Marta x Kassab parte 3: A derrota POLÍTICA de Marta e do PT foi não saber fazer oposição ao longo de 4 anos

Em 2005, quando Serra sucedeu Marta, ele começou a desconstruir a imagem do governo de Marta, fabricando acusações sobre deixar a prefeitura quebrada, suspendeu pagamentos à fornecedores sem necessidade, paralisou obras que não estavam paradas. Foram atos políticos calculados, para demarcar a gestão anterior como se fosse fracassada.

O PT de Marta deveria ter feito o que Lula espertamente já diz que vai fazer em 2010: registrar em cartório tudo o que fez, o quê e como deixou encaminhado.

Marta e o PT deveriam ter sistematicamente desmentido Serra ao longo do tempo, mostrando os balanços, o fluxo de caixa da prefeitura, o cronograma de obras e desembolsos no fim do governo, comparando os repasses dos governos federais e estaduais que Marta e Serra-Kassab tiveram, mostrando a vantagem que a dupla demo-tucana teve com a melhora da economia e o próprio aumento da eficiência da Receita Federal e efeito moralizador das operações da PF. Antes da Daslu ser pega sonegando impostos federais, nem o IPTU Serra-Kassab cobrava de seu gigantesco prédio luxuoso.

Se o PT tivesse feito isso ao longo destes 4 anos, não chegaria em 2008 tendo que explicar e responder acusações falsas de Kassab, dizendo que Marta teria deixado a prefeitura "quebrada". A campanha de Kassab passaria por mentirosa, essa mentira não "pegaria" como pegou.

Também tinha que ter feito o dever de casa e fazer um dossiê público, explicando tudo sobre as taxas: mostrar o real significado das taxas cobradas no governo Marta, e os valores aumentados no IPTU por Serra e Kassab para compensar a extinção demagógica delas.
Marta e o PT tinham que ter explicado durante esses 4 anos, neste dossiê, como recebeu a prefeitura de Pitta-Kassab, de novo mostrando os balanços, as dívidas, o fluxo de caixa, o rombo deixado nas contas mensais da prefeitura, justificando as taxas que fossem justificáveis, e até fazendo o mea-culpa se houve algum excesso. Também precisava explicar com muita clareza as pessoas que tiveram o IPTU reduzido e outras que ficaram isentas, com a implantação da progressividade.
Deveria haver no dossiê exemplos por bairros (sobretudo da classe C), de casos onde o IPTU + taxas subiu, onde diminuiu e onde ficou isento. E comparar esses exemplos com os valores pagos em 2004 e em 2008.
Por fim fazer um desafio: sugerir ao paulistano comparar quanto cada um pagou de IPTU + Taxas em 2004 e quanto pagou em 2007/2008. E comparar com a inflação no período.

Faltou também mostrar mais a diferença dos CEUs do Kassab e dos CEUs de Marta. Os de Marta eram centros educacionais no horário escolar, e funcionavam como centros culturais e esportivos nos fins de semana, com diversas atividades de lazer, como cinema, vídeo, teatro, jogos esportivos, etc.

Kassab fechou CEUs nos fins de semana. Então as políticas continuístas de Kassab tem cortes sociais, e isso precisava ficar bem claro para diferenciar as políticas de um e de outro. Kassab reduziu o vai e volta (transporte de alunos de outras escolas para fazer atividades culturais e esportivas nos CEUs). Também fechou bibliotecas por pouca frequência, mas bastava equipá-las melhor que a frequência aumentaria.

E faltou fazer a oposição do dia a dia. O PT tinha minoria na câmara dos vereadores, mas toda minoria precisa ser barulhenta, não pode ser silenciosa, nem acomodada, senão passa em branco. Precisa marcar sob pressão, fazer ofícios exigindo informações das secretarias, fiscalizar contas, entrar com liminares contra falcatruas em licitações, atuar junto ao Ministério Público contra desvios do orçamento, ver se a prefeitura também fez contratos com ALSTOM e outras empresas suspeitas, combater aumentos de tarifas injustos, fazer campanha contra gastos da prefeitura com publicidade apenas de cunho eleitoreiro ou de remuneração ao PIG por notícias favoráveis, contra gastos com fornecedores associados ao DEMos sem licitação, fiscalizar as obras que racharam e que caíram e apurar responsabilidade da prefeitura, deveria ter exigido a renúncia do secretário de saúde por ter vacinado contra a febre amarela à toa, fiscalizar o KASSABcard que ninguém se mexeu, apesar de haver R$ 67 milhões de despesas sem transparência em 2007, protestar contra enchentes, contra os engarrafamentos, exigir um portal da transparência na prefeitura tão detalhado como o do governo federal, fiscalizar o que faz de inútil a secretaria de desburocratização e quanto custa, etc, etc, etc.

Não posso afirmar com certeza, mas dizem que o PT paulistano anda meio afastado das bases, e a falta de construir diálogos políticos permanentes não engaja o cidadão nos projetos políticos.

Os vereadores poderiam fazer um tipo de emenda orçamentária participativa por conta própria, reunindo as comunidades onde tem base eleitoral. Serem mais pró-ativos nos programas federais que chegam ao cidadão.

Por fim há pouco esclarecimento pelos vereadores e deputados junto à suas bases sobre os programas federais. Há projetos de habitação e saneamento do PAC, que são com recursos da CEF. Foi o governo federal de Lula que viabilizou esses créditos que estavam parados no governo de FHC, e quem acaba levando a fama é o prefeito.

Nos próximos 4 anos, se não fizerem boa parte do trabalho de oposição, vai continuar no mesmo caminho das derrotas eleitorais em São Paulo.

Vale para câmara de vereadores paulistana contra Kassab e vale para a Assembléia Legislativa paulista contra Serra.