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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Vende-se

O governador José Serra quer mais dinheiro e vai encontrar com a transferência do controle acionário da Nossa Caixa ao Banco do Brasil (BB) anunciada, quarta-feira última, a abertura das negociações . Além do eventual dinheiro da transferência do controle da Nossa Caixa, Serra em junho também assinará acordos de financiamento com organismos internacionais como BID, Banco Mundial e JBIC (banco japonês para cooperação internacional).

O Banco do Brasil (BB) poderá desembolsar aproximadamente R$ 10 bilhões pela aquisição da totalidade das ações da Nossa Caixa se vingarem as "tratativas" de incorporação iniciadas e anunciadas oficialmente pelas instituições na noite da última quarta-feira - e que pegou o mercado de surpresa - e se o BB estender a possível oferta de compra a todos os acionistas. O Estado de São Paulo, que detém o controle do banco com 71,25% do total das ações, ficaria com a maior parte do bolo, ou perto de R$ 7,13 bilhões. O restante dos papéis está no mercado.
O valor é baseado nas estimativas da agência classificadora de risco Austin Rating. Conforme o presidente da empresa, Eriberto Rodrigues, a precificação de um negócio desse porte gira em média de 3 vezes a 3,5 vezes o valor do patrimônio líquido. A Nossa Caixa encerrou o primeiro trimestre deste ano com um patrimônio líquido de R$ 2,9 bilhões, 7% a mais em comparação ao registrado no mesmo período de 2007.

O Banco do Brasil evita falar em valores e prazos e informa que tudo ainda está em fase inicial de estudos. Mas estima-se que o prazo se estenderá por até dois meses para a fase de avaliação das condições da Nossa Caixa e formatação de preço e mais uns quatro, cinco meses para a autorização do Banco Central. Entretanto, desde o ano passado o BB entrou em negociações para comprar outros três bancos estaduais, e de menor porte (Banco do Estado de Santa Catarina, Banco do Estado do Piauí e Banco de Brasília), ainda não concluídas.

A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo também teria de aprovar a venda da Nossa Caixa, se concretizada, o que deverá ocorrer, já que dificilmente a base parlamentar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva faria oposição ao negócio que, segundo especulações de mercado, foi alinhavado diretamente entre o presidente Lula e o governador José Serra, de São Paulo. Um dia antes do anúncio da intenção de o BB adquirir a Nossa Caixa, os dois estiveram, inclusive, reunidos em São Paulo.

A Assembléia também não se oporia porque a Nossa Caixa, passando para as mãos do BB, não mudaria sua condição de banco público. A assessoria de imprensa do Palácio Bandeirantes, sede do governo paulista, informou que Serra não se pronunciaria sobre o negócio.

Apesar de o BB ter definido a estratégia de crescer por meio da aquisição de bancos públicos, para fazer frente a concorrência cada vez mais acirrada das principais instituições privadas do País - Bradesco, Itaú, Santander e ABN Amro -, que também estão indo às compras para acelerar o crescimento, o mercado não esperava que a Nossa Caixa seria o seu próximo alvo. "Soa estranho o governo querer se desfazer de um ativo assim, lucrativo e eficiente como é a Nossa Caixa e com planos de expansão", observa Rodrigues. Fontes do mercado avaliam que o negócio pode ser moeda de troca por conta do objetivo do governo estadual de privatizar a Cesp, que esbarra na necessidade de liberações em âmbito federal que poderiam inviabilizar o plano, se não ocorrerem.

Consolidação

Contornando o cenário político, a aquisição seria benéfica para o BB, que consolida sua liderança, ganha espaço no estado mais rico do País e coloca uma larga margem de vantagem sobre os concorrentes privados que crescem aceleradamente e ameaçam sua posição. Em dados do primeiro trimestre, o BB fechou março com ativos totais de R$ 392,58 bilhões, evolução de 22% em um ano. Já os ativos totais da Nossa Caixa somaram R$ 51,4 bilhões em março, alta de 19,9%. Juntos, têm ativos de R$ 443,98 bilhões. Os ativos totais do Bradesco foram a R$ 355,51 bilhões ao final de março, crescimento de 26,1%. Itaú somou R$ 327,62 bilhões, alta de 27,1%.

O gerente de relações com investidores do BB, Marco Geovanne Tobias, afirma que a transação vai ao encontro da estratégia do banco de se posicionar melhor no Estado de São Paulo, fortalecendo sua presença no mercado com uma estrutura maior. "Hoje, Bradesco, Itaú e Santander são as grandes forças no Estado", diz. Em São Paulo, atualmente o BB tem 682 agências e a Nossa Caixa, 552 - o que daria um total de 1.234 com a concretização do negócio e garantiria à instituição a dianteira no ranking. Hoje, o Bradesco tem 1.022 e Itaú tem 814 agências.

Na Região Metropolitana de São Paulo, no entanto, o BB ainda ficaria na segunda posição em número de agências, quando somada a sua estrutura com a da Nossa Caixa, de 442 pontos-de-venda. O Bradesco tem hoje 551 agências na região e o Itaú, 510.

Rodrigues, da Austin Rating, cita ainda como atrativos para o BB a folha de pagamento dos funcionários públicos do Estado - cerca de 800 mil pessoas - e os depósitos judiciais, que formam uma "espécie de funding a custo baixo" para a Nossa Caixa, que calcula em torno de R$ 10 bilhões. A folha foi comprada pelo banco paulista em 2007, por R$ 2,084 bilhões, e ainda resta R$ 1,6 bilhão de amortizações. "A Nossa Caixa tem uma atuação complementar à do banco do Brasil", afirma Rodrigues, ressaltando que o banco ganhará escala, principalmente, diante do crescimento previsto para os concorrentes. "Eles estão comprando e com certeza estão olhando novas oportunidades.

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