O infiltrado
As relações do ex-delegado Onézimo das Graças Souza, fonte da revista Veja, são mais próximas de José Serra (PSDB/SP) do que se imaginava.
E fica cada vez mais claro que houve tentativa de infiltrar na campanha de Dilma, num primeiro instante. Não conseguindo, resolveram apenas produzir um encontro público que desse margem à versão da encomenda do suposto dossiê.
O fabulosa máquina de espionagem de José Serra no Ministério da Saúde
É preciso voltar ao tempo, no fim da década 90, no governo FHC, quando José Serra era ministro da Saúde, para encontrar os primórdios das relações de José Serra com o ex-delegado Onézimo.
Marcelo Itagiba, ex-chefe do Centro de Inteligência da PF, foi chamado e aceitou integrar a assessoria de José Serra no ministério da Saúde, para montar um aparato de inteligência.
Oficialmente a função seria combater fraudes. Extra-oficialmente, o que se comenta como certo, em todos os meios políticos e jornalísticos de Brasília, é que funcionou como um serviço de arapongagem aos adversários políticos.
A escolha de Itagiba não foi por acaso. Como ex-chefe do Centro de Inteligência da PF, ele tinha conhecimento dos grampos legais da PF a serviço do governo. Tinha acesso a tudo o que se conversava pelos telefones grampeados na PF, desde traições políticas, corrupção, propinas, subornos, casos extra-conjugais, estado de saúde de políticos. Até bizarrices constrangedoras, que um grampeado cometesse o deslize de falar ao telefone, estava ao alcance do Centro de Inteligência da PF.
Além disso, Itagiba fazia parte do núcleo de confiança de Serra, a quem tentou indicar como chefe da Polícia Federal. Era até casado com uma prima do tucano Andrea Matarazzo, muito ligado à Serra.
No aparato de arapongagem a adversários, montado no Ministério da Saúde, junto com Itagiba, havia outros delegados da PF, entre eles Onézimo das Graças Souza.
Quando pipocaram denúncias de que esse dispositivo de arapongagem estava colocando a máquina pública para investigr ilegamente adversários, Serra desmontou tudo, pois o caso caminhava para virar um Watergate, com denúncias na alçada criminal.
Mas, ao que tudo indica, a arapongagem não parou, foi apenas terceirizada. Em vez de um departamento com funcionários públicos, Serra autorizou a contratação, por R$ 1,8 milhão (dinheiro da época), da empresa carioca Fence Consultoria Empresarial, especialista em detectar escutas clandestinas.
O dono da Fence era Enio Gomes Fontenelle, um ex-coronel do Exército que por muitos anos trabalhou no extinto Serviço Nacional de Informação (SNI), órgão de investigação oficial durante a ditadura militar. Ex-chefe da área de comunicações do SNI, Fontenelle era um dos maiores especialistas em espionagem eletrônica.
O trabalho oficial da empresa era rastrear a existência de grampos ou emissores de rádio clandestinos. Mas estranhamente, Fontenelle esteve várias vezes no Ministério da Saúde, onde encontrava-se com Serra, quando ainda era ministro.
Quando houve o caso Lunus, em 2002, o PFL (que quis dar o troco e salvar a candidatura da pré-candidata), havia contratado detetives particulares para descobrir os bastidores da operação. As investigações sobre grampo ilegal na sede da Lunus haviam apontado para uma possibilidade: a empresa Interfort Sistemas de Segurança, de Brasília. Isto porque José Heitor Nunes, gerente da empresa, esteve várias vezes no Maranhão nas semanas que antecederam a invasão da Lunus.
Ex-militar do Exército, Nunes tinha trânsito nos órgãos de informação do governo. Como consultor de segurança, Nunes dava aulas para agentes da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Durante sua militância empresarial e militar, conheceu Itajiba e o coronel Fontenelle. Era ainda amigo do delegado Onézimo, aquele da revista Veja, que aposentou-se da PF e passou a trabalhar na empresa ControlRisk, especialista em investigações e medidas de segurança.
