Justiça arrebenta a corda do lado mais fraco

O juiz Fábio Uchoa, do TRE, embargou as obras no morro da Providência no Rio de Janeiro, por considerar propaganda eleitoral subliminar do senador Marcelo Crivella (ver nota abaixo).

Ainda que o juiz comprove a propaganda ilegal, porque não punir o senador em vez da população?

Saldo preliminar da decisão:

- 150 trabalhadores com carteira assinada serão desempregados, a maioria moradores da comunidade, o que vai afetar a vida de muitas famílias. Os operários recebem entre R$ 650 e R$ 1 mil por mês.

O encarregado da obra, Alex Oliveira dos Santos, criticou:

"Um trabalhador sustenta uma família com três ou quatro pessoas. Ao total, cerca de 600 pessoas são beneficiadas por essa obra. Sem trabalho, como essas famílias vão viver? Parece que querem que o morador do morro vire mesmo marginal".

- muitos moradores terão que conviver com obras inacabadas dentro da própria da casa. As pessoas não podem ficar com a casa pela metade, algumas até sem cobertura para chuva.

A aposentada Valmira Guimarães Atala, 60 anos, é uma delas. A casa onde mora começou a ser reformada ontem (23). Hoje, tem no centro da sala um monte de cimento, utilizado na reforma nas paredes e no telhado. Sem dinheiro para concluir a reforma, não sabe o que fazer com o material espalhado pela casa.

"Falta muita coisa. Estamos convivendo com cimento e pá. Eu e minhas netas [três] dormimos agarradas no quarto, junto com as coisas", reclamou Atala. "Agora, sem data para acabar, nem sei o que vou fazer com essas coisas, com a casa deste jeito."

Na decisão, o juiz tomou como base a distribuição de cartões contendo uma foto do pré-candidato à prefeitura do município Marcelo Crivella (PRB) sobreposta à imagem da obra no morro. Citou também referências ao projeto na página do senador na Internet.

Então porque não multar o Senador? Porque não contestar sua candidatura em vez de paralisar as obras?

A associação de moradores e os trabalhadores protestaram e marcaram protestos na quarta-feira em frente ao TRE no centro do Rio de Janeiro.

É longo ainda o caminho da inclusão social no Brasil. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

DENUNCIAS AO TRE FORAM "ANÔNIMAS"

Dez entre dez cariocas apostam que as denúncias "anônimas" partiram de César Maia (DEMos/PFL), tanto quanto no caso da encomenda das vaias no Maracanã.

César Maia não quer admitir para a população não ficar contra ele.

Chico Alencar, candidato a prefeito do PSOL também acionou o TRE contra as obras (sem anonimato), não se importando em jogar 150 chefes de família da comunidade carente no desemprego.

Com informações da Agência Brasil