O Jornal Folha de São Paulo aborda uma notícia contraditória sobre a dificuldade da PF em quebrar a senha de acesso aos HD (discos de computador) apreendidos no apartamento de Daniel Dantas.
Cita como fonte um perito oculto que diz que seria necessário até 1 ano para descobrir a senha. E no meio da reportagem, contradiz a informação dizendo que estão vindo outros peritos de Brasília (da própria PF).
Ora, se o perito que foi fonte da Folha diz que vem gente com mais conhecimento do que ele, porque seus conhecimentos estão insuficientes, deduz-se que ele falou sobre hipótese.
Paulo Henrique Amorim, pega o gancho e dá suas peruadas: diz que Protógenes conseguiria a senha em 2 minutos e meio, nos tempos em que Paulo Lacerda era chefe da Polícia Federal.
Acontece que a perícia feita neste antigo HD solicitada por Protógenes foi feita DEPOIS que Paulo Lacerda saiu da PF.
Para que a boa informação não seja assassinada, vamos aos fatos:
1) No relatório da operação Satiagraha, primeira versão vazada para a Internet pelo site "Consultor Jurídico", aparece no final a íntegra do Laudo do HD:
Este laudo foi elaborado em 21 de maio de 2008.
Não conheço a nonestidade de Luiz Fernando Correa (a não ser pelo noticiário, e não há nenhuma denúncia de fato contra ele), mas nesta data ele já era diretor-geral da PF há um bom tempo.
O laudo é quase um mês posterior à publicação da reportagem da Andrea Michael na Folha de São Paulo, portanto, já tinha vazado e todo mundo já sabia que a operação estava em curso. Se a PF estivesse protegendo Dantas, o natural é que o laudo não "enxergasse" o que apontou: listas de aplicadores do Opportunity Fund em Cayman.
Os peritos que assinaram o laudo foram Fábio Melo Pfeifer e Thiago de Sá Cavalcanti, escalados pelo diretor do Instituto Nacional de Criminalística Glênio Guimarães Belluco.
2) As informações sobre o quê foi apreendido no apartamento de Daniel Dantas são controversas:
- falou-se que o auto de apreensão tem 74 ítens.
- falou-se m 16 HDs, depois 12HDs e fala-se em 5 HDs.
- falou-se em CD-roms ou DVD-roms sem citar quantidade (são tão ou mais valiosos que os HDs.
- falou-se em estarem guardados em uma parede falsa, e falou-se em estarem dentro de uma sacola de plástico no fundo de um armário de correr (closet, o que alguém poderia ter descrito como sendo parede falsa, dependendo da decoração).
Esta apreensão foi feita no Rio de Janeiro, e não foi Protógenes quem fez (pois ele estava em São Paulo). Foi outra equipe da PF quem apreendeu. Protógenes presidiu o inquérito até 18 de julho, então deve ter averiguado tudo o que foi apreendido, através dos autos de apreensão.
3) A preocupação de leigo é quanto a integridade dos HD serem destruídos como prova. Porém essa teoria conspiratória é difícil de acreditar.
Geralmente HDs periciados são, antes de mais nada, copiados bit a bit (sem modificar nada) para outro HD ou dispositivo óptico. O HD original volta a ser lacrado, e não é mais manuseado. Esse processo pode ser acompanhado tanto pelo Ministério Público como pelos advogados de defesa, e normalmente cada qual pode ter acesso à cópias.
As cópias dos originais é que sofrem a perícia propriamente dita, sem manuseio do original apreendio.
4) Nos HDs podem haver muita informação e das boas, que elucidem alguns dos maiores casos de corrupção no Brasil, porém na falta de fatos sobra a imaginação.
Sobre a dificuldade em quebrar senha, o jornalismo foi preguiçoso. Bastaria entrevistar especialistas para saber da dificuldade. O próprio governo dos EUA reconhece incapacidade de quebrar alguns códigos.
Não sabemos se estes HDs são antigos ou recentes. Se são sucata e Daniel Dantas não quis jogar fora pelo mesmo motivo que deve queimar seus papéis em vez de jogá-los no lixo.
E causa estranheza também guardar informações secretas para efeito de chantagem em HD's grandes e obsoletos para este objetivo. Com a tecnologia recente, um pen-drive comporta até 32GB de memória, um i-pod (mp3/mp4) comporta até 80GB, há celulares também com 80GB. Estas tecnologias já existiam de 2005 para cá (após a operação chacal).
Há pouco tempo, logo após as prisões, o forte do noticiário foi uma planilha em papel apreendida, assim como os HDs, onde aparecia "contribuições para a campanha de João à presidência" e "1,5 milhão para que um dos nossos companheiros não fosse indiciado criminalmente".
O assunto morreu no noticiário, sem explicações até agora.
Por isso continua valendo a precaução: a investigação está em segredo de justiça, então quem é cumpridor da lei preserva o sigilo. Quem vaza para a imprensa estão fora-da-lei. Confiar em fontes ocultas é temeroso. A fonte pode ser um advogado de Dantas, Raul Jungmann, Heráclito Fortes ou Nelson Jobim.
No meio desse noticiário, onde gente séria não se presta a ser fonte oculta, quem sofre as consequencias é a boa informação.
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