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terça-feira, 14 de abril de 2009

Entrevista de Lula ao Jornal O Dia

Entrevista do presidente Lula ao Jornal O Dia do Rio de Janeiro:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garante que as mudanças previstas nos cálculos dos rendimentos das cadernetas não vão prejudicar os poupadores com saldos menores. “Nós queremos encontrar mecanismos para que os pequenos investidores fiquem protegidos”, afirma. Segundo ele, a equipe econômica estuda mecanismos para adequar a aplicação financeira à nova realidade da queda nas taxas de juros, considerada fundamental para enfrentar a crise financeira internacional.

Questionado se houve arrependimento em declarar que a crise global seria uma “marola”, Lula reafirmou que, atualmente, embora pouco tranquila, a situação do Brasil é “muito menos preocupante do que a de países desenvolvidos”. O presidente aponta nesta entrevista ao DIA, com perguntas e respostas por e-mail, alguns sinais de recuperação do País, fala ainda sobre as alianças políticas para 2010 e destaca os investimentos para o Rio de Janeiro. Hoje, Lula volta ao estado para participar da mais importante feira de defesa e segurança da América Latina, no Riocentro, e amanhã, estará presente ao Fórum Econômico Mundial.

O senhor continua com a mesma disposição de mexer na poupança, como manifestou em março? A ideia do governo é mexer com os rendimentos de todos os poupadores (a grande maioria tem investimentos de até R$ 2 mil) ou apenas com os investidores de maior volume da poupança? Se for com os de maior volume, qual seria esse teto e como seria o novo rendimento?

Nós estamos desenvolvendo uma política de redução dos juros com o objetivo de baratear o crédito para os consumidores e o setor produtivo, o que é fundamental para atenuar os efeitos dessa crise econômica. E temos que harmonizar essa medida, que é fundamental para o País, para o seu crescimento econômico, com a manutenção dos ganhos da poupança. Por isso, estamos estudando com muita atenção e cuidado as maneiras de manter a poupança como um instrumento sólido e atrativo para os pequenos poupadores e, ao mesmo tempo, de adequá-la à nova realidade de juros mais baixos no País. Queremos encontrar mecanismos para que os pequenos investidores fiquem protegidos. A área econômica está fazendo estudos sobre o assunto e em breve discutiremos as mudanças.

O senhor investe suas economias na poupança, em fundos de investimento ou no mercado de ações?

Com as responsabilidades que tenho como presidente da República, eu não posso fazer nenhuma declaração que possa influenciar a população em relação a este ou àquele tipo de aplicação. Minha atuação tem que ser no sentido de melhorar a economia como um todo, de fazer o País crescer para criar novos postos de trabalho, e de crescer com distribuição de renda, com a redução das desigualdades sociais e regionais. Com um País mais equilibrado, com maior justiça social e com bom índice de crescimento econômico, todos ganharão com as aplicações, principalmente as que forem no setor produtivo.

Que novos investimentos o governo federal planeja para o Rio de Janeiro?

O Estado do Rio de Janeiro, pela sua importância para o País em vários setores, e pelas demandas acumuladas, tem recebido um apoio substancial do nosso governo em todas as áreas. Só no PAC, está sendo destinado ao Rio um montante de recursos de R$ 94 bilhões até 2010, sendo R$ 112 bilhões após 2010. São investimentos em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, metrô, habitação, saneamento, usinas hidrelétricas, gasodutos, refinarias, exploração e produção de petróleo e gás, com destaque para o Arco Rodoviário, o Trem de Alta Velocidade entre Rio e São Paulo, Aeroporto Tom Jobim, indústria naval, Complexo Petroquímico (Comperj), exploração do pré-sal, urbanização das favelas da Rocinha, Manguinhos e Complexo do Alemão. Nesse momento, estamos discutindo recursos para obras de drenagem para minorar as enchentes na capital e em toda a Região Metropolitana.

O senhor acredita que a insistência do prefeito Lindberg Farias em ser candidato ao governo do Estado do Rio pode prejudicar a aliança com o PMDB na eventual chapa com Dilma Rousseff à Presidência da República e sua aliança com o governador Sérgio Cabral, que já anunciou ser candidato à reeleição?

É muito cedo para a gente tratar dessas questões. Nessa altura do campeonato eleitoral, os partidos ainda contam com muito tempo para as articulações, antes de bater o martelo e definir alianças e candidaturas. É perfeitamente normal, nesta fase, que os partidos ainda estejam definindo propostas, estudando forças e a dos possíveis aliados e divulgando seus eventuais cabeças de chapa. Mesmo que não haja entendimento, e eu acredito que haverá, a aliança nacional permanece. Já houve casos semelhantes, nas últimas eleições municipais, de partidos da base aliada saírem com candidaturas concorrentes e isso não prejudicar a aliança nacional. Eu, de minha parte, estou muito mais preocupado nos dias atuais em trabalhar o tempo todo para atenuar os efeitos da crise, discutindo e aprovando medidas que evitem o desemprego e que possam garantir índice positivo de desenvolvimento. As articulações visando as próximas eleições ficam a cargo dos partidos da base aliada, e eu estou confiante na sua capacidade de negociação e de entendimento.

O senhor se arrepende de ter considerado a crise financeira mundial só uma "marola" para o Brasil?

As previsões sobre a profundidade e a duração da crise mundial estão sendo refeitas pelos especialistas, desde os primeiros sintomas da crise, quase que diariamente. Quantas vezes os economistas já refizeram seus cálculos? Eu já perdi a conta. Além do mais, os dirigentes de grandes instituições bancárias, com suas equipes de pesquisadores e de economistas, não conseguiram prever, até às vésperas, que uma crise destas proporções estava a caminho e sequer que eles próprios estavam indo pro vinagre. Como de fato foram, levando junto os seus palpites infelizes, sem nenhum fundamento, sobre a nossa economia. E, atualmente, eu reafirmo que aqui no Brasil a situação, embora não seja tranquila, é muito menos preocupante do que a de países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, já não adianta injetar recursos e mais recursos no sistema bancário. A única saída possível é a estatização. Aqui, nossos bancos permanecem sólidos. Enquanto lá, uma potência do setor automobilístico chega a dizer publicamente que a quebra pode ser a “melhor opção”, no Brasil, a indústria automobilística está batendo recordes. As vendas de veículos neste primeiro trimestre foram 3,15% mais altas do que no primeiro trimestre de 2008. E já há vários outros sinais de recuperação. O consumo de energia elétrica, um dos indicadores mais precisos do nível de atividade econômica, cresceu 2,9% em março, comparado com fevereiro. Confirmando essa tendência, o IBGE constatou que em fevereiro houve crescimento da produção industrial em nove das 14 regiões pesquisadas. O setor de construção civil, antes mesmo da implementação do plano de 1 milhão de casas, já retomou, em fevereiro, o mesmo nível do emprego que havia antes da chegada da crise econômica. A situação está resolvida? Claro que não. Mas há vários outros sinais muito animadores, o que fazem com que nossas previsões tenham ficado mais próximas da realidade do que as dos alarmistas.

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