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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Lula abre alas

Estacionado no Sambódromo de São Paulo, a poucos metros da passarela do Carnaval, o caminhão Mercedes-Benz carrega re­pi­ques, cuícas, surdos, pandeiros e tamborins. Enquanto os integrantes da escola de samba Tom Maior descarregam os instrumentos musicais para o primeiro grande ensaio do desfile 2011, nota-se que o veículo recebeu uma pintura curiosa. Foram desenhadas no para-choque dezenas de estrelas vermelhas parecidas com aquelas que viraram símbolo do Partido dos Trabalhadores. Pode ser coincidência, mas há outros sinais indicando que a política está presente no Carnaval da Tom Maior. Uma bandeira da Central Única dos Trabalhadores tremula ao sabor do vento, aqui e ali há gente caminhando com adereços sindicais (broches do Sindicato dos Químicos, faixas da CUT na cabeça, essas coisas que lembram passeatas) e um sujeito exibe orgulhoso uma camiseta com a inscrição "100% Lula". Se há alguma dúvida a respeito das intenções da escola, ela desaparece quando o samba começa a tocar. Versos como "sem medo de ser feliz" e "brilhou lá" são quase explícitos: eles são uma referência ao ex-presidente. O tema central da escola é a cidade de São Bernardo do Campo, polo industrial na Grande São Paulo onde Lula começou sua arrancada, mas isso é só um pano de fundo para o verdadeiro homenageado. Pela primeira vez Lula vai sair em uma escola de samba - e cada vez aumenta mais o cordão de amigos, companheiros, militantes, sindicalistas e puxa-sacos sedentos por aproveitar a chance de sair ao lado, ou pelo menos perto, do ex-presidente.

Lula não afirmou publicamente que vai desfilar no Carnaval paulista (e sua assessoria tampouco confirma isso), mas uma conversa testemunhada por várias pessoas colocou um ponto final nas especulações. "O Lula garantiu que está dentro", diz Frank Aguiar, cantor de forró e vice-prefeito de São Bernardo, que ouviu o sim durante a partida entre Corinthians e São Bernardo, no domingo 30. "A chance de ele não aparecer na Tom Maior é zero." Na semana passada, secretários da Prefeitura de São Bernardo e assessores petistas foram ao barracão da Tom Maior dar uma olhada na escola, como se quisessem saber de antemão em que terreno o ex-presidente vai pisar. "Eles viram tudo, perguntaram sobre as alegorias, prestaram atenção no carro do Lula", diz o carnavalesco e responsável pelo desfile da escola, Chico Spinoza, um admirador do tucano Fernando Henrique Cardoso e que anulou seu voto na última eleição presidencial (mas ele jura que o fato de não ser exatamente um admirador do PT não interferiu na sua criatividade). Os emissários de Lula descobriram que a escola é pequena e que sua chance de ganhar o Carnaval é quase a mesma que a possibilidade de um sindicalista da CUT ter samba no pé. "Quem se importa?", pergunta Aguiar, que tem nas costas a responsabilidade de fazer a comunicação entre a prefeitura e a escola de samba."No Carnaval, ganhar não é importante", afirma o cantor. "Bacana mesmo é a alegria."

Aguiar diz que deve receber nos próximos dias a lista de 30 amigos que Lula pretende convidar para o desfile. Eles vão sair no mesmo carro alegórico do presidente. O veículo tem três andares. No primeiro vai sambar a velha guarda da escola, com seus integrantes usando máscaras de Lula compradas de camelôs do Rio de Janeiro. No andar do meio ficarão os amigos - é neste espaço que a disputa por um lugar é encarniçada. "Sabe como é, estar ali é um sinal de prestígio", diz Ronaldo Tadeu de Paula, secretário-adjunto de Desenvolvimento e Turismo de São Bernardo e que auxilia Aguiar na organização da ala do presidente na passarela do samba. Lula já indicou alguns nomes que gostaria de ter ao seu lado no Sambódromo: José Eduardo Dutra, presidente do PT, Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, Eduardo Suplicy, senador pelo partido, e Vicentinho, deputado federal. "Cuidado ao publicar essa lista, vai causar uma ciumeira danada", diz Aguiar. Os amigos terão de usar uma fantasia de operário, com macacão vermelho e capacete na cabeça. "Uma coisa linda de se ver", diz o cantor de forró. No último andar do carro alegórico, que tem braços mecânicos que simulam a fabricação de um automóvel, estará o presidente e sua mulher, dona Marisa. "Eles não precisam usar fantasia", diz o carnavalesco Chico Spinoza. "O Lula pode vir até pelado."

