Dois empresários beneficiados por uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que considerou excessivas escutas telefônicas de dois anos, são acusados de cometer 245 crimes, já foram condenados a 49 e 45 anos de prisão e fugiram para o Uruguai quando estavam presos num hospital, segundo o Ministério Público Federal do Paraná. O STJ anulou as provas contra os uruguaios Isidoro Rozenblum Trosman (45 anos de prisão) e Rolando Rozenblum Elpern (49 anos) por entender que a privacidade dos dois foi devassada por uma escuta que durou quase dois anos.
No processo anulado, Trosman e Elpern haviam sido condenados por corrupção ativa. Eles deram dinheiro a dois auditores da Receita Federal para que eles fizessem vista grossa ao descobrirem uma sonegação de R$ 60 milhões.
Por esse crime, foram condenados a 22 anos e 17 anos pelo Tribunal Regional Federal de Porto Alegre. Essas penas foram anuladas pelo STJ. Na época da escuta, em 2004, os dois eram proprietários da fábrica de motos e bicicletas Sundown, vendida por eles depois. Também foram condenados por enviar ilegalmente para o exterior R$ 21 milhões.
Os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martello Jr., que atuaram na investigação, criticaram duramente a decisão do STJ em manifesto que divulgaram ontem.
"Aqui na base da pirâmide ninguém está brincando de super-herói ou está querendo olhar a vida alheia pelo buraco da fechadura. Não existe qualquer notícia do uso indevido do conteúdo dos diálogos monitorados", afirma o texto. Segundo eles, a escuta por quase dois anos foi uma necessidade da apuração. "Se os crimes se repetiram às dezenas, engendrando a necessidade de perpetuação dos monitoramentos, a responsabilidade por isso não é do Estado, mas sim dos investigados".
"Esse pessoal do STJ não entende nada de investigação", disse Martello Jr. sobre o voto do ministro Nilson Laje, no qual ele diz que o monitoramento é autorizado por 15 dias, prorrogáveis por mais 15. "Em 30 dias, você mal consegue levantar a rede de relacionamentos do investigado".
Dallagnol diz que uma de suas frases prediletas é do filósofo alemão Hegel (1770-1831)-"a verdade é o todo". "Não dá para investigar crimes minimamente complexos com escutas de 30 dias. Para você entender o sentido, você tem de entender o contexto". Procurado pela Folha, o ministro não quis comentar as declarações dos procuradores.
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