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domingo, 17 de junho de 2007

Recordar é viver


O PSDB, que passou a campanha de 2006 escondendo Fernando Henrique Cardoso, usará o programa no horário de rádio e TV, neste mês, para defender a herança de seu período no Planalto. Na base da guinada está uma pesquisa feita pela MCI, do sociólogo Antonio Lavareda, segundo a qual a população atribui a Lula nada menos que a paternidade da moeda estável, além de associar ao petista programas sociais criados na era tucana, como o vale-gás.A propaganda vai dizer que, antes de FHC, o salário "não dava até o fim do mês", creditar a ele a expansão da telefonia celular e sustentar que o Bolsa-Família é obra da gestão anterior que Lula "apenas" rebatizou.

Agora, vamos ver o que diz a realidade
Isto é num. 1963
13/6/2007
Reportagem de: Adriana Nicacio

Valorização do real eleva o ganho dos mais pobres e faz com que o Presidente Lula consiga cumprir uma promessa de campanha

Por duas décadas, o salário mínimo de US$ 100 fez parte do imaginário dos sindicalistas. Essa meta era tida como a única capaz de manter o poder de compra dos trabalhadores, em tempos de inflação galopante. Sabia-se que tão logo fossem alcançados os US$ 100, o novo marco seria de US$ 200, e assim por diante. Pois bem, chegou a hora de se perseguir outro valor, porque desde 1º de junho, quando o dólar bateu em R$ 1,90, o salário mínimo ronda os US$ 200. Tudo isso devido à valorização do real, claro, e aos aumentos sucessivos do mínimo, que subiu 100% acima da inflação. Na comparação com a América Latina, o Brasil deixou de ter um piso baixíssimo – em 2003 o mínimo equivalia a US$ 56,8 – e conquistou um razoável. No Chile, por exemplo, a menor remuneração é de US$ 250, na Venezuela é de US$ 286. “Os mais pobres talvez não saibam, mas a desvalorização do dólar é muito boa para eles”, explica o professor Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV/ RJ. “A valorização do câmbio gerou uma redução na inflação para os mais pobres, o que também reduziu a desigualdade”, completa.

É a primeira vez que o mínimo tem o mesmo poder de compra da época de sua criação, em 1940, por Getúlio Varvirou gas, de acordo com Neri. O mínimo de Getúlio foi um dos mais altos do Brasil.

O mais importante para 44 milhões de brasileiros é o que o mínimo pode comprar. Para eles, o Dieese tem uma boa notícia. De acordo com o supervisor técnico do Dieese/DF, Clóvis Scherer, em maio, pela segunda vez, foi possível comprar duas cestas básicas com um único salário. A primeira ocorreu em agosto de 2006. Antes disso, só se comprava uma ou nenhuma, como ocorreu, por exemplo, entre maio de 1998 e fevereiro de 1999. O Índice de Custo de Vida, medido pelo Dieese, mostra que a inflação dos mais pobres foi de 0,38% em maio, um porcentual menor do que a média de 0,63%. O benefício, contudo, só existe porque a inflação está sob controle. Ex ministro do Trabalho, no governo de Itamar Franco, o economista Walter Barelli lembra que comprou uma briga com o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, até conseguir estipular o mínimo em US$ 100.

Conseguiu. “Mas ninguém recebeu US$ 100, porque no dia seguinte valia US$ 98, US$ 95 e a inflação engolia o salário das pessoas”, lembra. Naquela época, a intenção de Barelli era de elevar o salário mínimo à média dos países do Mercosul, o que representava US$ 200, mas a área econômica do governo FHC não queria nem ouvir falar disso”. “O Brasil chegou lá com uma década de atraso”, diz Barelli.

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