Alguns petistas estão eufóricos com o desfile. "É claro que vou participar", diz o deputado Vicentinho. "O Lula é a nossa maior referência." O senador Eduardo Suplicy pretende ir, mas está confuso. "É bem provável que eu participe, mas preciso confirmar", diz. "Você sabe me dizer qual é mesmo o horário do desfile?" Sua ex-mulher Marta Suplicy, primeira vice-presidente do Senado, afirma que até a semana passada não tinha sido informada a respeito da folia petista. Ela, porém, não quer perder a oportunidade por nadinha neste mundo. "Não sei da homenagem", diz Marta. "Seu eu for convidada, ficarei honrada." Um dos antigos caciques do PT, José Dirceu é desfalque certo na avenida. "Já tenho compromisso para o Carnaval", afirma. "Mas a homenagem é mais do que justa." O vereador paulista Celso Jatene (PTB) é nome confirmado na apresentação da Tom Maior. "Sou sambista", diz. "Vou porque sempre gostei, está no meu sangue." É óbvio que Jatene não se incomoda nem um pouco de ver seu nome perto do do ex-presidente que bateu recordes de popularidade. "Sei da importância histórica de São Bernardo." Então está explicado.

A Tom Maior está fazendo um esforço danado para que o desfile não seja tão chato quanto um encontro sindical. Nas discussões de criação do samba-enredo, foram evitadas palavras como "socialismo", "burguesia" e "dialética" e expressões como "luta de classes", "povo unido" e "a luta continua", todas elas na ponta da língua dos militantes de esquerda. Mas a tentação é grande. A palavra "povo" aparece na letra do enredo ("num contexto, sabe, que tem uma justificativa", diz o carnavalesco Spinoza) e foi inescapável tascar no final do samba a desgastada "luta social." Algumas alas levam nomes que, sabe-se lá como, terão de empolgar a passarela, como Braços Cruzados e Berço Sindical. Na semana passada, circularam na internet comentários de gente que vai desfilar pela escola reclamando que o samba é fraco e que a letra "não pega". Não é difícil imaginar quão contagiante deve ser um Eduardo Suplicy fantasiado de operário, na ala da CUT, e gritando a plenos pulmões as glórias de São Bernardo.

Justiça seja feita, desfile de escola de samba é das coisas mais democráticas que existem, em que a luta de classes é um conceito sem sentido algum. Na terça-feira 1º, conviviam no mesmo espaço, a quadra da Tom Maior, patricinhas bem-nascidas e pobres de chinelo de dedo, jovens com smartphones e ritmistas que encaram os ensaios em troca de sanduíche de pão e presunto combinado com um copo de refrigerante. Nem tudo são confetes e serpentinas. A Tom Maior é uma agremiação pobre e está sofrendo o diabo para conseguir realizar um desfile decente. "A escola deve R$ 800 mil na praça", diz Marko Antonio da Silva, presidente da Tom Maior. "Não tenho a menor ideia de como vou fechar as contas." O desfile pode custar até R$ 2,5 milhões (depende do preço das plumas e paetês, pela hora da morte nesta época do ano) e o dinheiro repassado pela Rede Globo pelos direitos de transmissão e pela Prefeitura de São Paulo cobre menos da metade das despesas.

O presidente Marko Silva, que se declara um tucano revoltado ("não votei no Serra porque ele não gosta de Carnaval", diz), admite que decidiu homenagear São Bernardo porque pensou que, como o município é um centro industrial, não seria difícil obter dinheiro de grandes patrocinadores. "Mas a Volks e a Mercedes, que têm suas sedes na cidade, nem sequer responderam ao nosso pedido de apoio", diz. Ele também imaginou que, tratando-se de uma homenagem a uma prefeitura rica, os recursos seriam abundantes. "Não pudemos ajudar em nada", diz o vice-prefeito, Frank Aguiar. "Nosso Orçamento já estava comprometido e o máximo que fiz foi acionar alguns amigos, solicitando pequenas contribuições." O presidente da Tom Maior ainda vai fazer uma última tentativa junto ao diretório central do PT. Na escola, a diretoria acha que, com a confirmação da presença de Lula, aumentam as chances de o dinheiro finalmente aparecer. "O ex-presidente não vai querer fazer feio na avenida", diz Zito Sérgio Camargo, 59 anos, integrante da velha guarda e primeiro mestre-sala a desfilar pela Tom Maior, em 1974.

Parte do dinheiro das escolas de samba vem da venda de fantasias. Os amigos de Lula terão que desembolsar R$ 550 para vestir o macacão de operário. Os sindicalistas que desejarem exibir seus dotes carnavalescos na ala Braços Cruzados terão que pagar R$ 300 por uma roupa que traz na frente duas mãos entrelaçadas. "Eu ganhei a minha fantasia do sindicato dos químicos", diz Geraldo de Souza Guimarães, funcionário da gigante alemã Bayer, que vai desfilar pela primeira vez na vida. Por que ele recebeu o presente? "É que o sindicato está com Lula", diz Guimarães. Na escola, ninguém reclama de usar camisetas com referências elogiosas ao ex-presidente e os ritmistas estão ensaiando, até os braços cansarem, um dos momentos considerados chaves do desfile da Tom Maior: num dos breques do samba, alguns integrantes da bateria erguem uma estrela para o céu. Seria um reverência ao homenageado da noite? Na escola, todos sabem a resposta: é claro que sim. Olha o Lula aí, gente. IstoÉ

6 Comentários:

Arlete disse...

