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segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Che Guevara não se enquadra no conto de fadas da Cinderela contado pelo PIG

Hoje faz 40 anos da captura de Che Guevara, véspera de sua morte.
Há um enorme esforço da direita em desqualificá-lo. Um exemplo vem do PIG, representado pela capa da revista Veja encalhada na semana passada.
Parecem temer que seus filhos adolescentes usem camisetas e coloquem posters de Che em seus quartos. Temem que sejam cooptados pelo pensamento que Che representa.

Che representa um pensamento de luta por justiça social. É difícil pedir a uma pessoa com valores humanistas que não concorde com isso, sobretudo à jovens cheios de ideais. Por isso há forte propaganda contra Che e todos os ex-líderes de esquerda, mostrando-os como desumanos, e ignorando o papel que verdadeiramente desempenharam na história.
Muito se diz sobre os julgamentos conduzidos por Che que levaram ao paredão algumas centenas de assassinos do regime anterior. Mas se esquecem de dizer quantos milhares de assassinatos e mortes por abandono foram estancadas, com o fim da ditadura anterior de Fulgêncio Batista.

Para a direita, agrava-se o fato das eleições na América Latina vir sendo vencidas pelos governos identificados com a esquerda.

Na ânsia de reconquistar os corações e mentes perdidos para a esquerda latino-americana, a direita tenta recorrer aos corações, esquece as mentes, e atingem o fígado. Quer plantar na cabeça da população a surrada figura da esquerda bicho-papão que come criancinhas.

A esquerda vem fazendo sua auto-crítica, concessões, e assimilando valores daquilo que eram seus pontos vulneráveis à aceitação popular: democracia, pluralidade partidária, eleições diretas em vez da tomada de poder via revoltas populares, liberdades de expressão e pensamento. Com isso, passou a ser alternativa de poder via eleições, aceita pela maioria da população.

Ou seja: a esquerda passou a admitir avançar dentro dos limites que a maioria da sociedade aceita. Isso é submeter-se à democracia e não governar de forma totalitária.

A direita não vem fazendo sua auto-crítica em assimilar valores como sistemas de distribuição de renda e reformas sociais, redução da jornada de trabalho. O pensamento liberal de direita continua o mesmo de mais de 100 anos atrás, conservador, sem autocrítica e sem revisões.

Por isso vem sendo cada vez menos alternativa de poder, principalmente em países onde sequer há rede de proteção social, como na América Latina.

Para o liberalismo voltar a ser alternativa, terá que deixar de ser sectário, e romper com alguns dogmas, aceitando algumas teses progressistas à esquerda.

Se uma fábrica de automóveis, fabrica mais carros com robôs, eximindo-se da mão de obra de metalúrgicos, técnicos e engenheiros, as vagas de trabalho fechadas precisam ser supridas em outras atividades sociais fora da sua cadeia produtiva que absorvam mão de obra.

Há necessidade de estabelecer mecanismos de salários triangulados. Ou seja, uma empresa que fabrica carros, pode pagar o salário de um enfermeiro, médico, professor ou pedreiro em vez de um metalúrgico, mesmo que esses profissionais não influam bulhufas na fabricação do carro, e nem mesmo atuem próximo da empresa.
Mas atuam na mesma sociedade da qual a empresa faz parte.

Isso é uma repactuação social necessária a apaziguar as relações de capital e trabalho no século XXI.

A esquerda resolve esse problema através da cobrança de impostos de quem tem faturamento, para repassar os impostos a bolsas de estudo e de pesquisa, de incentivo à atividades sociais (como saúde, educação, moradia, etc.) e culturais. Enfim, atividades que demandam mão de obra sem ter mercado consumidor diretamente lucrativo.

A direita, por um lado, espera a providência divina do mercado: surgir novos nichos de mercado no setor de serviços que acomodem o emprego de mão de obra. Porém, após algumas décadas de neoliberalismo, o modelo não está atendendo no que diz respeito a geração de empregos. O setor de serviços também expurga mão de obra pela automação e auto-atendimento ("self-service").

Por outro lado, ciente da incapacidade de geração de empregos do modelo neoliberal, a própria direita esboça querer fazer por si aquilo que a esquerda quer fazer através de impostos. É a responsabilidade social das empresas e financiamento privado a ONG's. Esse modelo seria bom se tivesse dimensão compatível com o tamanho da necessidade de absorção de mão de obra. Seria necessário que as empresas destinassem um volume da ordem de 10 a 20% das receitas para responsabilidade social para dar conta do problema, e passar a ter condições morais para pleitear diminuição de impostos em contrapartida. Aplicam muito menos do que esse percentual. Por isso trata-se de uma atividade de CARIDADE que obedece ao marketing social e à vontade e limites determinadas pelos donos das empresas. Não se trata de uma verdadeira política social como um dever de consciência, de fazer o que é preciso para atender as necessidades óbvias.

O conceito de inclusão social da direita é ascensão através do esforço do trabalho, coisa defensável na teoria. Mas na prática não basta a pessoa querer trabalhar, ser esforçada, estudar mais e mais. O poder econômico e tecnológico leva a concentração dos meios de produção nas mãos de poucos, com mais aptidão nas regras do negócio e em não ter escrúpulos para usufruir dessa concentração de riqueza em suas mãos em detrimento de muitos.

A automação potencializa o trabalho do funcionário nota 10, desempregando até mesmo o funcionário nota 9,5.
A própria classe média mais abastada precisa entender esse processo como causa para o grande desemprego de jovens recém-formados, em empregos mais qualificados.

O sistema funciona como um funil, onde existem muitos precisando passar, mas só há vazão para poucos no mercado de trabalho.

Continuam existindo exemplos de sucesso, pessoas que vem de baixo e sobem na vida, mas é uma espécie de história de cinderela capitalista. Para cada "cinderela" que ascende socialmente vencendo a competição dentro do capitalismo neoliberal, hordas de "gatas borralheiras" ficam de fora.

Durante anos, enquanto o eleitor encantou-se com o conto de fadas da "cinderala" pregado pela direita, a democracia direta (através de eleições), foi enaltecida pela direita.

Agora que "a ficha caiu" e o eleitor percebeu-se mais identificado com a "gata borralheira" do que com a "cinderela", a direita, em vez de apresentar soluções alternativas, quer desqualificar o eleitor mais pobre acusando-o de votar em troca de DIREITOS sociais (qualquer um, de qualquer classe social, deixa de votar em quem não reconhece seus direitos, aliás, esse eleitor sempre votou na expectativa de que esses direitos sociais viessem, em promessas de campanha da própria direita).
Além disso, limita-se a recorrer à velha ladainha dos tempos da Guerra Fria, de creditar à esquerda coisas que ela já abandonou, para tentar enquadrar o eleitor na opinião publicada que atenda aos interesses mesquinhos, em detrimento do interesse público.

Enquanto o discurso da direita reduzir-se a essa ladainha, só reconquistará o poder se a esquerda errar demais, e entregar o poder no colo da direita, pois por mérito próprio não há como a direita retomá-lo sem conquistar mentes, e, em vez de conquistar o coração de muitos, conquista o fígado de poucos.

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