"Mas a Dilma vai entrar por aqui?", perguntava um jovem entre as dezenas deles que se amontoavam na porta do auditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais na noite desta terça-feira (7).
À espera de uma palestra da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que inaugura o curso "O impeachment de Dilma Rousseff como golpe de estado", os jovens pressionavam para entrar no auditório lotado, obstruindo completamente a circulação e a passagem.
A ex-presidente entrou por uma porta lateral. Para ocupar corredores do local, público precisou forçar a abertura da porta.
Outras três salas com telas para transmissão da palestra também lotaram. A fila chegou a dar volta no prédio da faculdade.
Foi o primeiro evento público de Dilma após ter sua candidatura ao Senado confirmada em convenção no domingo (5). Ela integra a chapa do governador Fernando Pimentel (PT), que tenta reeleição em Minas.
"Não imaginava que teria um público tão grande", disse o professor Thomas Bustamente, da Faculdade de Direito, responsável pelo curso. Os cerca de 130 matriculados tiveram preferência para entrar no auditório, que comportou cerca de 500 pessoas.
Serão 30 palestras com professores de direito, sociologia, educação e economia da UFMG para dar a resposta científica, segundo Bustamante, de por que o impeachment foi um golpe.
"Não encontrei até agora nenhum argumento jurídico, teórico e moral para dizer que não foi golpe", disse o professor, justificando a falta de opiniões contrárias em seu curso. "As justificativas jurídicas do impeachment são inexistentes. Estamos a um passo de perder a democracia. É preciso evitar que aconteça de novo."
Após ser ovacionada em sua chegada, Dilma discursou por uma hora e vinte minutos, sendo vez ou outra interrompida por aplausos e risadas, num discurso repleto de ironias.
Mesmo tratando de temas sérios, ela arrancava risos. "O golpe foi misógino. O homem é uma pessoa forte. Eu não, eu era dura. Eu era uma mulher também frágil, porque eles não têm o menor compromisso com a lógica", disse. A plateia gargalhou. "E era uma pessoa obsessiva e compulsiva que obrigava todo mundo em volta de mim... a trabalhar", completou em tom de sarcasmo.
Afirmando ter sido condenada por mudanças em 0,3% do Orçamento, Dilma criticou a mídia e a Operação Lava Jato. Nesse momento, sem mencionar o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, disse ter sido um erro nomeá-lo.
"Eu acredito que talvez nós tenhamos cometido um erro, que foi aceitar a indicação, pelo Ministério Público, de tês candidatos a procurador e, entre os três, o mais votado nós indicaríamos", disse.
Dilma afirmou também que o impeachment teve o objetivo de enquadrar o Brasil, inclusive geopoliticamente, porque era um país com condições de desenvolvimento, estatais fortes e política externa independente, próxima da América Latina, da África e dos BRICS.
"Ou seja, na contramão de tudo que é o receituário do processo de hegemonia dos Estados Unidos e mesmo da Europa", disse.
Dilma voltou a condenar as reformas e o teto de gastos do governo Michel Temer (MDB) e defendeu a inocência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ela, o povo percebeu que o novo governo, de homens ricos e brancos, era um retrocesso: "uma parte da derrota deles é que não provaram que não era golpe".
Falando sobre a necessidade de subsídios e enveredando por explicações econômicas, Dilma foi aplaudida novamente ao dizer que "se existe uma coisa fake news no Brasil é a meritocracia".
Certa hora, após algumas digressões e esquecimentos, Dilma mencionou até o ator Danny Glover, tentando lembrar o nome de outra pessoa. "É um grande ator, fez Máquina Mortífera, né? Mas o que vocês não sabem é que ele é assessor do Bernie Sanders [político americano progressista]." A plateia se divertiu.
Ao final, Dilma foi cercada por estudantes em busca de uma selfie e, apesar dos esforços de sua equipe, foi perseguida por eles até entrar no carro e bater a porta, carregando flores.Com informações da Folha -
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