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A polícia acredita que os R$ 2,4 milhões que saíram da conta da Alstom foram usados para comprar dólares, que teriam sido usados para pagar propina a políticos ou a funcionários públicos. Os depósitos foram feitos em 2003. De acordo com essa versão, a Mutual seria a simulação de um negócio cuja conta bancária seria movimentada por doleiros.
Empresas que foram citadas na CPI dos Correios também fizeram depósitos na conta da Mutual. Entre outras, estão a DNA Propaganda, agência de Marcos Valério, e a corretora Bônus Banval
A Alstom diz que o dinheiro depositado na conta da Mutual foi a comissão paga a um corretor pela venda de debêntures e títulos da Cesp (Companhia Energética de São Paulo). Foi o corretor, de acordo com a Alstom, que indicou que a comissão deveria ser depositada na conta da Mutual
Debênture é um título que empresas do tipo sociedade anônima colocam no mercado, como se fosse um empréstimo que elas prometem pagar a médio ou longo prazo.A Alstom está sob investigação no Brasil, na Suíça e na França sob suspeita de pagar comissões ilegais a políticos para obter contratos públicos. Em São Paulo, contratos da empresa com a Eletropaulo e o Metrô são investigados pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Federal.
O Ministério Público da Suíça congelou as contas de dois brasileiros suspeitos de receberem propina da empresa: o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Robson Marinho e o engenheiro Jorge Fagali Neto, irmão do presidente do Metrô. Os dois negam ter conta fora do Brasil.
Comissão suspeita
O depósito na conta de uma empresa-fantasma não é o único ponto suspeito no negócio, na visão da polícia. O valor da comissão também é considerado fora dos padrões de mercado, segundo um relatório da Polícia Civil.
A Alstom vendeu em 2003 cinco debêntures da Cesp no valor total de R$ 18.529.115. A comissão total paga foi de R$ 2.392.736, o equivalente a 13% do valor dos títulos.Esse percentual é completamente fora das normas de mercado, de acordo com um dos relatórios da polícia. O Sistema Nacional de Debêntures, citado no texto da polícia, estabelece como norma que as comissões não devem superar 1,5%.
Se esse percentual fosse aplicado à venda feita pela Alstom, a comissão deveria ser de R$ 277,9 mil -ou R$ 2,1 milhões a menos do que o valor pago.A documentação sobre a Mutual foi encontrada pela polícia em investigação sobre uma corretora de câmbio suspeita de trabalhar para doleiros.
Método clássico
A simulação de um negócio é uma forma clássica para o pagamento de comissões ilícitas. O empresário Romeu Pinto Jr., que representava uma empresa suspeita de repassar recursos da Alstom para políticos, disse ao promotor Silvio Marques e ao procurador Rodrigo de Grandis que recebeu pouco mais de US$ 1 milhão da Alstom entre 1998 e 2002 sem nunca ter prestado as consultorias para as quais fora contratado. Os contratos de consultoria, de acordo com ele, eram um disfarce para o pagamento de comissões ilegais.
Promotores da Suíça também dizem ter identificados casos de contratos de consultoria que serviam de biombo para o pagamento de propina.Folha
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