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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Azeredo, o mineirinho



Entre os que integram a galeria do imaginário popular dos corruptos de estimação dos partidos políticos, o mineiro Eduardo Azeredo (PSDB) é certamente o menos conhecido. Ex-governador de Minas Gerais e ex-deputado federal, ele é considerado por seus inimigos como o “pai dos mensalões”. Acusação prontamente negada. O chamado mensalão mineiro ou mensalão tucano aconteceu antes do mensalão petista e teve na figura do publicitário Marcos Valério, hoje inquilino de longo prazo de uma penitenciária, um executor eficiente.

O mensalão tucano não foi julgado pelo STF. Azeredo renunciou ao seu posto de deputado para escapar da Suprema Corte. Curiosamente, essa manobra não foi vista como uma tentativa malandra de escolha do próprio juiz nem de manipulação da Justiça. Condenado em primeira instância, continua em liberdade na expectativa de que a segunda instância siga a ideia de que, em Minas Gerais, tudo tem um tempo próprio, um tempo mais lento, mais sereno e mais temperado. O procurador-geral da República que apresentou denúncia contra ele, Antônio Fernando de Souza, considerou-o, sem mineirice, “um dos principais mentores e principal beneficiário do esquema implantado”

Uma nota revelou o quanto a política não anda em linha reta: “A bancada do PSDB no Senado acata a decisão da mais alta Corte do país, porém reafirma sua plena confiança na honradez e na lisura desse companheiro”. A lisura é sempre dos “nossos”.

Condenado, em 16 de dezembro de 2015, a 20 anos e dez meses de prisão, por peculato e lavagem de dinheiro, Eduardo Azeredo teria sido beneficiado com o desvio R$ 3,5 milhões de estatais mineiras. Se os feitos de Azeredo são em valores absolutos modestos diante dos bens acumulados por personagens secundários, não se pode apagar os seus privilégios de precedência e de proteção partidária: o tucanato jamais o abandonou. A magistrada Melissa Pinheiro da Costa Lage, da 9â Vara Criminal da Capital mineira, escreveu algumas linhas lapidares sobre o esquema que envolve o mineirinho Eduardo Azeredo: “Foi criado um caixa robusto para a campanha eleitoral, com arrecadação de fundos de diversas fontes, inclusive de recursos públicos da Copasa, da Cemig e do Bemge, aproveitando-se do uso da máquina pública”. Há quem diga que isso não é mensalão. A distinção parece obedecer a um rigoroso sistema classificatório ainda a ser examinado nas academias de ciências. Se prosperar, deverá resultar no primeiro Nobel brasileiro.

Se não é o mais destacado, Eduardo Azeredo é dos mais estimados. Goza da plena confiança dos seus. Vive sem maiores sobressaltos. Espera que o STF altere rapidamente a sua decisão de enjaular condenados em segunda instância. Por um lado, acredita cada vez mais que só condenados com sentença transitada em julgado devem merecer uma cela ou uma tornozeleira de longo tempo. Por outro lado, crê na sua absolvição. Enquanto espera, nutre-se de um cargo de consultor da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. A Coreia do Sul honrou-o, em dezembro passado, com o cargo honorário de cônsul em Minas Gerais. Coisas da diversidade de hábitos culturais.

Se não é o mais destacado, Eduardo Azeredo é dos mais estimados. Goza da plena confiança dos seus. Vive sem maiores sobressaltos.Juremir Machado

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