O governo de José Serra (PSDB) comete erros por mais tempo ao não negociar com grevistas, mas o equívoco dos policiais civis ao trocarem tiros anteontem nas imediações do Palácio dos Bandeirantes foi mais exuberante. A avaliação é do sociólogo Claudio Beato, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e um dos maiores especialistas em polícia no Brasil. Outros analistas concordam que as duas partes cometem erros.
Serra, segundo Beato, também erra em três frentes: ao não negociar com os grevistas; ao prestigiar a Polícia Militar e aumentar a rivalidade com a Polícia Civil; e por não ter planejado reajustes nos salários dos policiais. "Houve muito investimento em equipamento e pouco em pessoal."
Outra falha, para ele, foi não ter um plano B que conseguisse evitar que a população fosse afetada. Beato diz que o governador de Minas, Aécio Neves, foi mais hábil, em 2003, ao enfrentar uma greve das duas polícias: pôs o Exército nas ruas e esvaziou o movimento.
Erros do governo
José Afonso da Silva, professor aposentado da Faculdade de Direito da USP e secretário de Segurança de 1995 a 1999, na gestão Mário Covas (PSDB), diz, se tivesse dialogado no começo, a greve não teria chegado ao estágio de conflito."
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues, pesquisador da história do sindicalismo, diz ;Não dá para dizer se os sindicalistas erraram, porque a questão depende de como a opinião pública absorverá o conflito. "Não dá para saber se isso será benéfico para Marta [Suplicy, candidata do PT à prefeitura]. Vai depender da capacidade do Serra de justificar o confronto."
O desembargador Henrique Calandra, do Tribunal de Justiça e presidente Associação Paulista de Magistrados, diz que faltou empenho do governo para resolver a questão no Supremo Tribunal Federal.
O governo praticamente abandonou a negociação no Tribunal Regional do Trabalho ao pleitear que o fórum adequado para o conflito era a Justiça comum, e não a trabalhista. Como não há lei sobre greve para funcionários públicos, a questão será decidida pelo ministro Eros Grau, do STF. Para Calandra, a Procuradoria paulista deveria pedir ao ministro uma resolução rápida. "O que não pode é ficar com o processo parado, olhando para a crise que se agrava a cada dia."
Ariel de Castro Alves, do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), diz que o governo foi intransigente ao não aceitar que o órgão e a OAB intermediassem a negociação. Houve, para ele, um erro de avaliação do governo: o de que a greve perderia força e acabaria.
Após o confronto, Marzagão fica em silêncio
Após o maior confronto entre policiais civis e militares do Estado de São Paulo, o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, chefe das duas corporações, permaneceu em silêncio. Sua única manifestação ocorreu por volta das 20h de ontem, por meio de nota encaminhada via assessoria, em que anunciava providências. Desde o início da greve, em 16 de setembro, o secretário vem evitando entrevistas. A mesma estratégia de silêncio vem sendo adotada pelo governador, que apenas anteontem, deu declarações transferindo a culpa para PT
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