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sábado, 22 de março de 2008

O manto inconsútil, o ágape, a pornéia, CFT

O prefeito do Rio de Janeiro César Maia tem uma obsessão. Juntar dinheiro. Fazer caixa. Dispõe de recursos para atacar problemas cruciais da cidade, mas já adiantou que vai deixar mais de um bilhão em caixa para seu sucessor.

O município do Rio de Janeiro vive uma epidemia de dengue, mais de dois mil casos, cerca de 40 mortes e o quadro se espalha por todo o Estado. O que é preciso entender é que a saúde no Brasil é municipalizada. União e governos estaduais repassam verbas aos governos dos municípios e, em tese, controlam a aplicação, já que existem dispositivos constitucionais determinando um percentual nos orçamentos a serem aplicados na saúde.

Há um caso de dengue no Rio a cada 42 segundos. Quando Iury Gagarin foi ao espaço o Rio vivia a época dos lotações ou microônibus e eram comuns as críticas da imprensa ao excesso de velocidade desses veículos provocando acidentes em média acima do normal. O extraordinário Carlos Estêvão desenhou para a revista O CRUZEIRO o que hoje se chama de tirinha onde a personagem tenta atravessar a rua em meio ao caos do tráfego e ali os lotações aparecem como se fossem bólidos assassinos, enquanto comenta com seu companheiro algo como a coragem de se “andar no espaço”.


Sobreviver em meio ao caos e a desordem não.



Um petroleiro da plataforma P-18 da PETROBRAS, na área de Campos, escreveu uma carta ao jornalista/cafetão Pedro Bial. Declara-se assustado e indignado quando numa noite viu Bial chamar os integrantes do bordel BBB-8 de “nossos heróis”. Relata em rápidas palavras o trabalho nas plataformas da PETROBRAS, os riscos e fala da morte de companheiros.



Pornéia é uma expressão de origem grega que quer dizer “depravação de costumes, libidinagem, devassidão” (Houaiss). Não tem necessariamente que significar a clássica pornografia. Essa é inofensiva perto da GLOBO e da sociedade de espetáculo montada pela mídia em troca da alienação e submissão do exército de formigas e Homer Simpson plantados à frente da tevê decidindo quem vai ser jogado ou não aos leões.



Quem vai ou não ser encaçapado.



Os leões hoje são outros. São as páginas de CARAS e revistas que tais. Nos escalões inferiores esses leões se reproduzem no efeito cascata da mediocridade vendida todos os dias nos “negócios” do “um dia eu viro vereador”. Nem que seja vendendo terreno dos outros pela metade do preço para o “meu cunhado” e transformando em suntuosidade um pressuposto hotel, nos estranhos negócios do mundo e submundo das pornéias em meio a ágapes “cristãos” –natalinos e de páscoa-, com direito a luzes em profusão.



Ágape é outra expressão que de um modo geral é entendida como sendo um grande jantar, pode até ser um grande almoço, onde se destacam as virtudes do chefe e a presença do que chamam de “tout le grand monde”. Vem a ser banqueiros, grandes empresários, latifundiários, um outro acólito de um dos poderes ditos constituídos, via de regra como recompensa por serviços prestados (tipo a liminar dada à república da VALE por um juiz do Rio).



Na antiguidade vinha a ser “refeição em comum celebrada entre os primeiros cristãos. Um dos nomes da Eucaristia. Esmola entre os primeiros cristãos. Poét Íntima relação entre duas almas” (Micaellis).



Ou “festa dos primitivos cristãos que consistia de uma refeição comum com a qual era celebrado o rito eucarístico [Além de propiciar a mistura de pobres e ricos, seu ritual incentivava o beijo da paz; com o tempo entretanto acabou degenerando e proibida pela cristandade.]” (Houaiss).



Bento VXI está preocupado com as pessoas que tomam cerveja enquanto viajam e atiram as latas pelas janelas dos seus automóveis. Sujam as estradas e provocam acidentes.



Simbólico. Sujam as estradas. Tanto podem ser aquelas imensas rodovias, como podem ser aqueles fétidos elevadores que levam a fétidos e imensos salões de jogos variados (jogos da vida ou mesas de sinuca, tanto faz). Importante é depois assentar e dividir o prato não importam as porcarias ingeridas ou ditas. Importa o ágape do chamado mundo real perdido quando as roseiras murcharam.



Que pena.



O manto de Cristo é chamado de inconsútil. O que não é tecido, uma peça inteira. Corpo e alma. Os antigos cristãos atribuíam-lhe a singeleza e humildade do que chamavam de “mestre”. Um contraste com a pornéia ampla, geral e irrestrita que globalitariza o mundo e transforma seres de carne e osso em peças de uma engrenagem sórdida.



Ou com os ágapes apressados e com minutos contados para o cumprimento do dever.



Preencha as listas de presença, organize os eventos, tire as fotos que serão montadas de forma sórdida, tente ser um alguém em meio à podridão e depois olhe no espelho, veja o vazio, o imenso vazio do mundo “real”.



Não adianta desesperar ou fingir que venceu. Venceu não. Só fugiu.



E cuidado, não jogue latas de cerveja nas estradas, você pode causar acidentes trágicos, mesmo que não beba cerveja, mas apenas água e às vezes lave a serpentina com uma tônica.



Se puder dê uma olhada no céu quando estiver estrelado. Vai estar lá a constelação CFT. Viajando louca e sensatamente pelo espaço sideral num universo inconsútil onde o ser tem a dimensão de gente.



Porque a vida, essa, é tecida dia a dia e o manto pode ser uma rosa, ou só um monte de espinhos que vão sendo guardados na alma até o dia que as veias explodem. Não jogam latas de cerveja na estrada, mas pedaços de gente para a grande dor do vazio que foi tecido.



César Maia é pornéia. CFT não.

Laerte Braga

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