A renovação da Mesa Diretora intensificou, nos últimos dias, as exonerações e nomeações de servidores no Senado. Foi de carona nesse vaivém que Natalício Tenório Cavalcanti, ex-prefeito de São Lourenço, cidade mineira a 387km de Belo Horizonte, conseguiu um cargo comissionado na Casa: está escalado para ser assistente parlamentar na Primeira-Secretaria, área comandada pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Tal designação passaria despercebida não fosse o histórico do ex-prefeito
Tenorinho, como é conhecido entre seu eleitorado, é neto do ex-deputado federal Tenório Cavalcanti, que fez fama na Baixada Fluminense como o Homem da Capa Preta A exemplo do avô — tido entre os mais pobres como um defensor do povo —, o ex-prefeito buscou apoio nas comunidades menos favorecidas de São Lourenço para se eleger prefeito em 2004. Costuma dizer que a célebre ascendência o ajudou a construir uma trajetória política, mas que tem história própria.
Em outubro passado, no entanto, ele sofreu um revés. Concorreu à reeleição ,perdeu a disputa em meio às denúncias de irregularidades investigadas pela Justiça Eleitoral e pela Polícia Federal.
Sem o comando do município, o ex-prefeito recorreu aos aliados do Senado para não ficar de mãos vazias. Ele traz na bagagem um currículo questionável: tem condenação da Justiça Eleitoral, confirmada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas Gerais, por distribuição irregular de cestas básicas durante a campanha de 2008, quando disputou e perdeu a reeleição. Está inelegível pelo próximos três anos, além de ter sido multado em R$ 25 mil. Assim que soube do resultado, ele declarou que recorreria dessa decisão.
No ano passado, ele foi alvo da Operação João de Barro, ação da PF realizada contra esquema de fraudes em obras financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) envolvendo prefeituras de Minas Gerais. O ex-prefeito teve a casa revistada, além de gabinetes da prefeitura e de secretarias municipais. Num dos relatórios anexados ao inquérito, a PF levantou a suspeita de que o político, em troca de suposta propina, atuaria em favor de um dos lobistas investigados.
Nomeações
Mesmo sendo um integrante do PR mineiro, partido que nada tem a ver com o primeiro-secretário do Senado — Heráclito Fortes é do DEM piauiense —, Tenorinho conseguiu a vaga numa leva de nomeações e exonerações realizadas pelo parlamentar, recém-chegado ao posto. O Ato nº 343 que nomeou o ex-prefeito, assinado pelo diretor-geral adjunto, foi publicado no boletim administrativo de 11 de fevereiro. A Primeira-Secretaria, destino do ex-prefeito, é responsável pelas contratações da Casa.
Procurada pelo Correio durante o fim de semana, a assessoria de Heráclito informou que somente hoje poderia dar alguma informação sobre a nomeação. A reportagem tentou localizar Tenorinho, por telefone, em São Lourenço, mas não o encontrou. Houve também uma tentativa de contato, em Belo Horizonte, com Guilherme Octávio Rodrigues, um dos advogados do ex-prefeito, também sem sucesso.
Para saber mais
Poder de Lurdinha, a metralhadora
Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque, que se popularizou como Tenório Cavalcanti, nasceu em Quebrangulo, em Palmeira dos Índios, Alagoas, em 1906. Vinte anos depois, migrou para a Baixada Fluminense em busca de emprego. Após alguns bicos, tornou-se administrador de uma fazenda em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, e depois fiscal da Prefeitura de Nova Iguaçu.
Adquiriu a fama de pistoleiro, chamado de O homem da Capa Preta, sob a qual sempre carregava a metralhadora batizada de Lurdinha. Envolveu-se com as tramas políticas da região, onde enriqueceu e se tornou poderoso e polêmico, após criar um eficiente sistema clientelista. As aspirações e os planos políticos de Cavalcanti chocavam-se com o das elites de Duque de Caxias. Isso lhe rendeu diversos desafetos, muitos dos quais culminaram em atentados à vida dele e de familiares.
