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domingo, 21 de maio de 2006

A latrina, o playboy e o sociólogo


Alguém sabe qual a capa da latrina nessa semana (edição 1957)? No site da revista, estão estampadas duas capas – uma com o famigerado Marcola e outra que faz referência a uma matéria sobre medicina. Não vou me dar ao trabalho de pesquisar nas bancas que capa prevaleceu. Decidi adotar o padrão Veja de comportamento: na dúvida sobre a verdade, vale o que melhor atende aos meus interesses, no caso a que faz alarde sobre os processos para conter o envelhecimento. Isso posto, vamos lá.

É um absurdo que na semana em que uma ação até então inédita, violenta e radical comandada pela criminalidade ditou o ritmo da vida na maior cidade da América Latina, a revista de maior circulação nacional dedique sua principal reportagem a um tema tão insignificante, para o interesse nacional na atual conjuntura, como a conquista da eterna juventude. O que teria motivado a decisão editorial de Veja? Seria o fato da ação do PCC não propiciar uma exploração eleitoral prejudicial ao presidente Lula? E, ao contrário, questionar a tão propalada competência do candidato Geraldo Alckmin na área da segurança pública? É possível, a julgar pela matéria sobre a megarrebelião em SP. Veja revela o caos que abateu-se sobre a cidade, destrincha os meandros da ação do "governador" Marcola, mas se contém na hora de apontar as responsabilidades. Desqualifica a avaliação do presidente Lula de que a raiz do problema está na educação e faz o mesmo com as declarações de governador Cláudio Lembo sobre a "crueldade das elites." Para o panfletão dos Civita, o problema deve-se a uma genérica "ausência do Estado", tanto federal, estadual e municipal. Nenhuma palavra sobre os 12 anos que os tucanos governaram SP, nos quais o PCC vicejou confortavelmente. Silêncio absoluto sobre a atitude covarde da cúpula do PSDB, que escondeu o rabo entre as pernas e se refugiou nos Estados Unidos durante a crise. Igualmente um mutismo revelador sobre a postura ignóbil de Geraldo Alckmin, incapaz de assumir sua responsabilidade e prestar firme solidariedade ao seu aliado pefelista.

Mas, as elites criticadas pelo governador Lembo não contaram somente com a defesa de Veja, o playboy (qualificação chique para um vagabundo da alta roda), Chiquinho Scarpa também entrou em campo com a sua avaliação abalizada de quatrocentão: "Se cada um voltasse para o seu estado, tudo funcionaria. O problema é que 80% dos votos para presidente são de São Paulo – e os nordestinos votam errado". O sociólogo de direita Bolívar Lamournier também saiu em defesa da injustiçada classe dos que têm muito dinheiro (mas tanto que pagam 900 reais por uma dose de conhaque no restaurante Fazzano, em SP): "A elite virou explicação para tudo no Brasil, de bicho-de-pé à dor no fígado. Tudo é culpa da elite". Ambos tem razão, a elite é inocente. Culpados são os nordestinos.


Jens

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