Estudo mostra que até 2014 País terá 118 milhões de pessoas na classe C - aquela com renda de R$ 1,734 mil a R$ 7,475 mil -, o equivalente a 60% da população brasileira, avanço de 5% em relação ao percentual atual
Os brasileiros deverão ficar mais ricos nos próximos anos. A previsão é do professor Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais, filiado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), autor do estudo De Volta ao País do Futuro: Projeções, Crise Europeia e a Nova Classe Média , segundo o qual, até 2014, cerca de 12 milhões de brasileiros ingressarão na classe C.
Com o movimento de mobilidade social, o grupo seria ampliado para aproximadamente 118 milhões de pessoas ao final daquele ano, passando a representar 60% da população do País, ante os atuais 55%. O avanço significaria crescimento de 11,9% sobre a base verificada em 2011, estimada em quase 105,5 milhões de indivíduos.
Segundo o economista, este ritmo de expansão é, contudo, inferior ao salto de 29% esperado para a camada social mais rica do País. Nas projeções de Neri, este contingente fechará o período com 29,1 milhões de re-presentantes, a partir da absorção de 7,7 milhões de integrantes no intervalo.
"Em pouco tempo, tentaremos definir as características desta emergente classe AB da mesma forma como, há alguns anos, começamos a discutir o perfil da então nova classe C", apontou o economista ontem, no Rio, durante a divulgação da pesquisa.
Matematicamente, a evolução social projetada para o País viria por meio da redução da camada mais pobre (D e E), que encolheria de 63,6 milhões (2011), para 48,9 milhões de pessoas até 2014, segundo as projeções do economista. Ele ressaltou que a tendência de mobilidade social no Brasil já vem se desenhando há alguns anos, graças à evolução da renda familiar per capita média do brasileiro, que subiu 2,7% nos 12 meses até janeiro. A expectativa, afirmou, é de que a rubrica continue evoluindo, atingindo R$ 805,54 em 2014, quase o dobro do patamar de R$ 454,77 estimado para 2012.
O professor salientou ainda, que, em dez anos, houve crescimento de 68% na receita das pessoas mais pobres do País, cerca de 50% da população. Já no caso dos 10% mais ricos o avanço foi de 10%. "Isso significa que a renda da parte menos favorecida subiu 580% em relação à do topo da pirâmide social", comparou.
Como consequência da mudança no quadro, a pobreza no País registrou queda de 7,9%, na mesma base comparação. Neri frisou que o percentual é três vezes superior ao valor estipulado na meta da Organização das Nações Unidas (ONU) para o milênio. Ainda assim, nas projeções do professor, o País não conseguirá erradicar a miséria no País até 2014. "A expectativa é de que haja queda de 40% neste período, mas não de 100%", disse.
Em um reposicionamento tático, a própria presidente Dilma Rousseff admitiu, em
março do ano passado, que os quatro anos de seu mandato poderiam não ser suficientes para erradicar a pobreza extrema no Brasil. O combate ferrenho à miséria foi uma das principais promessas de Dilma durante a campanha eleitoral e ao assumir o governo.
COEFICIENTE DE GINI.
As melhoras conjunturais abriram espaço para que a desigualdade social medida pelo coeficiente de Gini recuasse 2,1% no intervalo, para a mínima de 0,5190. A expectativa de Neri era de que o patamar, menor da série histórica iniciada em 1960, só seria atingido em 2014.
"O Brasil está na contramão do mundo porque, por aqui, a desigualdade segue caindo, apesar da crise, que tem dado força a movimentos contra o aprofundamento das diferenças econômicas nos países mais ricos", disse, destacando o ritmo de redução observado nos 12 meses foi quase duas vezes superior ao percentual de queda averiguado na década anterior. O professor afirmou que a América Latina segue na mesma tendência.
Neri ponderou que, apesar da redução, o patamar alcança-do recentemente ainda é alto para os padrões globais e que Brasil continua integrando a lis-
ta dos 12 países com os maiores níveis de desigualdade social do mundo. "Neste ranking, já esti-vemos entre os três piores", afir-mou. O índice Gini - criado pelo estatístico italiano Corrado Gi-ni, em 1912 - vai de 0 a 1, sendo que números próximos ao piso indicam igualdade na renda e valores ao redor do teto correspondem a um cenário oposto.
Segundo o professor, os avanços estruturais brasileiros vêm sendo sustentados por uma série de fatores, ntre os quais se destacam a esta-bilização da economia doméstica, a formalização do mercado de trabalho local e a mudança de comportamento dos brasileiros.
"Eles estão optando por ter menos filhos e colocar suas crianças na escola. A educação é o principal motor destas transformações", explica. Na avaliação do economista, o processo terá continuidade nos próximos anos, período em que, em sua visão, os vetores das evoluções deverão permanecer em operação.
Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Neri lembrou que, de 2003 a 2011, a classe média expandiu 60%, enquanto a camada mais rica cresceu 68,9% e a parcela mais pobre da população brasileira caiu 51,3%.
Na pesquisa, a classe A foi considerada como a população com renda acima de R$ 9,745 mil, enquanto na B foram agrupados os indivíduos que ganhavam de R$ 7,475 mil até R$ R$ 9,745 mil. A classe C, por sua vez, englobou os brasileiros com receita de R$ 1,734 mil a R$ 7,475 mil e a D reuniu aqueles com orçamento de R$ 1,085 mil a R$ 1,734 mil. A camada mais pobre foi composta por pessoas com teto de renda inferior a R$ 1,085 mil.
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