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sábado, 4 de março de 2006

A eleição Passa na Globo


Juscelino e Lula, nada a ver. Mas não é que o seriado JK pode estar desnudando a demagogia dos moralistas de gogó?

Por Nirlando Beirão – Carta Capital

Antes que o professor Lavareda o faça, oráculo que é das aflições estatísticas do alto tucanato, esta coluna se apressa em arriscar um pequeno exercício de sociologia de algibeira.

Qual seja: existirá alguma relação entre o seriado JK que a Globo exibe, em tardio e incerto horário só para corujas, e a súbita ressurreição eleitoral do presidente Luiz Inácio?

A se permanecer no território das pesquisas, a resposta é – certamente, nenhuma relação.

Pelo que sugerem os números, a popularidade de Lula reside nos andares inferiores da sociedade, com aquela perspectiva apavorante –para o baronato de punhos de renda – de que a turba malta, ignara e inculta, insista em votar segundo sua própria cabeça, e não da forma como seria do agrado dos círculos da razão conservadora e dos corifeus do status quo.

Dificilmente aquele eleitor que acorda cedo – ou seja, o eleitor que decide uma disputa presidencial – está sendo exposto nestas noites veranistas às lições de tolerância que exalam do risonho Juscelino à frente da sanha de seus adversários. O seriado JK é a luta da serenidade contra a histeria, do sonho contra os que só prezam o pesadelo.

Nem PT Maria Adelaide Amaral, a autora, deve ser, mas é mais ou menos fatal que, entre as aves que agouraram no passado o inatingível Juscelino, se possa vislumbrar agora o perfil de certos corvos ainda em febril proliferação, prógonos aqueles lá dos Bornhausens, Virgílios e A-ce-eme-zinhos, ainda que, no caso do netinho do oligarca, fique-se muito melhor representado, com DNA autenticado, na figura untuosa do chifrudo deputado Fialho.Lula não há de se beneficiar, ele próprio, de nenhuma identificação com Juscelino – mesmo porque, por mais que ele reivindique, não há nenhuma semelhança entre os dois. Mas os iracundos desafetos de Lula, do PT e do governo podem estar pagando o preço cobrado pela minissérie, que é o do desnudamento da intolerância e da hipocrisia.

JK não era santo, mas seus inimigos, alguns deles, eram caso da pior patologia. A inveja por seu charme, o ciúme de suas façanhas, a histeria diante de sua inabalável popularidade – o caldo de cultura das teatrais comissões de inquérito começou a ser requentado na República do Galeão, em 1954, e, na trilha traçada pelo próprio JK, veio a dar em Brasília, em 2006.

O leitor há de dizer que a coluna exagera, que a ficção televisiva não tem nada a ver com a realidade política, mas a tevê dispõe, sim, entre os eventuais atributos, da possibilidade de captar o imaginário nacional na antena de sua reconhecida sensibilidade. E sensibilidade Maria Adelaide Amaral a tem, de sobra.

Independentemente do resultado eleitoral de outubro, já dá para dizer: o País, que já foi risonho e franco na era JK, está farto hoje das rabugices cansativas e canastronas. Chega de chatice.

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