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terça-feira, 30 de janeiro de 2007

A asneira de Gabeira


O deputado federal Fernando Gabeira teve um daqueles surtos que por vezes acomete personalidades que não conhecem a realidade de Brasília. Em entrevista a uma revista, o parlamentar alertou os incautos: “Em Brasília, se você sair à noite, terá de ir a lugares onde só tem lobista, puta e deputado”.

A frase de Gabeira demonstra visão equivocada sobre Brasília. Sua Excelência precisa freqüentar outros ambientes. Em pouco tempo perceberá que a capital federal oferece muitos endereços onde é possível encontrar companhias além das citadas — lembrando que lobistas, prostitutas e deputados são profissões honestas, que por si só não seriam motivo para qualquer pensamento desabonador.

Talvez o alerta de Gabeira seja fruto do ofício de parlamentar. O Congresso Nacional, local de trabalho dos 513 deputados e 81 senadores, foi palco das mais vergonhosas demonstrações de caráter na capital federal. O mensalão e os sanguessugas foram marcos de uma das legislaturas mais abomináveis dos tempos democráticos. Curiosamente — seria por acaso? — o Rio de Janeiro a cidade de Gabeira é o estado com maior número de parlamentares envolvidos no escândalo das ambulâncias.

Brasília, essa cidade onde se misturam lobistas, prostitutas e deputados, é a mesma que está disposta a tirar o Rio da marginalidade. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), elaborado na Esplanada dos Ministérios freqüentada por Gabeira, é, como os próprios analistas cariocas anunciam, a oportunidade histórica para o estado interromper o período de decadência social e econômica. O suposto lado ruim de Brasília, o lado político, pode ajudar o Rio a sair de seu atoleiro.

A asneira de Gabeira me recorda outra frase dita recentemente por um político carioca — Luiz Paulo Conde —, secretário de Cultura do governador Sérgio Cabral. Pouco antes de assumir o cargo, Conde deu sua visão sobre cultura brasileira. Para ele, “cultura brasileira é Chico Buarque, Edu Lobo, Tom Jobim”. E emendou: “Tudo, menos Sula Miranda, Chitãozinho e Xororó”, em absurda deselegância com os músicos sertanejos.

Frases como essas ditas por homens públicos cariocas nos incitam a recorrer a velhos preconceitos. Dão-nos liberdade a considerar, por exemplo, que o carioca não gosta de trabalhar. Ou que o Rio de Janeiro é uma cidade terra de ninguém, terrível para se viver — a menos que se retrate apenas a beleza de folhetim descrita por Manoel Carlos. Mas os brasilienses — esses que Gabeira não conhece — não teriam comportamento tão deselegante.

Helena

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