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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O peso da traição


Uma cena define o clima da eleição na Câmara. De volta ao Congresso, o experiente deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) foi até a liderança do PDT ontem para cumprimentar outro político veterano, o líder Miro Teixeira. Ibsen apóia o petista Arlindo Chinaglia (SP), enquanto o PDT de Miro fechou com a reeleição do presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP). “Vim propor um acordo”, brincou Ibsen. “Vamos definir um índice homogêneo de traição. Se a traição for igual em todos os partidos, cada um vota como quer e não se altera o equilíbrio de forças.” A conversa terminou em gargalhadas, mas define a eleição de hoje. Quem for menos traído, vence. E o voto é secreto.

No papel, Chinaglia conseguiu o apoio formal do PT, PMDB, PP, PTB e PR, além de outras legendas menores. Esses partidos têm 273 deputados, mais que os 257 votos necessários para garantir a vitória no primeiro turno. O problema é que isso só funciona no papel. Todos os partidos terão dissidências. Chinaglia sabe que perderá votos para Aldo e para o candidato da oposição, Gustavo Fruet (PSDB-PR). Em compensação, contabiliza adesões nos partidos que oficialmente apóiam seus adversários.

Aldo é apoiado pelo PCdoB, PSB, PDT e PFL. No papel, seriam 135 votos. Fruet conta com o PSDB e PPS, que somam 88 votos. Por uma questão matemática, jogam tudo na expectativa de traições entre as hostes de Chinaglia.

Os coordenadores de campanha dos três candidatos têm sua própria contabilidade. Somadas, chegam a bem mais de 600 votos. Como são só 513 eleitores, fica fácil ver que há deputados prometendo votos a mais de um candidato. Eleições na Câmara são muito difíceis de prever exatamente porque os eleitores são políticos profissionais, que evitam comprometer-se com um lado e indispor-se com o outro. Em fevereiro de 2005, o azarão Severino Cavalcanti (PP-PE) surpreendeu a todos e elegeu-se presidente. Meses depois, renunciou, acusado de corrupção.

Se nenhum dos três candidatos conseguir maioria absoluta dos votos, a eleição vai para segundo turno, com os dois mais votados. A maioria das projeções aponta uma disputa entre Chinaglia e Aldo. Isso dá a Fruet uma condição singular. Poucos apostam nele como vencedor, mas todos acreditam que os votos dele decidirão a eleição em segundo turno.

Senado

Não é apenas na Câmara que os caciques políticos fazem as contas dos votos e deserções. No Senado, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) disputa a reeleição contra o senador José Agripino (PFL-RN). A valer a posição oficial dos partidos, Renan estaria em vantagem, mas até a última hora ele preocupava-se em evitar dissidências. Ele sabe que perderá alguns votos na bancada governista. Prevê algumas dissidências até em seu partido, o PMDB. Para vencer, confia em receber boa parte dos votos do PSDB, partido de oposição e aliado de Agripino.

Lula trabalha por Renan no Senado. Na Câmara, são dois objetivos. Impedir que Fruet arme alguma surpresa e, depois da eleição, tentar pacificar a bancada governista, dividida entre Aldo e Chinaglia.

Helena

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