Dívida do governo, que chegou a ser rolada de um dia para o outro, agora tem prazo médio de 40,4 meses
A retomada do crédito fica mais visível quando se visita uma loja de carros. Já é possível comprar um carro zero em 80 meses. Em junho de 2008, o prazo máximo era de 72 meses. Em setembro, às vésperas da crise, era de 60 meses, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Mas a venda de carros em parcelas a perder de vista está longe de ser um fenômeno isolado.
Segundo especialistas, a venda a prazo de carros e eletrodomésticos deve puxar a retomada da economia no segundo semestre. Outro provável motor da economia será a construção civil, impulsionada pela venda de imóveis para a classe baixa a longo prazo. As condições de crédito estão melhorando.
O mesmo raciocínio vale para o governo e para as empresas. Nos tempos de inflação alta, o governo girava sua dívida de um dia para outro, no chamado overnight. Com a estabilidade financeira, o prazo se estendeu. Segundo dados do Banco Central, em setembro de 2008 o prazo de vencimento dos títulos da dívida federal girava em torno de 39 meses. Agora está em 40,4 meses.
Os investidores estrangeiros também estão dando mais prazo para as empresas brasileiras. Levantamento da MCM Consultores mostra que a captação de recursos no exterior - incluindo governo e estatais - chegou a US$ 6 bilhões no primeiro semestre, com prazo médio de resgate de 9,2 anos.
É uma condição bem melhor do que a do segundo semestre de 2008, quando as empresas brasileiras conseguiram captar apenas US$ 300 milhões lá fora e o prazo médio era de três anos. Antes da crise, no primeiro semestre de 2008, as as empresas brasileiras tinham levantado US$ 6,6 bilhões no exterior. E o prazo médio era bem menor que o atual: girava em torno de 7,5 anos.
"O mercado externo está se reabrindo para as empresas de boa qualidade", diz o sócio da MCM Antonio Madeira. O vice-presidente da Associação Nacional de Bancos de Investimento, Alberto Kiraly, também avalia que os prazos voltaram ao patamar pré-crise, mas ressalta que o mercado externo continua seletivo, privilegiando as melhores empresas.
Tarso Rebello, diretor de Tesouraria da Oi, operadora de telefonia móvel, ficou surpreso em abril, quando a sua empresa conseguiu captar US$ 750 milhões no exterior. Para isso, lançou títulos para serem resgatados somente em 2019. "A procura pelos papéis foi muito maior e chegou a US$ 3 bilhões, mesmo num momento de incertezas", conta.
Prazo do comércio bate recorde
O sinal mais forte da confiança na economia brasileira surgiu recentemente nos boletos de crediário do comércio. Em maio, o prazo médio dos financiamentos concedidos aos consumidores chegou a 495 dias - ou um ano e quatro meses para quitar a compra. Trata-se do maior resultado já registrado pela série histórica do Banco Central, iniciada em julho de 1994, na época de lançamento do Plano Real.
Em maio do ano passado, o prazo médio das vendas havia chegado a 456 dias - ou um ano e três meses.
A rápida recuperação do crediário, como o fim do pânico entre os bancos, a retomada da confiança na economia, a queda da taxa básica de juros e o início de uma reação no mercado de trabalho. Agora quase todos os prazos da economia estão sendo esticados, o que ajuda os consumidores, as empresas e o governo a se financiar (leia reportagem na página B3).
"A política do governo é de fortalecer o crédito na ponta", diz o sócio da RC Consultores, Fabio Silveira.. Com isso, continua, há um efeito indutor em outros setores. Ou seja, quando fica mais fácil comprar um carro, toda a cadeia de produção, das autopeças à indústria metalúrgica, além de serviços, como o licenciamento e seguro, acompanham o crescimento.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, atribui a rapidez da melhora do crédito a duas razões. "A estabilidade da economia e o maior amadurecimento fazem com que as condições de crédito sejam restabelecidas rapidamente."
Além disso, Oliveira diz que o fato de a taxa básica de juros, a Selic, estar em um dígito (9,25% ao ano), algo inédito na economia brasileira, força os bancos a reduzir as aplicações em títulos de governo e ampliar o crédito ao consumidor, que ficou mais atraente. (Com informações da Agência Estado)
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