Em janeiro, 130 novas máquinas italianas chegaram à Meias Lupo. No ano passado, outras 40 foram compradas, aproveitando a demanda crescente e o dólar em queda. Junto com as máquinas, a empresa contratou 500 novos funcionários em 2007 e outros 230 estão chegando neste começo de ano e permitirão ao fabricante têxtil elevar sua capacidade de produção para 9 milhões de peças por ano e atingir um faturamento 70% maior que o de três anos atrás.
A Meias Lupo resume bem o perfil de crescimento que tomou conta do país e que difere daquele que marcou o ano de 2004 "porque é mais empregador, mais importador e mais investidor", segundo estudo comparativo elaborado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Em resumo, é um ciclo que traz maior capacidade de se auto-alimentar. Como nota negativa, aponta o estudo do Iedi, esse ciclo tem demandado, proporcionalmente, mais consumo de energia. O resultado da combinação de mais emprego e investimento, explica Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi, é que o crescimento da indústria exigiu, proporcionalmente, menor utilização da capacidade instalada - e o setor acumulou potencial para continuar crescendo. Em 2004, a indústria de transformação encerrou o ano com uma produção 8,5% maior. Para dar conta do recado, elevou em 2,7 pontos percentuais o uso de seus recursos. Em 2007, a alta de 6% na produção foi obtida com um uso da capacidade 1,8 ponto percentual maior.
Entre as razões para o melhor resultado estão a geração de empregos e o maior consumo de máquinas. Em 2004, cada 1 ponto percentual de aumento da produção exigiu a contratação de 59,4 mil novos funcionários. Em 2007, essa relação cresceu para 65,8 mil admissões. "Um crescimento com mais geração de vagas formais também representa um aumento na capacidade de reprodução do crescimento", observa Almeida. E com maior formalidade, crescem a massa salarial, o crédito e a própria arrecadação do setor público, ajudando a criar um ciclo positivo, acrescenta o consultor do Iedi.
Além da maior formalização, o ciclo de 2007 traz uma expansão mais acelerada da capacidade instalada. O consumo de máquinas aumentou o dobro da produção - entre fabricação local e importação, ele cresceu 13% diante da alta de 6% na produção total. Em 2004, a indústria produziu 8,5% mais, ritmo que demandou um consumo de máquinas 9,1% maior.
A Mueller, fabricante de itens plásticos para veículos e equipamentos de informática, operava com capacidade ociosa há quatro anos, mas entre 2006 e 2007 investiu R$ 20 milhões na compra de 24 injetoras plásticas (agora são 144 espalhadas pelas três plantas) e mais cinco máquinas (de grande porte) chegam à companhia em 2008 para ajudar a elevar em 15% o faturamento que foi de R$ 315 milhões no ano passado.
Esther Faingold, superintendente da Mueller, conta que a produção acumulou crescimento físico próximo a 25% nos últimos dois anos, mas o número de funcionários cresceu proporcionalmente menos: 4%. "Obtivemos ganhos expressivos de produtividade", explica, listando compra de máquinas (com "aposentadoria" de algumas velhas injetoras), rearranjo das células de produção, mudanças de layout e treinamento.
A maior parte dos 1,9 mil funcionários trabalha em regime de três turnos, mas 100 estão no regime "6 por 2". A idéia de manter a manutenção e a ferramentaria operando no fim de semana evita o desligamento de máquinas ao longo da semana, explica Esther, uma executiva de apenas 33 anos. Essa otimização já chegou à linha de montagem e em dois meses mais 50 funcionários entrarão no mesmo regime, em acordo acertado com os respectivos sindicatos.
A SKF, fabricante sueca de rolamentos, mantém a fábrica operando o ano inteiro. São 24 horas por dia, sete dias por semana. Como resultado da otimização dos equipamentos e de forte aposta no treinamento a empresa obteve, nos últimos quatro anos, ganhos de produtividade entre 8% a 10% ao ano. "Nosso volume de produção aumentou mais de 20% a cada ano desde 2004", diz Amadeo Comin, diretor industrial da SKF.
A principal razão da eficiência, avalia Comin, é o treinamento. "Contratamos sempre funcionários de nível básico e nos primeiros dois anos eles recebem mais de 170 horas de treinamento", explica Comin. A empresa também foca a melhora contínua da eficiência dos equipamentos e tem investido bastante. Entre 2005 e 2007 foram R$ 50 milhões para montar e equipar um prédio novo, onde hoje funcionam três linhas de produção com capacidade para 5 milhões de rolamentos por ano cada uma.
Lupo, Mueller e SKF estão entre as empresas que não corroboram as preocupações do Banco Central com atendimento da demanda ao longo de 2008. Entre as medidas já tomadas e o programado para 2008 (novas máquinas chegando, novos ajustes de turnos, novas contratações), elas se consideram preparadas para aumentos de produção até superiores aos já planejados e que variam de 15% a 20%. "Dependemos de insumos petroquímicos, mas já sabemos que este setor tem capacidade de atender nossa demanda", conta Esther. A empresa, diz, também tem trabalhado junto com pequenos e médios fornecedores para elevar sua produtividade e evitar gargalo nas células de produção da Mueller.
Entre as preocupações, energia (mais para o futuro), juros e câmbio no curto prazo. "O crédito está na base desse ciclo e um aumento de juros pode afetá-lo", diz Almeida. Para a SKF, o câmbio afeta metade da produção, que é exportada. Para estas empresas, apenas parte dos custos podem ser compensados com a importação de bens intermediários. Que também cresce, segundo o estudo do Iedi.
A Lupo, explica o diretor comercial, Valquírio Cabral, optou por não importar matéria-prima da China. "Esta importação levaria a uma perda de tecnologia", diz ele, explicando porque a opção foi por trazer bens de capital e reforçar a produção no Brasil, com ajuda do dólar barato. "O câmbio e a queda os juros favoreceram o investimento", explica. Agora, diz ele, só é preciso que o governo faça a sua parte e impeça importações fraudulentas. "Precisamos de regras que façam com que o produto importado que chega aqui tenha sido produzido dentro das mesmas regras de contratação de pessoal e cuidados com o meio ambiente que são exigidos localmente. Senão, fica desleal", argumenta. (Valor Econômico)
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