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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O ciclo de expansão das montadoras


Depois dos recordes históricos de 2007, a indústria investe R$ 15 bilhões para transformar o Brasil no quinto maior produtor de veículos do mundo

LINHA DA VOLKS, EM SÃO PAULO: Investimentos em capacidade e também em tecnologia

Crédito abundante, confiança do consumidor em alta e juros com tendência de queda. Essa equação nos últimos três anos levou a indústria automotiva brasileira a ingressar num novo patamar de produção, com 2,973 milhões de veículos fabricados no País. A marca psicológica dos três milhões de veículos só foi atrapalhada pelo calendário: com mais três dias úteis, a barreira teria sido quebrada. Este ano, o Brasil chegará lá. Mas, agora, três milhões parecem pouco e a meta declarada do governo Lula é tornar o Brasil um País de cinco milhões de veículos até 2010. As montadoras não comentam as projeções, mas o que se vê nos bastidores é uma intensa movimentação de executivos junto às suas matrizes para conseguir recursos. As maiores montadoras saíram na frente e comandam o novo ciclo de investimento que deve consumir R$ 15 bilhões nos próximos três anos e elevar o País do oitavo posto para o quinto maior mercado mundial.

A líder do movimento de expansão é a líder de mercado Fiat. Responsável por 25,9% dos carros vendidos no Brasil, a montadora italiana está preparando sua fábrica de Betim (MG) para ser a maior do mundo. Oficialmente, Cledorvino Belini, presidente da subsidiária brasileira, afirma que a unidade terá capacidade para produzir 800 mil carros, 100 mil a mais do que hoje. Mas, na prática, afirmam especialistas, a unidade poderá chegar a produzir um milhão de veículos por ano, superando a unidade da Hyundai em Ulsan, na Coréia, que hoje é a número um. O projeto da Fiat consumirá grande parte do pacote de investimento de R$ 6 bilhões anunciado pelo CEO da empresa, Sérgio Marchionne, em recente visita ao Brasil. “O momento de investir é agora”, diz o consultor Corrado Capellano. “Há excesso de dinheiro na economia mundial e o Brasil está em um momento vigoroso.” Volkswagen, General Motors e Ford encorpam a tendência e cada uma delas deve investir R$ 2 bilhões para ampliar suas linhas, aumentando, conseqüentemente, a capacidade brasileira que hoje é de 3,5 milhões de veículos.

Essa não é a primeira onda de investimento vivida pela indústria. Após o início da produção, com Juscelino Kubitschek no fim da década de 50, o setor passou por mais dois ciclos. O primeiro na época do milagre econômico e o segundo após a estabilização da economia (leia quadro abaixo). O mais recente, na década de 90, atraiu as chamadas newcomers, montadoras japonesas e francesas que decidiram vir ao Brasil para aproveitar um mercado que em 1997 chegou a dois milhões de unidades. Mas a crise que derrubou as vendas a 1,2 milhão de veículos, dois anos depois, estragou os planos das companhias e muitas delas nunca chegaram a lucrar no País. Os investimentos que foram suspensos, agora são retomados. “Dessa vez, o crescimento é sustentado”, garante Jackson Schneider, presidente da Anfavea, associação do setor. A Honda corrobora a tese. Depois de muito planejamento, investiu US$ 100 milhões na fábrica de Sumaré (SP) para aumentar em 20% sua capacidade para 120 mil veículos por ano. Nesse cenário de pujança, nem mesmo a mudança tributária anunciada pelo governo na primeira semana de janeiro é encarada como uma ameaça. “O aumento do IOF é uma questão conjuntural que não pesará tanto”, reforça o presidente da entidade. O consultor da CSW WorldWide, Paulo Cardamone, não concorda. “As mudanças de regras atrapalham os planos de investimento e podem estragar este bom momento da indústria”, diz ele. De qualquer forma, mais do que nunca, o destino da indústria está nas mãos dos consumidores. Se a demanda continuar alta, esse será o maior estímulo para que as montadoras ampliem suas unidades industriais no Brasil.

Isto é Dinheiro num. 0537

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