Nossa!!! Será lindo demais!!!!Pena que só poderei assistir pela TV, mas assistir Lula sempre vale a pena.

Silvio - Sampa disse...

Caramba, não posso perder este desfile, há tanto tempo que não assisto, tinha perdido o hábito. Para ver meu ESTADISTA GLOBAL eu assistiria mesmo que estivesse morando no Alaska. Aliás, pelo pouco que tenho visto TV não vejo pela globo as chamadas nos intervalos da Tom Maior... Será que a direção da emissora vai chamar william waak e míriam leitão para cobrir o Carnaval de Sampa? kkkkkkkkkk

Graça Veiga disse...

QUE MARAVILHA!!!Lula, só vc mesmo.
E o jornaleco ogrobo hoje, querendo fazer fofoquinhas entre Dilma e Lula??
O PIG, não tem desconfiometro mesmo! Coitados.

X-MAN disse...

Sempre achei que carnaval e politica não devem se misturar. O do topete que o diga. O PT continua dormindo e deixando deitarem e rolarem pra cima do governo passado, a trolha não passa um dia sem pore uma machete negativa, parece que é um trauma que não conseguem superar, o PT erra em não usar os mesmos rrecursos que o inimigo, um batalhão de comentaristas pra não deixarem os penas de aluguel falando sozinhos, mas fazer o que? O PT é isso, acomodadão no governo e letargia na oposição. Depois que não reclamem que é culpa do pig.

ROBERTO MACHADO disse...

ATENTADO CONTRA OS DIREITOS HUMANOS, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE...EM PLENO REGIME DEMOCRÁTICO.

Perseguido por combater e denunciar corrupção, licitações fraudulentas, gastos excessivos, nepotismo, falsidade ideológica em documentos públicos, transporte de material radioativo contrariando leis e normas de segurança, entre tantas outras irregularidades ocorridas na administração das Indústrias Nucleares do Brasil-INB(ex-Nuclebrás), ter participado de greves em plena ditadura militar e dos movimentos pela redemocratização do país, inclusive sendo interrogado no famigerado SNI-Serviço Nacional de Informações, Roberto Machado obteve a anistia política concedida pela Comissão de Anistia, portaria nº 1942 do Ministério da Justiça(sem indenização), e por decisão do Poder Judiciário finalizada no Supremo Tribunal Federal com base nos princípios de moralidade, impessoalidade e publicidade(art.37 da Constituição Federal).

Reintegrado à empresa no ínicio do governo FHC por força de mandado judicial, foi recebido e tratado como delinquente pela direção da empresa contraria ao seu retorno(represália a sua atuação contra os ilicitos e mal feitos práticados durante o governo de excessão), enfrentou discriminação e constrangimentos, sendo impedido de exercer qualquer atividade e tendo restrições no acesso as dependências da administração da empresa. Fatos encaminhados ao presidente Fernando Henrique Cardoso e não apurados pelo então ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira sob alegação de ser o servidor "criador de caso", quando na realidade essa opinião descabida e desrespeitosa era proteger o amigo e presidente da empresa Roberto Nogueira da Franca, responsável pelas práticas fascistas cometidos contra Machado que infringiam os direitos humanos. Fatos comprovados com farta documentação e depoimentos de servidores da INB, que constam no processo 01662-1998.071.01.00.0 da Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro.

Porém o que culminou com a série de represálias e motivou a montagem da farsa com justificativas desonestas para desmoralizar o Machado, é ele ser signatário do processo 960013879-6, contestando a "transação" de urânio brasileiro no valor de 62 milhões de dólares conduzida e efetivada sem nenhuma garantia por Roberto Nogueira da Franca entre a INB e a fálida empresa estrangeira Nuexco, ação tramitando há mais de 15 anos na 15ª VFRJ, que sem solução continua acumulando prejuízos aos cofres públicos(contratação de advogados no Brasil e Exterior, constantes viagens internacionais de dirigentes, diárias em eurodólares).

"Banido" pelo regime democrático(FHC) e impedido de exercer legalmente suas atividades profissionais pela vontade do "poder corrupto", inclusive desrespeitando e interferindo em decisões da Justiça do Trabalho, processos 01713-1989.026.01.00.0 e 00255-1998.059.01.00.3, Machado viu-se obrigado a ingressar no mercado informal de trabalho, onde ainda atua.

NOTA:
Roberto Machado, tem 67 anos, administrador, nasceu numa comunidade do bairro do Estácio de Sá, Município do Rio de Janeiro, cresceu entre mocinhos e rebeldes, com 14 anos trabalhava na Indústria de Elevadores Schindler e a noite estudava no Colégio Estadual Pedro Varela, participou da Juventude Operária Católica-JOC, resistência do Calabouço em 1968(onde cursava o Instituto Cooperativo de Ensino), movimentos contra a ditadura, redemocratização, anistia, diretas já, impeachment do presidente Collor e ficha-limpa. Atualmente é ativista dos movimentos de combate a corrupção e moralização da administração pública.

ROBERTO MACHADO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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