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sábado, 8 de março de 2008

O Presidente Lula na comunidade da Rocinha no Rio

O discurso do presidente Lula, na Rocinha, no Rio de Janeiro.

Eu penso que nós estamos terminando o dia de hoje visitando as comunidades do Rio de Janeiro e marcando, certamente, o motivo pelo qual nós tanto brigamos para que você fosse governador do estado e para que eu fosse presidente da República. Hoje é um dia glorioso. Glorioso para o Rio de Janeiro e glorioso para o Brasil. O que está acontecendo no Rio de Janeiro está acontecendo em todas as capitais do Brasil, porque o PAC significa 40 bilhões de reais, só para obras de saneamento básico.

Quarenta bilhões que vão atender Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Recife, Salvador, Fortaleza e Aracaju. Todas as capitais do Brasil são atendidas pelo PAC e, por isso, nós estamos investindo 40 bilhões de reais.

Eu quero que vocês atentem para algumas pessoas que, depois que a gente virar as costas e for embora, vão cuidar do PAC. Aqui no Rio de Janeiro o responsável é o companheiro Pezão. Levanta aí, Pezão. Outra vez, o Pezão. Pelo governo federal é a ministra Dilma Rousseff. A Dilma Rousseff é a responsável por toda a organização do PAC, pela determinação das prioridades
das obras do PAC e pelo controle nacional do PAC. Portanto, ela e o Pezão – ela em todo o Brasil e o Pezão aqui no Rio de Janeiro – têm o compromisso legal, moral e político conosco, com o Sérgio e comigo, de fazer acontecer o que nós assinamos agora. O que assinamos agora não é um protocolo de intenções, é a ordem de serviço para que na segunda-feira já comecem as obras aqui na Rocinha, no Complexo do Alemão e em Manguinhos. Além da companheira Dilma e do Pezão, tem o ministro Márcio, que tem a responsabilidade, como ministro das Cidades, de muitas obras aqui. E tem a Maria Fernanda, presidente da Caixa Econômica Federal, que é a responsável pelo financiamento do dinheiro que nós estaremos investindo aqui. É importante a gente mostrar as pessoas, para depois a gente saber de quem cobrar.

Nós estamos aqui neste palanque, e na próxima vez que eu vier aqui a gente não vai poder estar aqui neste palanque, porque aqui vai ser o hospital da Rocinha, será aqui, exatamente neste lugar. E por que tem que ter um hospital aqui? Porque nós sabemos que aqui nesta região tem muita gente que fica doente e é difícil ir para o hospital Miguel Couto, sobretudo pessoas que, por conta das ruas estreitas, da umidade e da falta de ventilação, têm facilidade de pegar tuberculose. Nós precisamos fazer uma intervenção abrupta, para que a gente possa evitar que essas pessoas continuem pegando tuberculose.

Mais importante do que isso é que vocês viram no mapa, viram naquele telão, não sei se todo mundo viu, porque de dia dá para ver mal e também porque está apenas num canto. Na outra vez, Pezão, nós temos que colocar telão dos dois lados, para as pessoas poderem ver. Os investimentos aqui, companheiros, são da ordem de 180 milhões de reais, que começam a ser empenhados a partir de segunda-feira, e não pensem que é uma obra daquelas, como dizem: “igreja católica nunca termina”. Na verdade, essa é uma obra que eu quero, antes de deixar a Presidência da República, em 2010, vir aqui inaugurar todas as obras do PAC, junto com o companheiro Sérgio Cabral.

Agora vejam, não basta a gente fazer as obras. É preciso que a gente combine algumas coisas importantes. Primeiro, quem não tiver título da terra, Márcio, nós vamos ter que dar o título de propriedade para que as pessoas tenham mais segurança para melhorar as suas casas. Porque tem gente que está há muito tempo e como não tem o título, não faz uma melhoria porque tem
medo que um dia apareça alguém dizendo que é dono da terra e queira tomar a casa das pessoas.