A Fábrica de dossiês, atribuída à arapongagem, a serviço de José Serra:
Em 2002, pipocavam denúncias de dossiês contra rivais de Serra. Alguns adversários diretos dentro do PSDB pela indicação à candidatura presidencial, como Paulo Renato de Souza e Tasso Jereissati. Outros rivais em outros partidos, como Lula, Roseana Sarney, Ciro Gomes, Garotinho. Outros seriam líderes partidários a quem Serra disputava o apoio, como o falecido deputado José Carlos Martinez, na época presidente do PTB.
Ciro Gomes, denunciou, naquela época, a existência de uma estrutura de arapongagem, um grupo de 40 pessoas plantado em São Paulo para bisbilhotar a vida dos possíveis adversários do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Os principais alvos seriam, segundo Ciro, Lula, do PT, e Roseana Sarney que subia nas pesquisas, e ameaçava deixar Serra fora do segundo turno.
Anthony Garotinho, denunciou que foi procurado por um político do PSDB, a mando do deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ, hoje pré-candidato a vice de Gabeira), que pretendia lhe passar um dossiê com denúncias contra Roseana Sarney.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (que foi vice de Ciro em 2002), também afirma ter tido acesso a um dossiê. Ele teria informações que embasariam reportagem de uma revista de circulação nacional.
O presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez, que ainda articulava uma aliança com Ciro Gomes, foi fotografado com uma amiga durante uma viagem a Miami. Uma revista de circulação nacional iria publicar a foto. Martinez procurou a direção da empresa e conseguiu evitar a publicação.
Pelas conversas, esses dossiês foram usados nos bastidores, para afastar candidatos da disputa com Serra. Um deles não funcionou nos bastidores. Resultou na espalhafatosa operação Lunus, diante da ameaça de Serra ficar fora do segundo turno.
(Com informações resgatadas da reportagem da edição de 14/03/2002 do jornal Correio Braziliense, cuja íntegra está no Blog Os amigos da presidente Dilma).
3 Comentários:
Helena,
acho que o Onézimo , sem perceber mordeu a própria calda. explico: Nesta passagem que o Nassif mostra:
Veja e o samba do araponga doido
Enviado por luisnassif, dom, 06/06/2010 - 15:25
Da seção de cartas da Veja
Casa do Lago Sul
Como advogado militante, por força de dispositivo legal, sou obrigado a manter o devido sigilo sobre as conversações havidas com clientes, potenciais clientes ou qualquer outra pessoa que busque os meus serviços profissionais, independentemente da aceitação ou não dos trabalhos requeridos. Não sendo assim pertinente nenhuma referência ou informação de minha parte quanto ao assunto abordado na reportagem "Ordem na casa do Lago Sul" (2 de junho), informo jamais ter estado no endereço indicado. Confirmo apenas ter sido sondado a prestar assessoria àquele escritório, não tendo aceitado por divergir cabalmente quanto à metodologia e ao direcionamento dos trabalhos a ser ali executados.
Onézimo Sousa
Advogado
OAB-DF 13.600
O Onézio se apresenta como advogado guardião do sigilo de cliente e possíveis clientes e que neste condição, de advogado, ele não poder falar sobre a conversa que teve com o Lanza.
Contudo, o teor da entrevista que ele dá ao Policarpo vai contra o que ele defende na carta. Uma baita contradição.
Questão que sugiro: não é o caso da OAB Brasília averigar através do codigo de etica da OAB a conduta do advogado Enézimo?
Saudações
Wagner Moraes
PS mande lembranças ao Canesim
Bingo! Serra e Itagiba mandaram o Onézimo e o outro para o encontro com o Luiz Lanzetta e para eles esse encontro bastava para fazer as denúncias que fizeram sobre dossiês. Eles precisavam apenas de um encontro que tivesse efetivamente acontecido para inventarem todo o resto. É a cara do Serra e é o que penso. Posso estar errada no varejo, mas no atacado deve ser isso que aconteceu.
O Ze Tilapia agora ta com essa de dossie!!!
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