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segunda-feira, 28 de março de 2011

O Roger do Brad na especulação da Vale

Todo mundo sabe que quando um cachorro  morde, não adianta reclamar para o cachorro, tem que reclamar para o dono dele.

É por isso que essa história de vilanizar Roger Agnelli na pendenga da Vale S/A, poupando quem manda nele, não fecha.

A lorota a respeito é de que ele teria "se rebelado" contra o Bradesco, ao externar em público as divergências com o governo Dilma (e também com o de Lula), fora dos padrões discretos do Bradesco.

A lorota fica assumida quando saiu a notícia de que "Roger" (como o chama Miriam Leitão) voltará para a diretoria do Bradesco.

Fica claro que "Roger" agiu fielmente aos interesses dos acionistas banqueiros quando saiu atirando no governo, acusando de "ingerência", como se sócios majoritários de uma empresa não pudessem influir no destino delas e, pior, acusando o governo de aparelhamento da empresa, de partidarização, anunciando um falso quadro de caos, a ponto de assustar pequenos investidores desavisados. Tudo isso vai de encontro aos interesses dos acionistas banqueiros (e minoritários) em querer controlar a escolha do sucessor de "Roger".

A parábola do pitbull Roy Roger e do Sr. Brad

O Sr. Brad comprou um lote de um condomínio chamado Valério Doce.

Colocou um pitbull, apelidado pelo nome caubói de Roy Roger, para tomar conta do seu terreno.

O problema é que o Brad se recusava a cercar seu lote, e o pitbull invadia os terrenos alheios, tomando conta do pedaço - do condomínio inteiro.

Quando os vizinhos reclamavam com o Brad, ele dizia que o pitbull "garantia a segurança" de todo o condomínio.

Um dia os vizinhos resolveram cercar seus próprios lotes. Assim o terreno do Brad ficaria cercado por todos os lados, confinando o pitbull em seu espaço.

E o pitbull Roy Roger passou a morder os vizinhos na hora em que iam construir a cerca.

O Brad disse aos vizinhos que se eles parassem de construir a cerca, prometia sacrificar o pitbull.

Os vizinhos já estavam cogitando parar a cerca, quando viram o Brad num canil consultando o preço de um rotweiler.

Moral da história: o Brad cumpriria a promessa de sacrificar o pitbull, mas colocaria um rotweiler para substituí-lo.

Expeculação X investimento de longo prazo.

Voltando ao caso da Vale, a questão que está em jogo não é "partidarização" contra "mercado".

É a guerra entre especuladores e investidores de longo prazo.

É entre os que querem só dividendos rápidos contra os que querem maior reinvestimento de parte dos lucros em industrialização do minério e inovação.

A um banco, como o Bradesco, o maior interesse é quanto a Vale distribui de dividendos sobre seu capital aplicado, além da valorização rápida das ações. Quanto mais e mais rápido, melhor.

Para acionistas com interesses de longo prazo, como um fundo de pensão, no caso da PREVI, se parte do lucro for reinvestido de forma a aumentar o patrimônio a longo prazo, mais do que aquilo que receberia como dividendos, melhor.

Para o governo e o povo brasileiro, interessa que a empresa seja lucrativa, mas que também cumpra suas finalidades sociais.

Mineração é uma concessão pública. A empresa deve satisfação aos acionistas, mas deve satisfação também ao dono do subsolo e dos recursos minerais: o povo brasileiro. E precisa estar alinhada aos interesses nacionais das políticas industriais para o setor.

Outra divergência relacionada, é que, ao que parece, o governo quer a Vale atuando como um conglomerado de empresas, que agregue valor à mineração. Isso é bom para a PREVI, porque agregará valor à produção, e portanto seus investimentos valerão muito mais, aumentando o patrimônio do fundo de pensão no futuro.

Isso interessa menos ao banco, porque o conglomerado dele já é o Grupo Bradesco. O banco se interessa em receber o máximo de dividendos o mais rápido possível, porque pode fazer o que bem entender com o dinheiro ganho na Vale, em seu próprio grupo de empresas.

Há pouco tempo "Roger" havia dito que era contra investir em siderurgia porque iria concorrer com seus clientes que compram minério de ferro. É uma desculpa esfarrapada. O conglomerado Samsung fabrica memórias de computador e chips para todo mundo, e também fabrica notebooks, monitores, celulares, etc, competindo com seus clientes. O grupo controlador da Brastemp fabrica compressores usados pelos fabricantes de geladeiras e condicionadores-de-ar concorrentes. O próprio grupo Bradesco controla fábricas e mineradoras que competem com clientes do banco. Todo grande grupo de empresas faz isso. No mundo inteiro.

6 Comentários:

Milton disse...

Muito bem colocado. Não faz sentido vender ferro para a China e comprar trilhos da China. Isso é coisa do tempo do Brasil Colônia. E o ferro não é da Vale. É do Brasil!!!!!!

Hélio Jacinto disse...

A Parábola ficou 10!

Ines Ferreira disse...

Reforçando um comentário que elogiava a parábola. Realmente, ficou ótima, peço licença para passar para meus amigos. T-O-D-O-S vão entender esta pendenga. Só não entende quem não quer, como a nossa colonista (como PHA a chama) Miriam Leitão.

Leila Farkas disse...

Muito didático. Parabens

Anônimo disse...

Bom, o que adianta aumentar o patrimônio da PREVI, se os funcionários que passaram a contribuir a vida inteira são privados de ver A COR dessa grana?? Me explica? O que eu sei, o que está acontecendo atualmente e, que não deixe de ser publicado aqui, é que está havendo uma tunga no superavit da PREVI por parte do BB. Quem tem direito a esse dinheiro é o CONTRIBUINTE que se matou de trabalhar pelo BB e não o BB!!!

Zé Augusto disse...

Anônimo
O funcionário do Banco do Brasil que está contribuindo agora, e vai se aposentar daqui a 30 anos, assim como o que vai se aposentar daqui 20, 10 ou 5 anos, terá que ver a cor do dinheiro que está descontando hoje, quando se aposentarem, assim como os que contribuíram no passado estão vendo hoje, e se viverem mais do que a expectativa de vida média, também terão que continuar recebendo a aposentadoria. Por isso que um fundo de pensão deve ser bem administrado a longo prazo, e dá uma margem de segurança enorme ser superavitário. O ruim é quando é deficitário como foi o Aerus da Varig.
Que eu saiba, nenhum aposentado do Banco do Brasil está deixando de receber sua aposentadoria e regra geral, em condições bem melhores do que nos bancos privados. Não entendi que tunga é essa.

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