Ter alguém como Bolsonaro recebendo o maior apoio para exercer a Presidência, segundo as pesquisas sem Lula, dá a mais concentrada resposta às perguntas sobre o indescritível desastre brasileiro. Apoio a alguém sem preparo, retrógrado, com bens acumulados sem explicação e defensor da ditadura em suas piores violências, enquanto sondagens mostram também tais apoiadores indignados com as sucessivas exibições das roubalheiras engravatadas, da ferocidade em sandálias e da degradação na política.
to é de extrema importância. Não por Bolsonaro, que é apenas um germe, não único, deixado por aquela infecção de 21 anos. O que explica sua ideia de que assassinatos e desaparecimentos equivalem a "um tapa no bumbum de um filho".
O teor do documento não muda só os papéis alardeados dos ditadores, sobretudo o atribuído a Geisel. Corrige as dimensões da ditadura, expondo-a não mais como um regime de força arbitrária, impulsionado no choque de correntes militares menos e mais extremadas, mas, isto sim, como regime unificado por sua essência comprometida com o extermínio humano. Guardadas as devidas proporções, bastante semelhança com o poder ao tempo do falso socialismo no Leste Europeu.
Já na primeira fase de governo do udenista Castello Branco, o "general democrata" que instalou a ditadura, Geisel proporcionou uma indicação clara sobre si mesmo. As denúncias de torturas no imediato pós-golpe, as piores nas dependências da Marinha e da Vila Militar, no Rio, como em Pernambuco e Rio Grande do Sul, fizeram Castello incumbir Geisel, seu chefe da Casa Militar, de uma investigação geral. Era, claro, só um mascaramento da realidade. Mas a desfaçatez de Geisel não teve nem habilidade. Com a tortura sabida e comentada no país todo, seu relatório negou haver ao menos um casinho de arranhões, só para encontrar algum "excesso". Como resultado prático, era o aviso de que o novo regime não repelia a violência, nem lhe estabelecia limites.
O documento da CIA fundamenta a convicção, contestada por muitos, de que fatos como o atentado do Riocentro não eram de insubordinação, mas de obediência. Daí que Figueiredo, antes de saber direito do que se tratava, prometesse "prender e arrebentar" os envolvidos, e depois lhes desse cobertura. O assassinato de Lídia Monteiro, secretária da OAB, o alegado desastre de Zuzu Angel, tantos crimes polêmicos encontram agora um rastro retroativo e inquestionável, até seu ponto de partida.
É a isto que Jair Bolsonaro defende. É a isto que o general Antônio Mourão defende, puxando a lista dos companheiros que pretendem entrar na política. Suas defesas não são à ditadura como descrita até conhecer-se o documento da CIA, surgido quando alguns inquietam com a quebra do seu devido silêncio.
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Janio de Freitas
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