Nos corredores do Senado, uma chantagem...

Uma operação para blindar o senador Efraim Morais (DEM-PB) entrou em curso no Senado. O primeiro passo é trabalhar para que o corregedor da Casa, Romeu Tuma (DEM-SP), não comprometa o colega no relatório que ele pretende apresentar nos próximos dias sobre o esquema nas fraudes em licitações. A pressão é para que Tuma sugira apenas uma investigação interna em cima dos servidores suspeitos de participar das irregularidades.

Nos corredores do Senado, uma chantagem entrou em jogo para que isso ocorra. Aliados de Efraim ameaçam incluir Tuma na crise se ele complicar a vida do colega. O argumento é simples: o atual corregedor era o primeiro-secretário em maio de 2004, quando o Senado fechou contratos emergenciais com as empresas Ipanema, Conservo e Brasília Informática, que, a partir daquele ano, começaram a planejar a estratégia para garantir os contratos definitivos. Dois anos depois, já na gestão de Efraim na Primeira-Secretaria, o esquema deu certo.

Tuma estava em São Paulo ontem e evitou comentar o assunto. Ele se encontra hoje com o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), para discutir caso. Na semana passada, o corregedor se reuniu com os procuradores responsáveis pelas investigações, quando recebeu informações sobre as denúncias.

Garibaldi disse que a Casa precisa dar uma “resposta cabal”, mas só depois do parecer de Tuma. “Eu vou pedir ao Tuma que apresse seu relatório. Isso não pode ficar sendo alvo de manchetes, porque tem respingado na imagem do Senado”, afirmou o peemedebista.

Os demais senadores evitam cobrar agora uma resposta de Efraim. O senador Papaléo Paes (PSDB-AP) afirmou que, por enquanto, é “inconsistente” a descoberta da Polícia Federal de que Eduardo Bonifácio Ferreira, que seria o intermediário do resultado das licitações, tinha a chave do gabinete de Efraim.

Reservadamente, outros parlamentares classificam os indícios contra o senador como “grave”. Publicamente, porém, querem aguardar o desenrolar do trabalho de Tuma e até mesmo um possível pronunciamento de Efraim em plenário. Quando perguntados, negam qualquer “operação abafa”. “Não temos esse direito”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O PSol, por exemplo, quer ler a íntegra do inquérito da Polícia Federal antes de entrar com uma representação contra o senador no Conselho de Ética. “São evidências, não provas. É preciso tomar um melhor conhecimento do teor da investigação da polícia. O que podemos dizer agora é que essas revelações são graves e apontam para a participação de pessoas próximas ao senador”, argumentou José Nery (PSol-PA). “E é importante que ele (Efraim) fale novamente. Seria oportuno prestar novos esclarecimentos”, ressaltou.

Primeiro vice-presidente, o petista Tião Viana (PT-AC) adotou o discurso da cautela. “O presidente Garibaldi tem a responsabilidade de conduzir esse processo. A primeira atitude dele é ouvir o senador Efraim, se achar conveniente, convocar a Mesa Diretora para discutir o assunto”. Correio Braziliense