Isso, aqui, Sérgio, a Rocinha, antigamente era chamada fazenda Quebra Cangalha. Da fazenda Quebra Cangalha, surgiram os pequenos roceiros, e agora surgiu uma comunidade extraordinária, de gente importante para o Rio de Janeiro. Eu sei que aqui tem muito nordestino. Aqui, Sérgio, a casa número 01 da estrada da Gávea foi transformada pelo ministro Gilberto Gil, em 2003, em centro cultural. Não sei se está funcionando bem. Eu vou repetir aqui: a casa número 01 da estrada da Gávea. Olhem, essas coisas é que são importantes. Quando a gente cria um negócio desses, ou a gente coloca a comunidade para tomar conta, ou daqui a pouco as coisas ficam abandonadas e isso justifica o discurso de alguns políticos que dizem que não adianta fazer as coisas porque as pessoas não cuidam. Como se os pobres deste País fossem responsáveis pela desgraça do próprio País.

O que é importante a gente lembrar? O PAC é um investimento para o crescimento, mas é um investimento para a educação, é um investimento para a saúde, é um investimento para a área de lazer. Sobretudo para a gente pegar essas crianças e dar a elas um local decente para elas praticarem esporte, para elas brincarem, para elas estudarem. Senão, nós estaremos permitindo que as crianças sem oportunidade caiam para o outro lado, que é o que nós não queremos, que é o lado da criminalidade, da violência.

É por isso, companheiros e companheiras, que eu quero dizer ao companheiro Sérgio Cabral: isso aqui só está acontecendo também, Sérgio, pelo seu grau de companheirismo e pelo seu jeito de ser. Se você fosse um governador daqueles que só pensam em si mesmo, que não quisesse fazer parceria com o governo federal e que ficasse fazendo críticas, certamente eu e você não estaríamos aqui juntos. Estamos aqui porque assumimos um compromisso na campanha, no segundo turno. Eu falei para o Sérgio:

Sérgio, nós dois vamos fazer a mais importante parceria entre o Rio de Janeiro e o governo federal, porque o Rio de Janeiro precisa sair das páginas dos jornais apenas pela criminalidade. O Rio de Janeiro tem muita coisa boa para aparecer nos jornais mas, de vez em quando, o que aparece não é o trabalho da comunidade, não são as mães de família que se sacrificam para educar os seus filhos. Muitas vezes, o que acontece é apenas nas páginas policiais e eu quero que o Rio de Janeiro comece a aparecer nas primeiras páginas de jornais pelas coisas boas que o Rio de Janeiro tem, e não pelas coisas ruins.

Aqui, Sérgio, tem algumas coisas importantes. Aqui tem algumas coisas que são importantes que o governador e o presidente da República saibam. Primeiro, aqui na Rocinha tem um problema de ventilação. As casas são tão apertadas, os corredores são tão estreitos, que muitas vezes não bate sol e nem o vento consegue passar. Se você passar aqui de dia, você vai ver muitas casas com a luz acesa porque não tem claridade do sol. Isso, junto com a umidade, traz o quê? Tuberculose. Vamos pegar alguns casos aqui, Sérgio, para você ver. Vou pegar um caso aqui Sérgio, vamos pegar o caso da família da dona Marlene. Foram quatro pessoas com tuberculose na família dela, fora os 12 netos que fizeram tratamento, porque o resultado dos exames mostrou que eles iam desenvolver a doença, mais cedo ou mais tarde.

Na família da dona Ademásia, tiveram tuberculose: ela, a mãe, a irmã e o neto. A mãe da agente de Saúde, não sei se está aqui, a Ritinha, morreu de tuberculose, e a própria Ritinha teve tuberculose duas vezes. Conseguiu se curar e hoje anda para baixo e para cima cuidando da prevenção, do tratamento das pessoas. É por isso gente, que no nosso projeto a gente vai alargar as ruas, como vocês viram no filme que nós mostramos, para permitir que as pessoas possam transitar com muito mais facilidade.

