Volume de aplicação estrangeira direta até novembro é o maior da história brasileira e pode fechar o ano acima de US$ 35 bilhões. Nem durante o programa de privatização entraram tantos dólares no país
O ano ainda nem acabou e o volume de investimentos estrangeiros diretos (IED) recebidos pelo Brasil em 2007 já é recorde em comparação com anos anteriores. O forte crescimento da economia, que deve encostar nos 5% neste ano, recolocou o Brasil em lugar de destaque na rota dos investimentos estrangeiros diretos (IED), voltado para o aumento da produção. O volume de recursos aplicados neste ano no país, até o dia 28 de novembro, atingiu US$ 33,4 bilhões, recorde histórico, conforme a série iniciada pelo Banco Central em 1947, e representa mais do que o dobro do verificado no mesmo período de 2006. Nem mesmo no auge do programa de privatização, no final dos anos de 1990, registrou-se quantia tão expressiva — em 2000, ingressaram no Brasil US$ 32,8 bilhões, até então o maior volume em um ano. A estimativa do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, é de que os investimentos diretos encerrem 2007 acima dos US$ 35 bilhões. Para 2008, a previsão mais conservadora indica ingresso de US$ 28 bilhões.
Segundo Altamir, o fluxo de capital estrangeiro para o país está disseminado. “Todos os setores da economia estão sendo beneficiados”, afirmou. Mas ele chamou a atenção para a forte elevação de recursos destinados à agricultura e à extração de minerais, setores que englobam a plantação de cana-de-açúcar e a produção de álcool combustível (etanol) e a extração e produção de petróleo e gás. Esses segmentos dobraram a participação no bolo de dólares que entraram no Brasil, passando de 6,9% do total, em 2006, para 14,7% neste ano. A indústria também ampliou sua fatia: de 38,1% para 39,7%, com destaque para os segmentos de metalurgia e de produção de coque (insumo usado pelas siderúrgicas), de derivados de petróleo e de biocombustíveis. O setor de serviços ainda lidera a preferência do capital estrangeiro, mas sua parcela no total do IED recuou de 55% para 45,6%.
Pelos cálculos do BC, o grosso dos investimentos diretos se dá por meio de operações acima de US$ 100 milhões: 45,9% do total. “Mas há muitos negócios envolvendo valores inferiores a US$ 10 milhões. Elas somam 17,7% dos investimentos”, destacou Altamir. Quando se olha a origem dos recursos, os destaques são os Países Baixos (Holanda), de onde vieram 27,9% do total, e os Estados Unidos, com participação de 17,1%. Também há muitos investimentos de Luxemburgo e Ilhas Cayman — dois dos maiores paraísos fiscais do mundo —, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Canadá e Suíça.
Ações da Bovespa
Os estrangeiros ampliaram ainda os investimentos no mercado acionário brasileiro. Apenas em outubro, aplicaram US$ 4,3 bilhões no país, dinheiro que foi, quase que integralmente, para o lançamento de ações emitidas pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Segundo Altamir, trata-se do maior volume já registrado em um único mês em tal rubrica desde 1947. No acumulado dos 10 primeiros meses do ano, os investimentos externos em ações totalizaram US$ 19,1 bilhões, também um recorde para o período e quase o triplo do ano passado (US$ 6,9 bilhões).
Além das ações, os estrangeiros estão tirando proveito das elevadas taxas de juros pagas pelos títulos públicos. Entre janeiro e outubro deste ano, eles compraram US$ 22,7 bilhões em papéis do governo federal. No mesmo período de 2006, essa conta estava negativa em US$ 2,4 bilhões, um sinal de desconfiança que acabou se revertendo ao longo deste ano. “Os investidores estão tirando proveito da consolidação da estabilidade da economia brasileira”, destacou Altamir. Na avaliação de Zeina Latif, economista-chefe do Banco ABN Amro, os fluxos de capitais externos para o Brasil devem continuar fortes no ano que vem. Desde, é claro, que não haja o agravamento das turbulências internacionais, se for confirmada a ameaça de recessão nos Estados Unidos.
