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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O “sócio” suspeito de Efraim


O lobista Eduardo Bonifácio Ferreira, acusado pelo Ministério Público de negociar resultados de licitações no Senado, fez um contrato com o primeiro-secretário da Casa, Efraim Morais (DEM-PB), o que reforça ainda mais seu vínculo com o parlamentar. Ferreira deu ao senador poderes para representá-lo e transferir cotas de capital que possui na Chemonics Brasil Consultoria Empresarial Ltda., de acordo com procuração obtida em cartório pelo Correio.

Num dos relatórios de inteligência que compõem o inquérito da Operação Mão-de-Obra, a Polícia Federal levantou a suspeita de que a Chemonics, constituída em 2001, seja de “fachada”, supostamente para encobrir alguma ilicitude. A empresa alterou sua razão social para Syngular Consultoria Empresarial Ltda.

A denúncia do MP é clara: Ferreira acertou no primeiro semestre de 2006 com as empresas Ipanema e Converso os resultados das licitações que estavam sob a responsabilidade da Primeira-Secretaria, comandada por Efraim. Apesar das suspeitas, o senador prorrogou esses contratos até 2009.

Ferreira é a pessoa flagrada pela PF em 29 de junho de 2006 abrindo com uma chave pessoal o gabinete do senador, logo após as empresas ganharem as concorrências. De acordo com a investigação, o lobista se encontrou pelo menos oito vezes com os empresários suspeitos durante o processo de licitação. Além de reuniões, ele também discutia o assunto por telefone, segundo a PF.

Ferreira foi nomeado por Efraim para trabalhar na Liderança da Minoria em 2003, quando o parlamentar era o líder. O lobista ocupou o cargo até 2005. Ou seja, Ferreira não trabalhava mais no Senado em 2006, quando intermediou as licitações e foi flagrado abrindo a porta do gabinete do senador.

Desde a Operação Mão-de-Obra, em julho de 2006, Efraim não tem conseguido explicar publicamente qual sua relação com o lobista. A procuração, que está registrada no cartório do 4º Ofício de Notas de Brasília desde novembro de 2001, no entanto, desvenda ainda mais esse mistério.

O senador recebeu poderes do lobista para “representar o outorgante (Ferreira) na qualidade de sócio da firma Chemonics com a finalidade de transferir ao outorgado (Efraim), em caráter irrevogável e irretratável, 50% das cotas de capital que possui na referida empresa”. O documento não tem data de validade. Na Junta Comercial do DF, Efraim não figura como sócio da empresa.

O jornal Correio Braziliense visitou o endereço da consultoria que consta no cadastro da Receita Federal. No local, funciona uma outra empresa que não tem ligação com Ferreira ou Efraim.

Autoridade
A PF monitorou os encontros de Ferreira no Parque da Cidade e num restaurante do Sudoeste entre setembro de 2005 e maio de 2006. Por telefone, ele e os empresários investigados usavam o código “tomar vinho” para marcar as reuniões referentes ao Senado. Num desses telefonemas, Ferreira teria ameaçado levar à “autoridade” uma suposta briga entre os empresários. E se isso ocorresse, segundo ele, “estaria todo mundo fora”.

Há duas semanas, o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), anunciou que pretende substituir esses contratos até o fim do ano. Por enquanto, os serviços sob suspeita continuam em vigor.

SOB INVESTIGAÇÃO:
3 contratos da Ipanema e da Conservo com o Senado, no valor total de R$ 35 milhões, foram prorrogados até 2009 por Efraim

Ouça áudio com Demostenes sobre o caso de Efraim

Fragmentos contra o senador

Contrato
O Correio apurou num cartório de Brasília que o lobista Eduardo Bonifácio Ferreira, acusado pelo Ministério Público Federal de negociar o resultado de licitações no Senado, fez um contrato com o primeiro-secretário da Casa, Efraim Morais (DEM-PB), dando ao parlamentar poderes para representá-lo como sócio da empresa Chemonics Brasil Consultoria Empresarial, que mudou o nome para Syngular Consultoria. No inquérito da Operação Mão-de-Obra, a Polícia Federal levanta a suspeita de que a Syngular seria
de fachada.

Gabinete
Ferreira foi flagrado pela PF entrando no gabinete então ocupado pelo senador Efraim Morais, em 29 de junho de 2006. Segundo a polícia, Ferreira tirou a chave do próprio bolso para abrir a porta e ter acesso à sala. Nessa época, havia mais de um ano que ele não trabalhava no Senado, onde ocupou de 2003 a 2005 cargo comissionado na Liderança da Minoria. Em 2003, quem comandava a Liderança do DEM era Efraim. A PF registrou pelo menos oito encontros entre Ferreira e os empresários investigados.

João Pessoa
Em 26 de abril de 2006, quando o Senado realizava licitações para a terceirização de mão-de-obra, a Polícia Federal interceptou uma conversa entre José Araújo, dono da Ipanema, vencedora de duas concorrências naquele ano, e seu então gerente comercial, Paulo Duarte. Araújo disse ao subordinado que iria a “João Pessoa”, capital do estado que elegeu Efraim, resolver problemas surgidos na concorrência. Nessa e em outras conversas captadas, eles falam em “autoridade maior”, alguém que teria poderes para resolver pendências. (Leandro Colon)

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