“Vai ter que prestar contas direitinho para a Justiça”, disse um despreocupado Geraldo Alckmin no início de abril, depois da prisão de Paulo Preto. Apontado como operador do PSDB, o engenheiro foi acusado de ameaçar uma testemunha que colaborava com as investigações sobre desvios no governo paulista.
Alckmin repetiu a expressão na última quinta (10), ao comentar o inquérito que apura se houve caixa dois em suas campanhas de 2010 e 2014. “Já prestei contas e, se precisar, a gente presta de novo.”
A semana passada deu ao PSDB, mais uma vez, o privilégio de fazer suas prestações de contas em parcelas suaves. Em quatro dias, o inquérito contra Alckmin foi paralisado, e Paulo Preto ganhou liberdade.
A investigação sobre improbidade administrativa contra o ex-governador ficou congelada depois que o caso foi requisitado pelo chefe do Ministério Público paulista, Gianpaolo Smanio —nomeado originalmente para o cargo pelo tucano, em 2016.
O promotor Ricardo Castro apurava se Alckmin havia recebido R$ 10 milhões da Odebrecht para suas campanhas. Na terça (8), Smanio pediu o inquérito para reavaliar quem deve tocá-lo. Ele pode até determinar que o caso fique em seu gabinete.
O maior alívio veio dias depois. Paulo Preto completara um mês no presídio de Tremembé e passou a dizer a interlocutores que estudava um acordo de delação premiada. Com o avanço de investigações sobre contas encontradas na Suíça, ele ameaçava colaborar com as apurações de desvios em governos do PSDB.
Mas a caneta de Gilmar Mendes deu ao engenheiro mais tempo para pensar. O ministro afirmou que a prisão não poderia ser mantida apenas para para forçar uma delação.
As duas decisões foram tomadas dentro das regras, mas destoam do comportamento rigoroso observado nos últimos anos entre juízes e investigadores diante de suspeitas de corrupção. Ainda que não haja favorecimento, os tucanos ganharam um desconto na entrada de uma eleição que será difícil para o partido.
Bruno Boghossian - Na Folha
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