O juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal, afirmou ontem não acreditar na possibilidade de seu afastamento do processo em que o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, é acusado de corrupção.
Em tom de desabafo, De Sanctis disse que o "juiz não pode ser esponja". "O juiz não é um computador, uma esponja, que absorve a jurisprudência e deixa fluir. Eu me recuso a ser esponja", declarou o juiz, em palestra para universitários no Rio.
Ele afirmou ainda que o uso de grampos telefônicos é o "caminho" para as investigações sobre crime organizado. "O crime organizado só é investigado quando o Estado tem de usar uma medida que é mais invasiva. Não tem jeito", afirmou o juiz, muito aplaudido ao fim da palestra. "Ou o Judiciário se legitima para fazer justiça, seja qual for, contra quem quer que seja, ou perde a razão de ser", reiterou.
De Sanctis disse acreditar que o "crime econômico" é muito mais lesivo que os de roubo ou furto. "Começa a existir certa consciência coletiva de que o crime econômico é muito mais lesivo, muitas vezes mais do que um crime como o de roubo ou furto. Às vezes, o econômico corrói e destrói mais o Estado de Direito."
O Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região em São Paulo adiou o julgamento do pedido de afastamento do juiz De Sanctis do processo em que Dantas é acusado de corrupção.
Segundo a assessoria do TRF, o julgamento, que seria retomado ontem, não entrou na pauta. O primeiro voto, de três desembargadores, foi proferido na semana passada. A relatora do caso, Ramza Tartuce, se posicionou de forma favorável ao magistrado.
A defesa de Dantas questiona a imparcialidade do juiz para seguir no processo e já dá como certa a condenação do banqueiro. Ela sustenta que De Sanctis trabalhou alinhado ao delegado federal Protógenes Queiroz, que coordenou a Operação Satiagraha e depois foi afastado do caso pela cúpula da Polícia Federal, e ao procurador da República Rodrigo de Grandis.
Na semana passada, Protógenes denunciou a existência de uma articulação supostamente comandada por Dantas para afastar De Sanctis das investigações. O delegado disse que o juiz vai ser afastado do caso porque pretende expedir, nos próximos dias, sentença condenando o banqueiro por crimes de gestão fraudulenta e corrupção.
"São dois pedidos de suspeição que estão tramitando e há uma discussão de cúpula com intuito de macular um trabalho isento, um trabalho digno e honesto de um juiz com a capacidade técnica à altura do que a magistratura brasileira merece e há esse intuito de tentar afastá-lo", disse o delegado.
Protógenes afirmou que existe um "estratagema sórdido" articulado por Dantas para impedir que o juiz continue no caso. O delegado atribui às articulações do banqueiro os mandados de busca e apreensão realizados em sua residência, na semana passada, pela Polícia Federal.
"Essa busca e apreensão é um estratagema sórdido implantado pelo seu Daniel Dantas para poder confundir os trabalhos da investigação da Satiagraha, de que ele é o alvo principal, e nós investigadores passamos a ser investigados, passamos a ser acusados de crimes que nós não cometemos", afirmou.
Protógenes disse que, se De Sanctis for afastado do caso, a Justiça vai acabar por não condenar o banqueiro. "Nos próximos dias o doutor Fausto De Sanctis vai expedir uma sentença que eu tenho certeza que vai ser condenatória. Tenho certeza de que o doutor Fausto De Sanctis vai dar uma sentença a altura do que a sociedade esta esperando."
O advogado de Dantas, Nélio Machado, classificou como "delírio" a afirmação de Protógenes sobre a existência de uma articulação supostamente comandada pelo banqueiro para afastar o juiz De Sanctis das investigações da Operação Satiagraha.
Segundo Machado, o delegado age com uma postura "incompatível" com as leis do país. "O delegado não tem atribuição judiciária. Ele se excede e compromete mais ainda o trabalho que fez." O advogado disse ainda que, se Dantas tivesse tantos poderes como afirma o delegado, não estaria na "luta de enfrentar leões".
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