Vocês viram a figura do plano inclinado. Tem uma história, Sérgio, principalmente o povo da Macega, é isso? Lá tem idoso, tem deficiente físico, que quase nunca conseguiu chegar até aqui embaixo. Se um doente precisa de tratamento urgente, ele vai depender da solidariedade dos vizinhos, que vão carregá-lo no colo, até a parte baixa, para ele depois dar um jeito de chegar ao Hospital Miguel Couto. É por isso que vamos construir também o centro pré-hospitalar de que eu falei aqui. A verdade é que o povo daqui não esmorece nem perde a esperança. É como a dona Eliomar, que mora lá no topo do morro e todo dia tem que subir e descer escada e trilha de chão para trabalhar e levar o filho para a escola. A dona Eliomar teve trombose há três anos e o médico disse que ela devia ficar em casa, com as pernas para cima, por causa da doença. Mas ela não pode se dar a esse luxo, porque ela tem que trabalhar. E para piorar, ela sobe e desce levando o caçulinha no colo porque não tem creche e não tem com quem deixar a criança. É por isso que a dona Eliomar agora vive sonhando com o dia em que o plano inclinado, mostrado pelo
vídeo, começa a funcionar, porque ela vai ter muito mais tranqüilidade.

Outras mães, por falta de alternativa, são obrigadas a deixar os filhos sozinhos em casa, porque precisam sair para trabalhar e não têm um vizinho com quem deixar as crianças. E, aí, a gente passa e vê criança de seis anos tomando conta de criança de dois anos. E, muitas vezes, um cachorrinho na porta, tomando conta das duas crianças.

É por isso, Sérgio, que nós, você e eu, mais os companheiros da Rocinha – porque a comunidade tem que participar ativamente – precisamos fazer disso aqui uma profissão de fé. Nós precisamos acreditar que acabou aquele tempo em que as favelas do Rio de Janeiro serviam de tema e de motivo para os sambas do Noel Rosa, do Ataulfo Alves, do Cartola e de tantas pessoas que escreveram músicas sobre as favelas. Hoje, as favelas são motivo de noticiário de jornais: é bala perdida aqui, é gente que morreu ali. Ou seja, quem morar fora do Rio de Janeiro e ver televisão, e ver o que sai na imprensa, tem medo de vir ao Rio de Janeiro.

Muitas vezes, eu estou no exterior, Sérgio, e tem televisão brasileira que transmite para o exterior, você liga a televisão e vê tanta barbaridade, que se alguém estiver arrumando a mala para vir para o Rio fala: “Eu vou ficar aqui, porque no Rio está muito perigoso”.

Eu acho que deve ter um pouco de violência no Rio, como tem em São Paulo, como tem em Belo Horizonte, como tem em Recife, como tem em Salvador, como tem em qualquer lugar deste País. Deve ter. E por que tem violência, normalmente envolvendo jovens de 17 anos, 14 anos ou 15 anos? É importante que a gente diga: essa meninada que está caindo na violência é filha de um Brasil que durante 26 anos não cresceu a economia, não gerou emprego, não investiu na educação, não investiu em oportunidades. Essa meninada é filha do descaso das autoridades.

Lógico que eu estou falando isso e não quero proteger nenhum bandido, porque se a pessoa já é bandida, nós temos que cuidar dela. Agora, é preciso que a gente faça uma diferenciação: para cada bandido, você tem 10 mil honestos, 15 mil honestos, 20 mil chefes de família trabalhadores. O que não pode é a polícia não ser educada para que ela comece a entrar na favela respeitando as pessoas, não pode entrar batendo em todo mundo, senão nós partimos do pressuposto de que todo mundo é bandido até prova em contrário quando, na verdade, todo mundo é inocente até prova em contrário.

Amanhã, junto com o Governador, o Ministro da Justiça vai estar assinando um acordo. Nós vamos dar bolsa de estudos para os policiais se formarem melhor, para que os policiais tratem... Porque os policiais também são seres humanos. Se eles não estiverem preparados, eles poderão ser mais violentos, eles também têm medo. Então, o que nós queremos é prepará-los, formá-los, e a gente um dia vai ter polícia comunitária, não precisa vir ninguém de fora, nós mesmos aprenderemos a cuidar de nós mesmos. Nós mesmos aprenderemos... Isso é que nem um pé de fruta que tem uma fruta podre: a gente não corta a planta, a gente tira a fruta e fica cuidando das outras, que estão boas.

