O mal-estar causado no governo e na cúpula do PMDB pela disputa na Fundação Real Grandeza, fundo de pensão dos empregados da estatal Furnas Centrais Elétricas - dono de um patrimônio de R$ 6,3 bilhões -, levou o Presidente Lula a pedir o adiamento da reunião extraordinária do conselho deliberativo para decidir a mudança de comando do fundo, convocada para hoje.
O adiamento foi decidido em uma reunião, ontem à tarde, do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, com Lula. Lobão garantiu não ter orientado Furnas a mudar a gestão da Real Grandeza, mas apresentou dois argumentos técnicos para justificar a troca de comando. Segundo ele, os atuais gestores não entregaram até hoje à direção de Furnas um relatório com o desempenho das aplicações financeiras do Real Grandeza, conforme pedido que teria sido feito em outubro.
Além disso, o ministro ficou contrariado com a prorrogação do mandato da atual diretoria do fundo, eleita em 2005, decidida pelo conselho do fundo. Ela estendeu o mandato de três para quatro anos e instituiu a possibilidade de reeleição, em processo que Lobão avalia como pouco transparente.
Segundo o presidente do Real Grandeza, Sérgio Wilson Ferraz Fontes, a mudança no tamanho do mandato foi votada pelo conselho deliberativo para adaptar o estatuto da fundação às mudanças feitas pela Lei Complementar 108 de 2001. Segundo ele, a nova lei reduziu o poder das patrocinadoras e deu maior poder aos participantes, inclusive criando os conselhos deliberativos paritários de seis membros. Como os conselheiros passaram a ter quatro anos de mandato, eles decidiram unificar os mandatos dos diretores.
A decisão do governo foi facilitada pelo "constrangimento" causado na direção do PMDB, principalmente do presidente da Câmara e do partido, Michel Temer (SP), pela ação de alguns de seus partidários do Rio para assumir o controle do fundo.
Atribuída especialmente ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a tentativa de substituir a direção do fundo - a terceira em dois anos - provocou forte reação dos sindicatos dos eletricitários de vários Estados, que ameaçam reagir com greve caso haja a troca de comando no fundo. Pemedebistas viram a digital do PT por trás da forte mobilização sindical. A direção do PMDB nega qualquer envolvimento. Nos bastidores, admite-se incômodo com a suposta pressão exercida por Cunha, num momento em que o comando do PMDB acaba de ser acusado pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) de corrupção e fisiologismo em entrevista à revista "Veja".
"Essa ação tem nome, endereço e CPF", diz um dirigente pemedebista, referindo-se ao grupo do Rio (com ramificações em Minas Gerais) comandado por Eduardo Cunha. A cúpula pemedebista está tentando "demover" o deputado em relação ao fundo, mas nos bastidores, pois, segundo a fonte ouvida pelo Valor, "o PMDB nunca trata com brutalidade de suas questões internas".
Cunha, que estava ontem em Nova York, negou interesse ou participação na tentativa de trocar a direção do fundo: "Não tenho nada com isso. Querem colar isso em mim. Não conheço os que estão lá nem os que querem entrar. Se encontrarem qualquer prova de que os conheço, renuncio ao meu mandato."
A CPI dos Correios apontou indícios de irregularidades na gestão da Real Grandeza entre 2000 e 2005. Essas supostas fraudes somaram R$ 37 milhões e teriam alimentado o esquema conhecido como mensalão. A atual gestão assumiu em agosto de 2005, com o propósito de sanear o fundo.
A queda-de-braço envolve o presidente de Furnas, Carlos Nadalutti Filho, funcionário de carreira da estatal e indicado pelo PMDB, que quer substituir o presidente do fundo, Sérgio Fontes, e o diretor de Investimentos, Ricardo Gurgel Nogueira, por Eduardo Henrique Garcia, gerente da área financeira de Furnas. Nogueira assumiria a presidência do fundo e acumularia interinamente, a diretoria.
No governo, há insatisfação com o fato de Fontes estar no comando do fundo desde que a presidência de Furnas era ocupada por José Pedro Rodrigues, antecessor de Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio, que ocupou o cargo por indicação do PMDB. (Colaborou Chico Santos, do Rio)
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