésticos Magazine Luiza e vice-presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).

Em conversa posterior, ela disse que  a solenidade de ontem  estava sendo pensado há oito meses, disse ela, que sempre está presente nos eventos do governo que envolvem recursos para as classes populares. "Examinamos experiências do México e do Canadá para que nada desse errado. Eu juro que, se tivesse alguma conotação eleitoral, eu não estaria aqui", declarou.

Cada vez mais, a presidente vai dedicar-se a medidas que tenham impacto na vida dos eleitores. Por conta dos protestos marcados pelo aumento das passagens no Rio — a exemplo de São Paulo, os reajustes foram negociados pelos governos estaduais e municipais com o governo federal — , o cerimonial do Planalto mudou de hoje para amanhã a visita que Dilma faria à favela da Rocinha. A presidente participará, na zona portuária do Rio, da assinatura da ordem de serviço para o início das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) do centro, promessa da prefeitura para 2016. E na favela da Rocinha, uma das comunidades pacificadas pelo governo estadual, fará o anúncio de investimentos em infraestrutura e equipamentos sociais. Foi mantido para hoje, em Brasília, um evento relacionado ao sistema integrado de comando e controle para segurança de grandes eventos — às vésperas da primeira partida da Copa das Confederações, reunindo Brasil e Japão, no sábado, em Brasília.

Inspiração em Camões

Um dos personagens criados por Luís de Camões no canto IV de Os Lusíadas, o Velho do Restelo era um antigo ancião, que ficava postado no Porto de Belém, criticando a partida das naus de Vasco da Gama rumo às Índias. Diz-se no livro que, em meio ao cais apinhado de familiares e amigos, destaca-se a figura do velho, com uma "voz pesada que se ouvia até os navios" e que considerava a aventura insana.

O Velho chama de vaidoso aqueles que, por cobiça ou ânsia de glória, por sua audácia ou coragem, se lançam às aventuras além-mar. Para ele, ao enfrentar sem necessidade perigos desconhecidos, os portugueses abandonavam os perigos urgentes de seu país, ainda ameaçado pelos mouros e no qual já se instalava a desorganização social que decorreu das grandes navegações. O personagem situa-se nos trechos de 90 a 104. 

Confira dois trechos:

"Mas um velho d"aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C"um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

— A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D"ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?"