Déficit na conta viagem
Inebriados pelos baixos preços do dólar e pelo aumento real de quase 5% na renda, os brasileiros estão gastando como nunca no exterior. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, informou ontem que, entre janeiro e outubro, as despesas com viagens para fora do país totalizaram US$ 6,6 bilhões, dos quais US$ 915 milhões somente no mês passado, valor sem precedentes para um único mês desde o início da série histórica do BC, em 1947.
Diante de tamanha disposição para gastos, a conta viagem fechou os 10 primeiros meses do ano com déficit de US$ 2,6 bilhões, resultado 111% superior ao computado em igual período de 2006 (US$ 1,2 bilhão). Esse aumento ocorreu mesmo com as receitas de turistas estrangeiros no país batendo em US$ 4 bilhões, também um recorde. Pelos levantamentos parciais do BC, em novembro (até o dia 28), o buraco na conta viagem somou US$ 358 milhões. A estimativa da instituição é de que o déficit feche o ano em US$ 2,8 bilhões.
Na opinião de Altamir, dificilmente os gastos de brasileiros no exterior vão diminuir em 2008. Mesmo que o dólar suba um pouco, como esperam vários economistas, os viajantes continuarão se beneficiando da elevação da renda, da formalização do emprego e do aumento do crédito — várias empresas estão financiando as passagens em até 10 vezes, permitindo que as prestações se encaixem no orçamento familiar.
Ele ressalta, que também o número de turistas estrangeiros no Brasil vai aumentar, devido ao grande volume de investimentos no setor hoteleiro realizados, principalmente, por espanhóis e portugueses na Região Nordeste. De janeiro a outubro, foram aplicados US$ 1 bilhão na construção de edifícios no país, o dobro dos desembolsos do mesmo período de 2006. “O grosso desses investimentos está voltado para o turismo”, destacou.
Importação reduz superávit
Responsáveis pelo abastecimento de um terço do consumo interno, as importações já estão impactando negativamente as contas externas do país. De janeiro a outubro deste ano, o superávit das transações correntes, nas quais são contabilizadas as operações de comércio exterior, somou apenas US$ 5,6 bilhões, com queda de 52,5% frente ao mesmo período do ano passado (US$ 11,8 bilhões). Em outubro, especificamente, as transações correntes computaram déficit de US$ 42 milhões (contra superávit de US$ 1,5 bilhão no mesmo mês de 2006).
Em novembro, a previsão do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, é de que haja déficit de US$ 700 milhões. Ele admitiu ainda a possibilidade de, em 2008, a conta de transações correntes fechar no vermelho. Mas, no entender de Fábio Fonseca, professor do Ibmec, não há como esse possível déficit pressionar as cotações do dólar para além dos R$ 2, o que seria um problema para a inflação.
As importações não foram, porém, as únicas responsáveis pela redução do superávit das transações correntes. “Também as remessas de lucros e dividendos foram importantes para isso”, assinalou o economista do BC. As remessas totalizaram US$ 15,9 bilhões nos 10 primeiros meses do ano, com crescimento de 27,8% sobre igual período de 2006. Em outubro, foram enviados para o exterior US$ 2,2 bilhões, saldo 144% superior ao do mesmo mês do ano passado. No entender de Altamir, três fatores têm pesado para o firme aumento das remessas de lucros: os baixos preços do dólar, a elevada rentabilidade dos negócios dos estrangeiros no país e o crescimento no estoque de investimentos diretos. “A tendência é de que as remessas continuem crescendo”, afirmou.
Em compensação, destacou Altamir, estão caindo os gastos com juros, que foram os grandes vilões do passado, devido ao alto endividamento do país. “Chegamos a pagar US$ 16 bilhões por ano em juros”, assinalou. Neste ano, até outubro, foram US$ 6,4 bilhões, 32% a menos do que nos 10 primeiros meses de 2006 (US$ 9,5 bilhões).
0 Comentários:
Postar um comentário
Meus queridos e minhas queridas leitoras
Não publicamos comentários anônimos
Obrigada pela colaboração