"Cadê a arma, vagabundo, cadê o capacete?" Foi com esses gritos que policiais militares entraram na casa de um jovem, em Bauru (SP), em 15 de dezembro. Suspeito de ter roubado uma moto, o garoto foi morto depois de receber 30 choques elétricos (Leia aqui). O caso aconteceu menos de dez dias depois de o governo paulista comemorar a diminuição da violência e registrar o primeiro dia sem homicídios na capital desde a década de 50.
O governo correu para minimizar o impacto sobre sua imagem e o secretário de Segurança, Ronaldo Marzagão, prometeu punição aos seis envolvidos, presos no dia seguinte à morte. A Ouvidoria da Polícia diz que centrará esforços na apuração.
No ano seguinte aos ataques do crime organizado, o governo tentou transformar o calcanhar de Aquiles da gestão anterior, de Geraldo Alckmin (PSDB), em bandeira. Não houve rebeliões em 2007 e as estatísticas de violência urbana continuaram apresentando o maior recuo em termos nacionais. Depois de seis anos de queda consecutiva no índice de homicídios dolosos por cem mil habitantes, entre 2000 e 2006, o número absoluto estava em queda em 18 das 20 maiores cidades do Estado até outubro deste ano.
Mas as notícias preocupantes vieram da própria polícia, e não do PCC Meses antes do caso de Bauru, 92 policiais eram investigados sob suspeita de envolvimento na máfia dos caça-níqueis. Não passou muito tempo para que o delegado Mário Jordão Leme saísse do comando da Polícia Civil , sob críticas de demora na apuração.
Apesar da ausência de ataques do PCC, a facção continua influente, dizem agentes penitenciários, estudiosos e entidades. Essa calmaria era esperada, diz o pesquisador Guaracy Mingardi, do Ilanud. "A facção não tem gente suficiente nem dinheiro para atuar o tempo todo", diz. "Além disso, as lideranças não estão mais no Regime Disciplinar Diferenciado. Eles continuam mandando nas cadeias", aponta. Especialistas alertam que a superlotação nas penitenciárias reforça os atrativos das facções. O pesquisador Fernando Sala, do Núcleo de Estudos sobre Violência da USP, diz que as circunstâncias são iguais à época dos ataques. "Não houve mudança substantiva.". Ativistas de direitos humanos também reclamam que poucas mortes registradas durante as ações do PCC foram solucionadas. Das 273 mortes registradas na primeira semana de ataques, a Ouvidoria está acompanhando 87. Destas, só quatro casos de vítimas de crime de autoria desconhecida foram resolvidos. "Infelizmente o índice de solução é muito baixo", diz o ouvidor, Antonio Funari Filho
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