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sábado, 10 de outubro de 2015

Cunha fechou contas na Suíça um mês após Lava-Jato



Documentos mostram que endereço é o mesmo de casa de presidente da Câmara

Relatório do Ministério Público da Suíça informa que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) fechou duas das quatro contas que mantinha no banco Julius Baer em abril do ano passado, um mês depois do início da Operação Lava-Jato, segundo disse ao GLOBO uma fonte que acompanha o caso de perto. As duas outras contas foram bloqueadas em abril deste ano com um saldo aproximado de US$ 2,5 milhões a partir de uma investigação sobre o suposto envolvimento de Cunha com corrupção e lavagem de dinheiro.

As contas foram abertas em nome de offshores, que têm como beneficiários finais Cunha e a mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz. Os documentos contém detalhadas informações sobre os donos das contas investigadas. As duas contas ainda ativas foram abertas em 2008. O relatório informa que numa delas o destinatário tem residência na avenida Heitor Doie Maia, Rio de Janeiro, mesmo endereço de Cunha e da mulher. O beneficiário da conta é brasileiro e nasceu em 29 de setembro de 1958, data de nascimento de Cunha, conforme consta no registro dele na Justiça Eleitoral.

Caberá agora ao procurador-geral Rodrigo Janot decidir se pede abertura de um novo inquérito ou se apresenta nova denúncia contra Cunha, que insiste em negar ser correntista no país europeu e que ‘não há hipótese de renunciar à presidência da Casa.

Ontem, o site do Globo revelou que Cunha usou empresas offshore para movimentar contas bancárias na Suíça. Hoje, a informação do bloqueio do montante em conta secretas fora do país foi revelada pelo jornal "Folha de S. Paulo".

As contas foram descobertas em abril deste ano e desde então o presidente da Câmara vinha sendo investigado na Suíça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro desviado da Petrobras. Cunha é suspeito de receber propina numa transação relacionada vazamento de informação privilegiada e venda, para a Petrobras, de um campo de petróleo no Benin. Ele foi denunciado, em agosto, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Cunha foi acusado de receber US$ 5 milhões em propina para facilitar a compra de dois navios-sondas da Samsung Heavy Industries, pela Petrobras, um negócio de US$ 1,2 bilhão. O negócio teria resultado em propina no valor total de US$ 40 milhões. Outros dois acusados no caso, o lobista Fernando Soares, o Baiano, e o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró já foram condenados por Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Baiano foi condenado a 16 anos e um mês de prisão. Cerveró deverá cumprir 12 anos e 3 meses. Na denúncia que fez, Janot pede que Cunha devolva ao cofres públicos US$ 80 milhões, soma entre multa e valores desviados. As investigações iniciadas na Suíça podem se complementar com outras informações já obtidas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal no Brasil.

DEPOIMENTO DE LOBISTA FOI CRUCIAL

Parte das suspeitas das autoridades suíças sobre a movimentação financeira de Cunha foram confirmadas pelo lobista João Augusto Rezende Henriques. Em depoimento à Polícia Federal em Curitiba, há duas semanas, João Henriques disse que fez depósito numa conta que, mais tarde, ele descobriu pertencer a Cunha.

A conta destinatária do pagamento foi indicada a ele pelo lobista Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), já falecido, um ex-aliado do presidente da Câmara. João Henrique disse que fez o depósito em retribuição à venda de um campo de Petróleo no Benin para a Petrobras. A transação só foi possível graças a uma informação privilegiada que ele recebeu. A partir da informação, o lobista teve um encontro com o empresário Idalecio de Oliveira, que seria o dono de um terreno no Benin.

Os dois fizeram uma sociedade e logo em seguida venderam a área por US$ 15 milhões para a Petrobras. Depois da operação, ele teria embolsado US$ 7,5 milhões. Em seguida, fez pagamentos para pessoas que o ajudaram na concretização do negócio.

"Que, por fim, o interrogando gostaria de adicionar que em relação a aquisição pela Petrobras do campo de exploração em Benin, a pessoa que lhe indicou a conta para pagamento foi Felipe Diniz; Que Fernando Diniz era filho de Fernando Diniz; Que Felipe apresentava dificuldades econômicas; Que a conta indicada para o pagamento pertencia a Eduardo Cunha", afirmou Henriques em depoimento a um dos delegados da Operação Lava-Jato. Henriques foi preso em setembro, na 19ª fase da Lava-Jato, por ordem do juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Logo depois da citação ao nome do presidente da Câmara, o depoimento do lobista foi enviado ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). A existência e o bloqueio do dinheiro nas contas de conta foram confirmadas pelo Ministério Público da Suíça. Mas, procurado várias vezes desde que o caso veio a público, Cunha repete que não tem contas na Suiça. Ele diz que todas as contas que tem estão declaradas à Receita Federal.


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