O Presidente Lula, disse ontem que "está neutro" em relação à compra da Xstrata pela Vale, pois ainda não conhece o assunto. Lula garantiu que o governo só vai se manifestar a respeito do negócio e poder dizer "sim ou não" quando for chamado a discutir - "e vamos discutir" -, conhecer a situação e saber da proposta da Vale.
A declaração de Lula foi feita pouco antes de se dirigir ao jantar que lhe foi oferecido ontem à noite por Roger Agnelli, presidente-executivo da Vale, em seu apartamento na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, bairro da zona Sul do Rio. O presidente chegou às 21 horas ao local com sua esposa, Mariza. E foi recebido na garagem do prédio por Agnelli e pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, ambos acompanhados de suas mulheres. Cabral anunciou aos jornalistas, ao chegar, que no jantar só se falaria de "amabilidades".
O convite de Agnelli, que já foi feito a Lula há algum tempo, foi interpretado por fontes próximas do governo como uma tentativa de "aparar arestas" numa relação de admiração mútua, que vem sendo erodida nos últimos tempos pela ousadia do presidente-executivo da Vale na condução dos negócios internacionais da mineradora.
O Presidente Lula quer ver a mineradora construindo fábricas no país, como uma siderúrgica no Pará, reivindicação do próprio Lula, e não gastando seu caixa com projetos e ativos no exterior. O governo teme que a companhia se torne maior lá fora que aqui dentro, apesar de ser impedida pela golden share, ação em poder da União, de tirar sua sede do Brasil.
O mercado recebeu com um certo desânimo a informação de que assessores do Planalto eram contra a compra da mineradora anglo-suíça pela Vale. Mesmo assim, as ações da mineradora explodiram e apresentaram as maiores altas do índice Ibovespa no pregão da bolsa paulista, enquanto os papéis da Xstrata na Bolsa de Londres caíram até 5%, recuperando-se no fim do pregão com uma alta de 0,58%.
A expectativa de analistas de bancos e consultorias é de que a direção da Vale possa aproveitar o contato com o Presidente Lula para iniciar um processo de convencimento do Planalto em relação aos benefícios da aquisição da mineradora anglo-suíça para a companhia e para o Brasil. Mas alguns acham que as barreiras para esse entendimento vão ser grandes, dada a preocupação do governo com a entrada de estrangeiros na companhia via pagamento de parte da operação com ações preferenciais da Vale aos acionistas da Xstrata.
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