O líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP) disse ontem que a partir de agora terá mais tempo e poderá até cortar o cabelo. A brincadeira faz sentido. Depois de três reuniões, a bancada do PMDB, que será a maior a partir de fevereiro, decidiu apoiar a candidatura do petista à presidência da Câmara. Em votação secreta, 40 deputados votaram a favor de Chinaglia e seis enviaram os votos por escrito. O atual presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que tenta a reeleição, obteve 11 votos. A decisão é o principal movimento da tentativa do líder governista de ser escolhido o candidato da base aliada, com a bênção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o PT, ele tem o apoio das duas maiores bancadas da Câmara.
“Eu atuava com moderado otimismo, agora meu otimismo aumentou um pouquinho”, festejou Chinaglia, ao lado do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), logo após a reunião. O otimismo não é maior porque a votação ficou abaixo do que seus aliados apregoavam, que era de dois terços dos peemedebistas. Dos 89 deputados que votarão na eleição no dia 1º de fevereiro, seis preferiram se abster na escolha entre Aldo e Chinaglia e um votou em branco: 64 futuros eleitores estavam presentes.
Apesar do resultado numérico limitado, o efeito político da decisão entusiasmou os aliados do petista. Chinaglia até agora era visto como candidato dissidente e que contava formalmente apenas com o apoio do próprio partido. “Com a decisão do PMDB, chegamos no fato político mais importante destas eleições. Além de me sentir honrado, me sinto mais fortalecido”, analisou o candidato.
Depois da reunião, Chinaglia fez questão de elogiar a atitude dos deputados Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Edinho Bez (PMDB-SC), que abriram mão de disputar a indicação na bancada peemedebista. Lembrou ainda que ele próprio abriu mão, em setembro de 2005, da candidatura em favor de Aldo Rebelo, que se elegeu presidente.
Tucanos
Para Chinaglia, o apoio do PMDB também poderá atrair o PSDB. “A decisão do PMDB vai ter forte interferência na posição do PSDB, que diz se orientar pela proporcionalidade”, analisou. Pelo Regimento Interno, a maior bancada tem o direito à presidência. Os acordos políticos é que permitiram a eleição. Para conquistar mais votos dos colegas, o petista conta com a promessa de pôr em pauta o aumento salarial dos deputados. Ontem, ele ainda tentou desconversar sobre o assunto, mas acabou confirmando sua posição a favor de equiparar os rendimentos ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “Se o caminho for pela equiparação, eu sou favorável”, confirmou.
Os defensores da candidatura de Chinaglia no interior do PMDB argumentaram, principalmente, que o acordo com o PT garantiu ao partido duas vantagens: um segundo cargo na Mesa Diretora, que o PT abrirá mão em favor dos peemedebistas, e a promessa de apoio para uma candidatura do partido à presidência da Câmara em 2008. “A bancada por sua significativa maioria optou por acolher a proposta feita pelo deputado Chinaglia. Neste primeiro biênio, o PMDB apóia a candidatura do deputado Arlindo Chinaglia certo de que no segundo período receberá apoio para a candidatura do PMDB”, justificou Temer. Além de ganhar na disputa de poder interno no Legislativo, os peemedebistas ainda contam que, se o PT abocanhar a presidência da Câmara, perderá espaço na Esplanada dos Ministérios.
Os partidários da candidatura de Aldo no PMDB sentiram o golpe da decisão. Durante a reunião, o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) tentou pôr em prática a estratégia dos aliados do comunista de esvaziar o encontro. Argumentou que o quorum estava baixo e que o partido deveria aguardar uma posição clara do presidente Lula antes de fazer uma escolha. Após o resultado da votação, o argumento dos partidários de Aldo é o de que ele ainda possui um grande número de votos na bancada e que os terá na votação secreta em plenário. “Politicamente talvez seja favorável a Arlindo, mas numericamente Aldo continua a ter cerca de 40 votos no PMDB”, defendeu Gomes. “Na eleição o voto é secreto. De qualquer forma, o que ocorreu hoje é uma orientação, balizou a posição do PMDB”, avaliou o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA).
Petista muda estratégia
A formalização do apoio da bancada do PMDB ao deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) como candidato à presidência da Câmara vai mudar a estratégia de campanha do petista. Ele está revendo a programação de viagens aos estados para visitar e pedir votos aos parlamentares recém-eleitos. Chinaglia manteve as duas primeiras visitas já agendadas. Ontem à noite ele foi a Porto Alegre onde hoje cedo reúne-se com deputados de vários partidos. Na segunda-feira vai a Goiânia para novo encontro. Mas as próximas viagens foram suspensas. “Agora eu vou reavaliar a eficiência e eficácia de continuar viajando nesse novo quadro político”, avisou.
Chinaglia é líder do governo na Câmara, cargo escolhido pelo presidente da República. Mas ainda não teve a garantia do apoio de Lula. Há cerca de três meses o presidente tinha manifestado sua preferência pela reeleição do atual presidente, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Desde ontem o petista se programou para uma costura política que possibilite o lançamento de uma chapa única para a mesa da Câmara. “Tenho que fazer operações políticas maiores e não ficar viajando como tinha pensado”, observou Chinaglia. E completou: “Me sinto bem mais fortalecido. Não só pelo peso numérico do PMDB. Mas pelo peso político do partido e da bancada”, comemorou.
Ainda hoje Chinaglia começará a distribuir uma carta pedindo o apoio de todos os deputados e oferecendo uma proposta para dirigir a Câmara. O texto é genérico e não trata especificamente de assuntos como equiparação salarial com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), restrição de edições de medidas provisórias ou fim do voto secreto para todas as decisões dos parlamentares, por exemplo. O petista se negou, ontem, a dar opinião definitiva sobre reajuste dos subsídios dos deputados. Na próxima semana e com o novo combustível do PMDB, Chinaglia pretende conversar com representantes do PSDB e propor a ocupação dos cargos da Mesa Diretora obedecendo a proporcionalidade do tamanho de cada bancada.
Helena
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