A emenda do terceiro mandato, quando todos achavam que estava enterrada, ressurgiu como uma assombração nos corredores do Congresso Nacional.
O deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) conseguiu nesta quinta-feira (4) repor assinaturas que haviam sido retiradas semana passada.
Com 176 assinaturas válidas, a PEC (proposta de emenda à Constituição) que permite um terceiro mandato para quem exerce o poder Executivo (presidente, governadores e prefeitos) começa a tramitar.
A proposta não conta com apoio dos líderes da base governista. Até mesmo no PT, tem deputados que assinaram à revelia de decisões do partido.
A emenda prevê plebiscito, o que a torna de difícil viabilidade, além de depender de apoios não só na Câmara, mas também no Senado, onde é mais difícil a aprovação.
A PEC tem múltiplos usos e funções por trás dela:
1) o interesse real de muitos deputados na continuidade do presidente Lula, inclusive atendendo legitimamente o anseio de sua base eleitoral;
2) mesmo que emenda não passe, deputados podem usar o fato de a defenderem para se cacifarem perante seu eleitorado, numa forma de ter maior visibilidade vinculada à imagem do presidente, de olho na reeleição em 2010, e busca de votação mais expressiva. Também demarca melhor diante do eleitorado quem é de fato situação e quem é oposição ao governo, uma vez que em 2010 quase ninguém do chamado baixo clero, seja do DEMos, seja do PSDB, deve se apresentar ao eleitor como oposição à Lula (como já aconteceu na eleição para prefeito em 2008).
3) O PMDB não está gostando muito do crescimento rápido de Dilma. Se Dilma começa a dar mostras de que vence com ou sem apoio do PMDB, o cacife do partido diminui muito, perdendo poder de barganha eleitoral para encabeçar chapas regionais em alianças, ao deixar de ser um fiel da balança.
Pelo contrário, se a popularidade de Dilma crescer muito, lideranças regionais peemedebistas é que entrarão na fila para apoiar Dilma, e terão fazer alianças regionais com um PT vitaminado.
Por isso, interessa aos caciques do PMDB enfraquecer um pouco a força eleitoral de Dilma, por hora, e Lula aparecendo como candidato, tira Dilma da vitrine.
4) Mas... falta combinar isso com Lula. Se os holofotes ficarem apontados para ele enquanto se fala em terceiro mandato e ele continuar apoiando Dilma, os únicos que perdem são Serra e Aécio, pois ficarão em segundo plano, enquanto todas as atenções do noticiário político ficarão focadas sobre quem será o candidato do governo: se Lula ou Dilma.
Isso pode explicar o fato de Lula não impedir, nem interferir na apresentação dessa PEC.
5) A possibilidade de Lula ser candidato (mesmo que não seja) tem a função de desnortear as campanhas de Serra e Aécio. Ambos querem criticar "o PT" e Dilma, mas não querem bater de frente com Lula. Se Lula aparece como possível candidato, bagunça toda a estratégia tucana.
Também dificulta o fechamento de alianças dos tucanos nos estados. Muitos líderes regionais preferirão aguardar definição se Lula será ou não candidato.
6) A hipótese do 3º mandato também desnorteia a oposição no Congresso e no PIG, pois ficam obrigados a se dedicarem a pauta do combate ao 3º mandato, em vez de apenas espezinhar o governo com CPI's em série.
Por tudo isso a hipótese do 3º mandato ainda vai continuar assombrando nos próximos meses.
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