A primeira reunião ministerial de 2008 serviu para o PresidenteLula puxar a orelha dos ministros: o Presidente queixou-se de que eles não conversam entre si e exigiu atuação mais política da equipe. O presidente sugeriu uma reunião - que poderá ser quinzenal - da qual participariam, além dele, o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), os presidentes dos partidos aliados e os ministros com atuação política.
"Precisamos capitalizar melhor o potencial de cada um para melhorar a relação entre o Executivo e o Congresso", disse José Múcio Monteiro. Lula cobrou o fortalecimento da ação política como forma de melhorar também a ação dos partidos, mas deixou claro que estes também devem corresponder nas votações do Congresso, que ser aliado do não significa ter apenas receber os bônus, mas arcar também com o ônus de ser governo.
Esse seria o terceiro tipo de encontro no Planalto para discutir a relação do Executivo com o Congresso. O núcleo central reúne-se normalmente às segundas-feiras, na coordenação de governo, e envolve também questões administrativas. Uma vez por mês - periodicidade alterada em situações de emergência - os presidentes e líderes da base aliada reúnem-se com Múcio (às vezes também com Lula) no Conselho Político. O novo formato contaria com os ministros com filiação partidária para discutir assuntos políticos, nunca técnicos.
O Presidente exigiu dos ministros que ajudem mais na troca de informações. Múcio coordenará, mas os demais políticos da Esplanada terão que ser mais ativos. "Às vezes pensamos que não atendemos algum parlamentar aqui e ele vai ser atendido em outro ministério. Precisamos centralizar mais isso", disse Múcio.
Lula disse que suas nomeações se devem à indicação dos partidos, integrantes da coalizão. E que, por isso, eles devem buscar influenciar mais ativamente suas bancadas no Congresso, especialmente nos momentos em que o governo enfrentar uma votação importante. A mais recente derrota do Planalto - a votação da CPMF - foi pedagógica, nas palavras de Múcio. Ainda assim, alguns ministros avaliaram que se tratou de um um "fato isolado", uma vez que o governo ganhou a maioria das votações no Congresso.
O ministro da Previdência, Luiz Marinho, apoiou as queixas do Presidente, que classificou como "óbvio do óbvio". Argumentou que o O PMDB tem cinco ministérios e esses ministros têm de responder pelo partido. E o mesmo tem de ser cobrado dos ministros e presidentes do PT, do PP, do PTB e dos outros, poupando de cobranças o ministro Múcio.
Lula foi severo ao abrir a reunião dos ministros. "Muitas vezes sentamos nessa mesa aqui, parece a Santa Ceia, todo mundo amigo, mas depois passamos um ano sem conversar entre nós", disse. "Entre vocês existe pouca conversa política; eu diria, há quase meses e meses que vocês não conversam entre si, que não trocam idéia."
O Presidente pediu "reflexão" aos ministros, lembrando-os que, com a perda da CPMF, o governo precisa recompor uma perda de R$ 40 bilhões. Parte dessa recomposição exige um corte de R$ 20 bilhões no Orçamento de 2008. "Mas esses cortes precisam ser cirúrgicos e negociados. Não é possível cortar com facão, quem faz isso corre o risco de cortar errado", disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Marinho, depois da reunião, comentou que "é fato" a necessidade dos cortes, e que terá de fazer uma "composição" com os sindicatos.
Lula também lembrou aos ministros que esse é um ano eleitoral e pediu para que, no máximo possível, os partidos da coalizão se esforcem para fazer alianças nos principais centros. Lula já avisou aos presidentes dos partidos que só vai subir no palanque dos aliados no segundo turno, se eles estiverem enfrentando candidatos da oposição.
O Presidente também confirmou no encontro que a reforma tributária será encaminhada ao Congresso no fim de fevereiro - o texto deve ser novamente submetido ao Conselho Político no dia 21. Lula disse aos ministros que eles têm "capacidade de governo e temos que dar conta do recado", lembrando que ainda faltam três anos de mandato. Os ministros só reclamaram porque, em lugar do tradicional almoço, foi servido um sanduíche de presunto, queijo e alface. "Já é resultado dos cortes no Orçamento?", brincou um deles.
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