Pages

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A hora da moralidade


O DEM cobrou explicações de Edinho Lobão e deixou claro que adoraria que ele abandonasse o partido. Legal, mas não dá para fugir de perguntas incômodas. Para começar: o partido não sabia dessas acusações?

O convite ao senador Edison Lobão (PMDB-MA) para o Ministério de Minas e Energia provocou a repetição de um roteiro conhecido na política brasileira. Assim que ficou claro que receberia um upgrade político, Lobão foi colocado sob uma lente de aumento. Jornalistas desembarcaram em São Luís para escarafunchar sua vida política, os negócios e a família. Como costuma acontecer, não demorou para que a caça desse resultado. Pipocaram reportagens. Primeiro com denúncias contra o futuro ministro. Depois o foco concentrou-se no primogênito, Edison Lobão Filho, conhecido como Edinho. Natural, uma vez que o filho também é o primeiro suplente dele no Senado e herdará o mandato com a promoção do pai ao governo. Para quem não leu jornais nem ligou o rádio e a televisão nos últimos dias, um resumo: Edinho é acusado de ter passado suas cotas em uma empresa para uma “laranja”, como forma de fugir de dívidas com o fisco.

Se for verdade, é feio para um filho de ministro. Mais ainda para um senador em potencial. Mas esse é um episódio no qual as reações políticas às denúncias são tão reveladoras quanto as acusações em si. O caso Edinho tem um complicador. Por maquiavelismo, estratégia ou talvez descuido, ele não acompanhou Lobão pai quando o veterano político trocou o DEM pelo PMDB há poucos meses. Assim, enquanto o pai assume um cargo estratégico no governo, o filho continua filiado ao principal partido da oposição. O DEM ficou visivelmente incomodado com a perspectiva de receber um integrante tão problemático em sua bancada. Atrapalharia o discurso ético que a legenda adotou como estratégia . E faria com que o partido tivesse de administrar um potencial dissidente a cada votação.

Depois de pesar tudo isso, o partido decidiu engrossar o discurso. Cobrou explicações de Edinho Lobão e já deixou claro que adoraria que ele abandonasse o partido. Legal, mas não dá para fugir de algumas perguntas incômodas. O partido não sabia dessas acusações? Nenhuma delas é novidade. Todos os processos já corriam na justiça ou tinham aparecido na imprensa local. A família Lobão é fundadora do PFL e depois do DEM. O pai elegeu-se senador, a mãe é deputada pela legenda, o filho é suplente. E ninguém na direção do partido sabia de nada? Ou será que existe uma gradação? As denúncias não obrigavam o partido a agir quando Edinho era suplente, mas são graves demais para que ele assuma? Há graus de moralidade? Ou ela depende de momento?

Vida vasculhada
É bom deixar claro que o questionamento não se aplica apenas ao DEM e à família Lobão. É recorrente na política brasileira. Nós jornalistas temos uma velha prática. Sempre que alguém é cotado para um cargo importante, nossa tropa de elite vasculha sua vida. Por isso alguns partidos demoram tanto para encontrar um nome para indicar como ministro ou presidente do Senado. Não é fácil achar alguém que passe no teste da investigação da vida folha corrida. De alguns, se diz que “esse não resiste nem ao google”. Basta digitar o nome do sujeito no mecanismo de busca e aparecem as denúncias antigas. Republicadas no momento certo, elas barram a nomeação.

Ao impedir que alguém com ficha suja ocupe um cargo importante, a imprensa está cumprindo seu dever. O problema é por que demoramos tanto. Também a nós se aplica a pergunta. Se determinada denúncia merece ser publicada contra o futuro ministro, por que não a publicamos quando ele era senador? É como se os políticos ficassem numa espécie de limbo. Quando saem dele para um novo posto, investigamos como se fossem uma novidade. Lobão exerce mandatos desde 1979. Está no Senado desde 1987. Saiu apenas por quatro anos, eleito para o governo do Maranhão. Está longe de ser um personagem surpreendente.

Os políticos já se adaptaram ao jogo. O Palácio do Planalto não queria nomear Lobão. O que fez o Presidente Lula? Anunciou a intenção de fazer o convite, mas adiou para a semana seguinte. Deu tempo para que os jornais agissem. Se as denúncias dessem resultado, o governo teria argumentos para desistir da nomeação. Por dias, o governo e o PMDB acompanharam tensos as notícias. Ao final, concluíram que o estrago não foi suficiente. Lobão foi convidado. Assume hoje. Machucado, mas ministro. E confiante de que a onda passará em poucos dias, quando sua presença no ministério não for mais novidade. - Entrelinhas-

0 Comentários:

Postar um comentário


Meus queridos e minhas queridas leitoras

Não publicamos comentários anônimos

Obrigada pela colaboração