O discurso do Sarney foi bom e ruim. Muito mais bom do que ruim.
Bom na prática e nas consequências, porque foi um marco contra o golpe demo-tucano no Senado, evitando que aquela casa se tranforme numa trincheira eleitoreira da oposição, mais do que já é, capaz de paralisar o governo Lula, o PAC, a geração de empregos, e criar dificuldades para favorecer os estrangeiros no pré-sal.
Nesse sentido o discurso foi bom. Significou que a velha raposa política do Maranhão, sabe como poucos administrar crises, e garantir a travessia até 2010.
Aliás o maior legado de José Sarney na presidência da República foi justamente conduzir a travessia do regime autoritário para as liberdades democráticas plenas, com uma habilidade difícil de reconhecer na época, mas agora, à luz da história, é fácil constatar que não foi um processo fácil.
Assumiu a presidência da República em 1985, em condições precárias. Era vice de um presidente eleito indiretamente, sem voto popular (mesmo que legitimado por um pacto social), vinha do partido que sustentou o regime autoritário. Não agradava àquela maioria que depositou esperanças em Tancredo, nem agradava os militares, pois foi um dissidente que passou para a oposição ao regime. Teve que conter a reação dos militares e vencer resistência daqueles não aceitavam "exesso" de liberdades, como legalização de partidos comunistas, e as próprias eleições diretas, com receio da eleição de Leonel Brizola (favorito na época), a quem não engoliam.
Sarney teve a habilidade (exercendo o poder entre o "bem" o "mal") de conseguir implantar liberdades plenas, sem haver retrocesso, convocar e promulgar a constiuição cidadã e progressista, e convocar eleições diretas.
Agora, nesse período atual, na presidência do Senado, acaba desempenhando papel semelhante, de conduzir a travessia diante da turbulência.
Já o lado ruim do discurso, é porque desaponta nossa utopia. O discurso entre conciliador e enquadrador acaba levando à acomodação do Senado, sem haver uma reforma profunda.
Mas não há o que reclamar, porque não existe possibilidade de reforma profunda com a maioria destes Senadores que estão eleitos.
Reforma profunda só haverá com uma reforma política ampla. Temos chance em 2010, elegendo uma bancada de Deputados e Senadores mais afinada com as classes trabalhadoras, com os movimentos sociais e com as políticas públicas progressistas do governo Lula. Para isso teremos que votar com o mesmo cuidado que votaremos em Dilma, na hora de escolher os deputados e Senadores. Fora isso, só uma rebelião popular para consertar o Congresso.
Nesse quadro, com todos seus defeitos, é melhor deixar o barco do Senado ser conduzido por um timoneiro experiente que leve à margem do rio em segurança, do que por alguém que leve o barco à pique, ainda que com as melhores das intenções.
As mudanças no Brasil estão se dando pela ação do poder executivo, do governo Lula. O legislativo ainda não consegue formar maiorias para fazer reformas profundas. Se conter a oposição de seu intuito de barrar as mudanças do governo Lula, todo o povo brasileiro já colhe uma grande vitória.
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