É preciso parar com essa maldita história de vender que no Rio de Janeiro só tem violência. Tem violência, mas não é tudo.

Tem muita gente trabalhadora, tem muita criança que quer estudar, tem muito jovem que quer trabalhar, tem muito pai de família que quer criar a sua família decentemente.

É por isso, gente, que eu estou aqui hoje para dizer para vocês o seguinte: no primeiro mandato, nós tivemos que arrumar a casa, foi um trabalho muito complicado. Arrumamos a casa. Hoje eu tenho o orgulho de ser o presidente da República deste País que, em 500 anos, tem mais dinheiro do que o que ele deve. Portanto, o Brasil é credor e não devedor.

Certamente, quando eu terminar o meu mandato, eu serei o presidente que mais fez universidade federal no País. E serei o presidente que mais fez escolas técnicas no País. E Deus queira que depois de mim venha um presidente com muito mais vontade do que eu, com muito mais compromisso do que eu e que faça muito mais do que eu, para que a gente possa, um dia, acordar neste País e perceber que o povo pobre não é mais tão pobre, que o povo sofrido não é mais tão sofrido, que as nossas crianças terão a mesma oportunidade de estudar em boas escolas, de ter acesso a cultura e lazer, de poder praticar esporte como toda criança deveria praticar. Não é possível que uns possam brincar num belo campo de golfe que tem aqui do lado, onde eu parei com o helicóptero, e outros sejam obrigados a brincar numa rua com esgoto a céu aberto. Não é possível! Todo mundo sabe.

Eu queria pedir às empresas que ganharam isso: eu sei que vocês são empresas que já fizeram obras extraordinárias no Brasil, mas agora vocês estão tratando com uma coisa especial, que é o povo mais pobre deste País, é o povo mais perseguido. É perseguido porque é pobre, é perseguido porque é preto, é perseguido porque mora no morro, é perseguido por mil coisas.

Então, além das máquinas de vocês, eu queria pedir: coloquem o coração de vocês porque, certamente, é uma obra que quando terminar, vocês terão muito mais orgulho de terem sido os empresários que construíram as obras da Rocinha.

Quero dizer a vocês – o Pezão já falou – grande parte dos trabalhadores serão daqui, não é, Pezão? E 40% dos que se inscreveram são mulheres. O que nos queremos é que vocês, companheiros, montem um comitê, aqui na Rocinha, de controle das obras. Se vocês perceberem que a obra não está andando, liguem para o Pezão. O Pezão liga para a Dilma, a Dilma liga para mim, eu ligo para o Sérgio Cabral e a gente volta aqui para ver por que a obra não está andando.

Aquele companheiro que está gritando ali, ele gritava: “Lula, assina, assina”. Eu não posso assinar porque é um acordo entre o governo do estado, os empresários e o Ministério das Cidades, é um contrato, não é um acordo, por isso que eu não posso assinar. Mas posso te garantir o seguinte: o dinheiro já está em caixa para a obra acontecer.

Por último, companheiras e companheiros, eu quero dizer para vocês que além do Complexo do Alemão, além de Manguinhos e além da Rocinha, há três meses viemos em Pavão-Pavãozinho dar início à obra. Essa obra que está acontecendo aqui, se vocês forem à Baixada Fluminense, vocês vão perceber que cada prefeito está tendo dinheiro, para fazer as obras, que nunca tiveram na vida.

Eu e o Sérgio não queremos saber se o prefeito é do PFL, se é do PMDB, se é do PT, se é do PSDB. Isso não nos interessa, nós não queremos saber se ele é flamenguista, vascaíno, fluminense ou do Botafogo, nós não queremos saber se ele é evangélico ou católico, nós queremos saber que o povo precisa e nós vamos atender as necessidades do povo do Rio de Janeiro, da Baixada Fluminense e do Brasil.

Muito obrigado, companheiros. Sérgio, muito obrigado por este dia maravilhoso. Mãos à obra, porque na segunda-feira começamos a trabalhar. Um abraço.

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