Terra Magazine destaca trechos da decisão judicial que esclarecem os envolvimentos políticos da empreiteira. A Operação Castelo de Areia, deflagrada nesta quarta-feira, 25, pela Polícia Federal em São Paulo e no Rio de Janeiro, segue o rastro de crimes financeiros, lavagem de dinheiro e doação ilegal para partidos políticos.
"-... Os resultados das investigações realizadas pela Polícia Federal também lograram apurar, em tese, alguns diálogos que envolveriam supostas doações não declaradas para políticos e partidos políticos, eventualmente efetivadas pelo GRUPO CAMARGO CORREA ou por seus diretores."
"-... Durante o monitoramento telefônico realizado no interregno de 15.09.2008 a 16.09.2008, suspeita-se que a empresa CAMARGO CORREA, eventualmente por meio de seus diretores, DÁRCIO, PIETRO e FERNANDO, teria mantido contatos com a FIESP, esta representada em Brasília por... (...) (fone...), para a suposta distribuição de valores a políticos e/ou partidos políticos."
"-... Por meio das interceptações, verificou-se, outrossim, que FERNANDO BOTELHO utilizar-se-ia do nº..., o qual estaria cadastrado em nome de empresas do grupo CAMARGO CORREA... FERNANDO teria solicitado explicações a PIETRO... tendo sido feita suposta menção a divisão de valores, em tese, doados para partidos políticos (a princípio, PSDB e PS)..."
"- ... Constaria distribuição de dinheiro a diversos partidos, como, a princípio, PPS, PSB, PDT, DEM e PP, fato que estaria listado em algum documento ou mídia eletrônica."
"-...Os diálogos monitorados revelam em princípio tratativas e possíveis entregas de numerários supostamente a políticos e a partidos políticos oriundos, em tese, da empresa CAMARGO CORRÊA, com a suposta intermediação da FIESP, direta ou indiretamente."
"-... Observa-se, ainda, da conversa travada entre LUIZ HENRIQUE e FERNANDO a discussão sobre a destinação de um valor do PMDB do Pará de R$ 300.000,00, em que FERNANDO teria mencionado que tal quantia já estaria aprovada..."
"-... Com relação ao monitoramento das comunicações efetivadas pelo correio eletrônico, observa-se a interceptação de uma mensagem na qual DÁRCIO estaria cobrando de LUIZ recibo atinente a eventuais doações a partidos políticos supostamente efetuados pela CAMARGO CORREA no pleito eleitoral do ano de 2008."
Operação da PF investiga obras em refinaria de PE
Decisão sem conteúdo sigiloso, do juiz Fausto De Sanctis, da Sexta Vara Federal de São Paulo, traz um extenso relatório de remessas ilegais de diretores da construtora Camargo Correa ao exterior. O suíço Kurt Paul Pickel é apontado como intermediário das remessas.
Segundo a decisão judicial, Pickel "estaria atuando no mercado paralelo de câmbio e realizando operações conhecidas como dólar 'cabo', sendo, em tese, o responsável pela prestação de serviços ilegais junto a grandes empreiteiras/construtoras, como a Camargo Correa".
A operação de dólar-cabo é um sistema paralelo de remessas de recursos usado por doleiros para a lavagem de dinheiro, fora dos canais de conversão autorizados pelo Banco Central.
Os investigadores recorreram a escutas telefônicas e telemáticas legais. Na mira, o superfaturamento de obras públicas, entre elas a Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE).
-... a autoridade policial carreou ao feito documentos compartilhados com o Tribunal de Contas da União dando conta acerca de eventual sobrepreço e superfaturamento de obras públicas, atinentes a construções que teriam sido realizadas em parte pela Camargo Correa na REFINARIA ABREU E LIMA...
Noutro trecho, a Operação Castelo de Areia é relacionada à Operação "Downtown", que, em agosto de 2008, desarticulou 14 quadrilhas de doleiros.
- ... No que concerne à suposta ligação do grupo desmantelado de supostos doleiros da Operação "DOWNTOWN" com integrantes da CAMARGO CORREA, juntamente com KURT PAUL PICKEL, a Polícia Federal anexou ao feito documentos apreendidos quando da deflagração daquela operação, em que teria sido possível aferir, em tese, através de rascunhos , os nomes de FERNANDO, MARISA, DARCIO BRUNATO e KURT, os quais estariam , em tese, recebendo valores advindos de TIGRÃO, possível "doleiro" que atuaria no Uruguai.
Mais à frente, em sua decisão, o juiz chama atenção para o relatório da PF. Ressalta o uso do Unibanco pelos indiciados com a finalidade de atribuir aparente legalidade às transações:
-... Segundo Relatório Final da Polícia Federal, as ações dos indivíduos, em tese, buscariam inicialmente aparentar um caráter lícito às referidas transações financeiras, através de utilização de instituição financeira oficial (UNIBANCO) e a pretexto de suposto pagamento a fornecedores, para, em seguida, pulverizar tais valores no exterior.
Em nota, a corretora Camargo Correa "vem a público manifestar sua perplexidade diante dos fatos ocorridos hoje pela manhã, quando a sua sede em São Paulo foi invadida e isolada pela Polícia Federal, cumprindo mandado da Justiça".
"O Grupo reafirma que confia em seus diretores e funcionários e que repudia a forma como foi constituída a ação ... trazendo incalculáveis prejuízos à imagem de suas empresas."
A empresa alega que "que cumpre rigorosamente com todas as suas obrigações legais".
A informação é do Terra Magazine
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