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terça-feira, 18 de março de 2008

Para tucanos, aliança com PT avança em BH


Apesar da resistência da burocracia partidária, o acordo entre PT e PSDB para a disputa da prefeitura de Belo Horizonte caminha para ser fechado no final do mês, independentemente da decisão a ser tomada pelo Diretório Nacional sobre a política nacional de alianças petista, no dia 24. O entendimento entre o governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel, ganha espaço entre expoentes do Partido dos Trabalhadores e conta com o que de fato importa, o apoio de uma desconcertante (pela extensão) maioria da população da capital dos mineiros.

O acordo mineiro tem como pano de fundo a candidatura a presidente de Aécio Neves. O prefeito Pimentel é o primeiro a reconhecer: "Minas está unificada em torno dessa idéia de fazer o presidente da República", diz. Mas é certo também que uma particularidade local, o alto índice de aprovação das duas gestões ao final de dois mandatos, os impulsiona na direção um do outro. Pesquisa recente de um instituto nacional registra que Aécio conta com aprovação de 89% da população de Belo Horizonte; Pimentel tem 84%.

A mesma pesquisa revela que 63% dos eleitores que aprovavam a gestão de Aécio acham que o governador está corretíssimo em apoiar um candidato de comum acordo com o prefeito Pimentel. Já entre os que aprovam a administração de Pimentel em beagá esse percentual chega a 67%. Na soma, 98% acham que os dois estão certos em procurar uma saída de comum acordo para a prefeitura de Belo Horizonte.

"Para a prefeitura, nós ganhamos a eleição com o Aécio, contra ele, não", avalia Pimentel. Pragmático, o prefeito questiona: "Por que vamos colocar em risco uma posição por algo que não tem nenhum ganho para nós"? Pimentel acha que tucanos e petistas brigam há tanto tempo que até se esqueceram por quê. Avalia que tucanos e petistas precisam abrir os olhos para um fato: "O Brasil está construindo uma agenda de longo prazo, não somos nós, mas a sociedade", argumenta.

O primeiro ciclo dessa agenda foi cumprido, segundo Pimentel, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, que deixou um legado: "O equilíbrio econômico com responsabilidade fiscal. Não tem jeito de tirar mais isso da agenda", diz o prefeito, num reconhecimento público de FHC de deixar muito petista de cabelos em pé. "

Já os anos de governo Lula, afirma o prefeito de Belo Horizonte, não só não mudaram a política econômica como "incorporaram um novo conjunto de políticas cujo núcleo é o crescimento com distribuição de renda". O terceiro ciclo, acredita, será a qualidade dos serviços públicos, mas, por enquanto, o que é visível para Fernando Pimentel é que nem o PT pode dispensar o legado da responsabilidade fiscal, nem o PSDB a política de crescimento com distribuição de renda.

Acordo PT e PSDB enfraquece Serra

A briga, portanto, é uma coisa de São Paulo porque "os dois partidos são paulistas. Violentamente paulistas". É esse lógica que Pimentel e Aécio querem quebrar nesta eleição.

Os números das pesquisas feitas em Belo Horizonte talvez sejam o maior trunfo do prefeito Pimentel para minar as resistências do PT, especialmente de São Paulo, muito embora mesmo em Minas Gerais petistas de calibre ainda se oponham ao acordo com os tucanos, como é o caso dos ministros Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência da República, e Patrus Ananias, do Desenvolvimento e Assistência Social. Em São Paulo, o ideólogo contra a aproximação com os tucanos é Rui Falcão, um político da confiança da ministra Marta Suplicy (Turismo) e candidata a prefeita da cidade em outubro. O senador Aloizio Mercadante entrou no circuito em defesa da posição de Pimentel.

O prefeito de Belo Horizonte não foi tão longe sem antes assegurar a retaguarda. O namoro com Aécio tem algum tempo, mas só em janeiro último Pimentel formalizou o problema para o Presidente Lula, em reunião em Brasília da qual participaram também Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente, e os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Franklin Martins, que é o encarregado da comunicação de governo, mas cada vez mais ouvido em questões políticas.

Pimentel foi objetivo: se Lula se opusesse ao que o prefeito fazia em Belo Horizonte, ele paralisaria as conversações com Aécio Neves. Gilberto Carvalho, que é a ponta de lança do PT no Palácio do Planalto, se manifestou contrário à coligação tucano-petista. Franklin ficou neutro, limitando-se a chamar a atenção para a importância da realidade local. Dilma Rousseff, cujo futuro político pode vir a sofrer influência do acordo de Minas, disse que poderia ser bom, mas foi cautelosa.

Na avaliação ao presidente, o acordo não atrapalharia, ou melhor que isso, poderia até ser bom. Resumo da ópera, para quem conhece ou aprendeu com o tempo a entender o que se passa na alma de Lula: quando nada, o acordo entre Aécio e Pimentel enfraquece a candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à sua sucessão; quando muito pode talvez até ganhar desdobramentos na eleição presidencial. Aécio-Dilma é um exemplo de chapa que não é desconsiderada nas especulações palacianas. Tem até governador que trabalha por essa combinação.

Nos bastidores, há um trabalho para que o Diretório Nacional delibere uma política de alianças que possa acomodar o acordo mineiro. Não está sendo fácil, mas a cúpula petista também tem dificuldades para barrar o entendimento feito por Aécio e Pimentel. Como o Diretório Nacional poderá vetar uma chapa do PSB (partido aliado do presidente Lula) a prefeito, tendo como vice-candidato um nome do PT? "Será ridículo proibir o PSB de coligar com o PSDB", diz Pimentel. No mínimo, será uma novidade no PT, que sairá com um candidato a prefeito de uma das maiores capitais do país sem prévia, como é da tradição partidária, e contra o pensamento dominante na cúpula petista. Como já se espera, aliás, que vá ocorrer na escolha do candidato tucano a presidente na eleição de 2010.

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