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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Tragédia da periferia: trens urbanos do Rio colidem.

Trem urbano com 800 passageiros colide com outro em teste (felizmente vazio), deixando 111 feridos e 8 mortos, no Município de Nova Iguaçu, baixada fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro. Um trágico acidente.

Como aconteceu na periferia, não deverá merecer maiores comoções dos cansados, nem da mídia na mesma intensidade do acidente aéreo.
Despertará menor interesse ainda porque não há como culpar o governo Lula. É assunto da alçada estadual.
Haverão cobranças de responsabilidades, naturalmente, mas dificilmente veremos editoriais cobrando investimentos para melhorias destas malhas ferroviárias. Afinal é o transporte do povão, da periferia.

A rede de trens da região metropolitana foi construída ainda no governo Vargas, e tem uma malha ferroviária extensa, que cobre a maior parte do grande Rio.
Com o tempo foi ficando decadente pela falta de manutenção, e por estúpida subserviência dos diversos governos municipais e estaduais aos empresários de ônibus em detrimento do transporte sobre trilhos.
Já chegou a transportar 1,5 milhões de passageiros por dia no auge, e chegou a decair para menos de 300 mil. Hoje recuperou uma parte dos passageiros (deve transportar em torno de 500 mil), mas ainda está longe do auge.

Em 1994 o governo tucano de Marcelo Allencar privatizou o Metrô para uma empresa, a Opportrans, de Daniel Dantas e Andrade Gutierrez; e estes trens suburbanos privatizou para outra empresa em separado, chamada Supervia. Nesse acordo de privatização havia compromisso do Estado do Rio em fazer alguns investimentos em infraestrutura.

De forma geral a empresa privada fica com o bônus de cuidar das operações (mantém os trens funcionando e ficam com as receitas da bilheteria, publicidade, aluguéis nas estações, etc.), e o Estado fica com o ônus dos investir pesado na infra-estrutura, modernização tecnológica, entregando a exploração para a iniciativa privada.
Assim o Governo constrói novos trechos do Metrô, mas quem explora a linha é a empresa privada. O Governo estadual na época da Rosinha Garotinho comprou novos trens coreanos para a Supervia explorá-los. Parece estranho esse modelo de privatização, e é. Porque o Estado fica refém dos contratos de concessão para oferecer melhorias no serviço para a população.

O sindicato dos ferroviários denuncia que os maquinistas estão expostos a um trabalho estressante, com jornadas de 10 a 12 horas, quando o normal é 8. Além disso dizem haver deficiência na sinalização e na manutenção dos trilhos.

O fato é que as políticas neoliberais demo-tucanas deixaram questões como segurança e confiabilidade em serviços essenciais nas mãos de empresas que visam o lucro acima do interesse público. Criaram agências reguladoras (no caso dos trens metropolitanos do Rio é a Agetransp, a agência reguladora dos transportes - estadual), que deveriam garantir a qualidade dos serviços, mas quase sempre apenas fazem de conta que fiscalizam e regulam as concessionárias.

Essa rede de trens do Rio de Janeiro para funcionar a contento, tanto em segurança como em conforto, precisa da investimentos e subsídios do Estado.

O Metrô de Nova York é estatal (da prefeitura da cidade), funciona a contento, é superavitário (lucrativo) e ninguém diz que tem que ser privatizado.

Eu acho que esta privatização foi um erro. O Estado eximiu-se de fornecer um serviço essencial com segurança e qualidade ao cidadão, terceirizando para a iniciativa privada. Porém ficou com a obrigação de fazer investimentos para melhorar e modernizar a rede.
Mesmo se considerarmos tecnicamente o processo de privatização, foi errado. A rede de trens deveria ser integrada ao Metrô (elas se encontram na estação Central do Brasil), assim a concessionária teria obrigação em transformar o trem em linha de Metrô após um certo tempo (essa privatização já tem mais de 10 anos). Além disso o passageiro pagaria uma tarifa só quando usasse conexões (no Rio não existe bilhete único como em São Paulo).

O PAC do governo Lula faz o que pode, e prevê investimentos em trens metropolitanos (mesmo não sendo federais), sobretudo em cidades que ainda não tem sua rede.
Que estes investimentos sejam bem-vindos tanto quanto os reclamados para os aeroportos. Até porque transportam muito mais passageiros diariamente do que os aviões.

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