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domingo, 26 de abril de 2009

Juros em queda


O Banco Central (BC) vai reduzir na próxima semana a taxa básica de juros (Selic) para o menor nível da história. Hoje, a maioria espera 1 ponto e há até quem crave 0,75. A cautela ganhou força, principalmente, porque o "mercado" e o próprio BC conseguem ver uma melhora consistente da atividade econômica.

Na quarta-feira, o diretor de Política Monetária do BC, Mário Torós, se reuniu com economistas de grandes bancos na sede da autoridade monetária em São Paulo. Ele mostrou, com números, que a economia não está tão deprimida como muitos imaginavam e uma recuperação mais forte da atividade deve ocorrer no segundo semestre.

Um dos exemplos dado por ele foi a demanda. Em fevereiro, as vendas do varejo aumentaram 1,5% na comparação com janeiro e avançaram 3,8% em comparação a fevereiro de 2008, quando não havia qualquer sinal da crise.

Além disso, analistas chamam a atenção para os estímulos fiscais dados pelo governo federal, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para produtos como geladeira, fogão e automóveis. "Nos EUA e na Europa, o consumidor não reage nem levando choques no peito. Aqui, um choquinho no braço já leva as pessoas a comprar um carro zero quilômetro", compara o economista-chefe do banco HSBC no Brasil, André Loes. Ele projeta um recuo de 0,75 ponto na Selic, para 10,50%.

O estrategista do banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani, cita, ainda, a melhora dos mercados mundiais nas últimas semanas "Não há certeza de que o pior já passou, mas os investidores veem hoje uma probabilidade menor de que haja uma depressão."Ele diz que, quanto melhor é o cenário externo, menos agressivo pode ser o BC no corte dos juros.

Impacto no rendimento da poupança

Um corte mais moderado da taxa de juros na próxima reunião do Copom pode dar mais tempo para o governo decidir o que fazer com as regras de correção da caderneta de poupança. Hoje, a poupança tem rendimento fixo de 0,5% ao mês mais variação da Taxa Referencial (TR). No ano, essa regra está rendendo cerca de 7,3% ao ano, livre de impostos, enquanto a maioria dos fundos de renda fixa disponíveis aos investidores está rendendo cerca de 9% ao ano após o desconto do Imposto de Renda (IR) e das taxas de administração.

Se a Selic cair de 11,25% para 9,75%, é provável que os fundos oferecidos pelos bancos empatem em rentabilidade com a poupança. E a queda da Selic até junho deve ser maior ainda. Por isso, o governo cogita restabelecer a cobrança de IR sobre depósitos de poupança maiores que um determinado piso, entre R$ 5 mil e R$ 20 mil.

De acordo com os dados do BC, 92% dos poupadores têm menos de R$ 5 mil aplicados na caderneta. Esse porcentual sobe para 96% ou 97% nas aplicações até R$ 15 mil. Ou seja, a princípio, a maioria dos poupadores estaria protegida.

O problema é que a medida é extremamente delicada politicamente e já rendeu ataques públicos ao governo, como no programa de TV do PPS, que comparou a proposta do governo Lula ao confisco realizado pelo governo Collor. Em 1990, o ex-presidente bloqueou os depósitos de poupança e de outras aplicações financeiras acima de determinado valor para tentar reduzir a moeda em circulação e conter a hiperinflação.

O Palácio do Planalto classificou como "irresponsabilidade" as declarações dos parlamentares do PPS. Mas o episódio serviu para chamar a atenção do presidente sobre a repercussão que a mudança de regras da poupança poderia ter. Se o Copom decidir reduzir a Selic em 1 ponto porcentual, o governo pode esperar um pouco mais para preparar o anúncio de sua decisão ao público. O temor é que, sabendo da eminência da decisão, muitos investidores troquem os fundos pela poupança até o nível de isenção de imposto.

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