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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Fogo nada amigo

Juros e política cambial são atacados pelo PT,
que tenta derrubar o presidente do Banco Central

Há um conflito aberto entre o PT e o Banco Central. Fortalecido pela vitória na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados, o partido decidiu aproveitar o momento de montagem do ministério do segundo mandato de Lula para avançar sobre a instituição, considerada o último bloco de resistência dentro do governo Lula em favor da atual política econômica. Sob a orientação do deputado cassado José Dirceu, que, por duas vezes, nos últimos dias, detonou a forma como o BC vem conduzindo as políticas de juros e de câmbio, lideranças petistas passaram a comandar um movimento pelas demissões do presidente do BC, Henrique Meirelles, e do diretor de Política Econômica do banco, Afonso Bevilaqua. A estratégia deixou, porém, o presidente Lula em uma situação difícil, pois, sempre que questionado sobre os rumos da economia, ele faz questão de ressaltar que a política econômica é sua. Diante de pressões pela mudança da política monetária do Banco Central (BC), o governo desencadeou ontem uma operação destinada a garantir a permanência de Henrique Meirelles na presidência do banco. O aval do presidente Lula a Meirelles veio por meio dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo,

Cansado de sofrer ataques a partir da Esplanada dos Ministérios, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (foto), já comunicou aos familiares que pode sair do cargo a qualquer momento. Prefere manter a coerência do que se submeter às pressões do PT, como as feitas nesta semana pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Só não chutou o pau da barraca porque ainda se sente prestigiado pelo Presidente Lula, que banca a autonomia do Banco Central na gestão da política monetária.

Meirelles tem reiterado que a tarefa do Banco Central é perseguir a meta de inflação, que está controlada e proporcionou mais eficácia à política social do governo. Superávit fiscal, balança comercial, câmbio e taxa de crescimento não são problemas do BC. São dos demais ministros da área econômica do governo.

No Brasil, a pressão não é sobre a inflação, mas sim sobre o câmbio nominal. Desde agosto do ano passado o câmbio se manteve estável, próximo à faixa de R$ 2,15 por dólar. Recentemente, há pressões para que o real aprecie abaixo de R$ 2,10, em direção a R$ 2,0. O BC tem comprado mais reservas nos últimos dias.

Muitos acreditam que o Brasil poderia seguir o caminho de alguns países emergentes da Ásia, que crescem a taxas elevadas com moedas depreciadas. A idéia é que um país com preços mais competitivos dos seus produtos teria como exportar mais, crescer mais e gerar mais emprego. Portanto, nesta linha de raciocínio, o Brasil deveria se esforçar para manter um real mais fraco para alavancar o crescimento. Mas há dois potenciais obstáculos a esta prescrição de política econômica. Em primeiro lugar, a teoria econômica nos ensina que câmbio (real) mais depreciado significa salários reais mais baixos (de fato, é difícil encontrar países com salários altos e moedas muito fracas). Em segundo lugar, governos que tentam depreciar suas moedas, sem querer aceitar salários mais baixos, acabam gerando apenas mais inflação, o que acaba frustrando o desejo de se tornarem mais competitivos.

A política econômica asiática não é apenas câmbio depreciado, também se baseia em altas taxas de poupança. Regimes que conseguem manter uma depreciação real por um período mais prolongado refletem uma taxa muito elevada de poupança (China poupa 46% do PIB). Depreciações reais, sem que existam as condições fundamentais, são transitórias. Veja o caso da Argentina, que alguns acreditam estar promovendo o crescimento através de um câmbio mantido depreciado. Na realidade, o câmbio real (levando em consideração a inflação que corrói a competitividade) está apreciando, apesar da estabilidade do câmbio nominal. No curto prazo, os países conseguem uma relação positiva entre câmbio nominal e real, mas no longo prazo a inflação acumulada gera uma grande discrepância.

Qual é a recomendação de política econômica nesses casos? Uma queda dos gastos significaria uma poupança pública maior e tenderia a depreciar a taxa de câmbio real e reduzir os juros. É a forma como a economia se equilibra: menores gastos do governo abrem espaço para expandir as exportações líquidas, via depreciação, e aumentar o investimento, via queda dos juros.

Em suma, independente da discussão sobre a conveniência da maior intervenção cambial no Brasil no momento, é importante ter em mente que nenhum governo controla o câmbio real no longo prazo. Evitar a apreciação do câmbio neste horizonte mais longo requer condições macroeconômicas determinadas. Uma redução dos gastos públicos abriria espaço para mais exportações e/ou investimentos. Mas isto, infelizmente, não faz parte da agenda econômica.

Helena

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