A carreira política começou em 1936, quando se elegeu para a Câmara de Nova Iguaçu. Em 1950, chegou à Câmara dos Deputados novamente pela UDN, com a quarta maior votação estadual. Foi aí que ele incorporou definitivamente a imagem de líder carismático dos migrantes nordestinos, sempre empunhando sua metralhadora e envergando uma enigmática capa preta. Tenório morreu de pneumonia aos 82 anos, em 5 de maio de 1987. Inspirou o filme O Homem da Capa Preta, clássico do cinema brasileiro da década de 1980, dirigido em 1986 por Sérgio Rezende e protagonizado por José Wilker. (Correio Braziliense)
Em outubro passado, no entanto, ele sofreu um revés. Concorreu à reeleição ,perdeu a disputa em meio às denúncias de irregularidades investigadas pela Justiça Eleitoral e pela Polícia Federal.
Sem o comando do município, o ex-prefeito recorreu aos aliados do Senado para não ficar de mãos vazias. Ele traz na bagagem um currículo questionável: tem condenação da Justiça Eleitoral, confirmada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas Gerais, por distribuição irregular de cestas básicas durante a campanha de 2008, quando disputou e perdeu a reeleição. Está inelegível pelo próximos três anos, além de ter sido multado em R$ 25 mil. Assim que soube do resultado, ele declarou que recorreria dessa decisão.
No ano passado, ele foi alvo da Operação João de Barro, ação da PF realizada contra esquema de fraudes em obras financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) envolvendo prefeituras de Minas Gerais. O ex-prefeito teve a casa revistada, além de gabinetes da prefeitura e de secretarias municipais. Num dos relatórios anexados ao inquérito, a PF levantou a suspeita de que o político, em troca de suposta propina, atuaria em favor de um dos lobistas investigados.
Nomeações
Mesmo sendo um integrante do PR mineiro, partido que nada tem a ver com o primeiro-secretário do Senado — Heráclito Fortes é do DEM piauiense —, Tenorinho conseguiu a vaga numa leva de nomeações e exonerações realizadas pelo parlamentar, recém-chegado ao posto. O Ato nº 343 que nomeou o ex-prefeito, assinado pelo diretor-geral adjunto, foi publicado no boletim administrativo de 11 de fevereiro. A Primeira-Secretaria, destino do ex-prefeito, é responsável pelas contratações da Casa.
Procurada pelo Correio durante o fim de semana, a assessoria de Heráclito informou que somente hoje poderia dar alguma informação sobre a nomeação. A reportagem tentou localizar Tenorinho, por telefone, em São Lourenço, mas não o encontrou. Houve também uma tentativa de contato, em Belo Horizonte, com Guilherme Octávio Rodrigues, um dos advogados do ex-prefeito, também sem sucesso.
Para saber mais
Poder de Lurdinha, a metralhadora
Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque, que se popularizou como Tenório Cavalcanti, nasceu em Quebrangulo, em Palmeira dos Índios, Alagoas, em 1906. Vinte anos depois, migrou para a Baixada Fluminense em busca de emprego. Após alguns bicos, tornou-se administrador de uma fazenda em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, e depois fiscal da Prefeitura de Nova Iguaçu.
Adquiriu a fama de pistoleiro, chamado de O homem da Capa Preta, sob a qual sempre carregava a metralhadora batizada de Lurdinha. Envolveu-se com as tramas políticas da região, onde enriqueceu e se tornou poderoso e polêmico, após criar um eficiente sistema clientelista. As aspirações e os planos políticos de Cavalcanti chocavam-se com o das elites de Duque de Caxias. Isso lhe rendeu diversos desafetos, muitos dos quais culminaram em atentados à vida dele e de familiares.
A carreira política começou em 1936, quando se elegeu para a Câmara de Nova Iguaçu. Em 1950, chegou à Câmara dos Deputados novamente pela UDN, com a quarta maior votação estadual. Foi aí que ele incorporou definitivamente a imagem de líder carismático dos migrantes nordestinos, sempre empunhando sua metralhadora e envergando uma enigmática capa preta. Tenório morreu de pneumonia aos 82 anos, em 5 de maio de 1987. Inspirou o filme O Homem da Capa Preta, clássico do cinema brasileiro da década de 1980, dirigido em 1986 por Sérgio Rezende e protagonizado por José Wilker. (Correio Braziliense)
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