"Projeto de evangelização para ganhar votos - Eleição 2006 - Autor: bispo Roberto Farias - Igreja Evangélica Santuário dos Milagres". Este enunciado foi encontrado no computador do comitê eleitoral da candidata derrotada a deputada federal Maria Valadão (PSDB), em Goiânia, em apreensão feita a mando da Justiça Eleitoral de Goiás. O projeto revela com detalhes os bastidores do uso da fé como instrumento de fonte de renda e manipulação eleitoral.
Pela evangelização, o bispo Farias recebeu R$15 mil da campanha de Maria Valadão, segundo registros encontrados no computador. Além dele, o padre Vicente Duarte e um homem identificado como pastor Mauro também aparecem na lista de pagamentos de Maria Valadão. Para o procurador eleitoral de Goiás Hélio Telho Filho, o material apreendido no comitê da candidata tucana tem caráter didático.
- Isso mostra como quem tem alguma liderança na sociedade, seja religiosa, política ou classista, possui uma moeda de troca, alguma coisa para vender. Se a liderança é venal, ela vai vender. Como disse um eleitor: "Ele (o pastor) vendeu o meu voto" - diz o procurador.
O "projeto de evangelização" detalha como o bispo Farias pretendia usar a Igreja Evangélica Santuário dos Milagres para ajudar a eleger Maria Valadão e, em troca disso, ganhar dinheiro:
1) Implantação de 20 núcleos familiares de oração, com pelo menos 20 integrantes, que se reuniriam três vezes por semana até a eleição;
2) Distribuição de pão e leite aos domingos para pessoas carentes;
3) Criação de um grupo de dez pessoas que passariam todos os dias por dez igrejas evangélicas pedindo votos;
4) Entrega de sacolas de verduras nas favelas de Goiânia;
5) Entrega de pelo menos oito sopões até a eleição;
6) Criação de uma corrente de 150 membros da Igreja, que teriam a obrigação de conseguir pelo menos dez votos cada um;
7) Disponibilização de 20 pessoas para fazer boca-de-urna;
8) Distribuição de santinhos na madrugada da eleição, entre outras ações (algumas delas proibidas pela legislação eleitoral).
O custo do serviço era de R$20 mil, mas Maria Valadão, mulher do ex-governador biônico de Goiás Ary Valadão, pagou apenas R$15 mil, segundo a contabilidade encontrada em seu comitê.
Os documentos revelam também fortes indícios de caixa dois na campanha de Maria Valadão. Ela declarou ter recebido R$237 mil em doações, mas, segundo uma planilha apreendida, gastou R$531 mil só com apoios políticos e R$1,1 milhão com cabos eleitorais. Se os dados da planilha estiverem corretos, ela gastou seis vezes mais do que declarou.
Os documentos apreendidos pelo Ministério Público Federal mostram que Maria Valadão fez uma campanha ecumênica. O padre Vicente Duarte, do Santuário Padre Cícero, no bairro Urias Magalhães, em Goiânia, também aparece na lista. Uma ficha com seu nome enumera 20 cabos eleitorais, um carro de som que deveria circular pelo bairro três vezes por semana e dois carros de passeio, um ao custo de R$750 e outro de R$1,5 mil. Ao lado da ficha, um cartão do padre informa: "Casamento, batizado, benção de casa, fazenda e orações. Deus seja bem vindo!". Ele confirmou ter feito campanha para a tucana:
- Pedi a meus amigos que votassem nela. Fiz porque a dona Maria é uma pessoa que merece. Não peguei dinheiro, não recebi nada - disse.
Perguntado sobre a ficha com seu nome, cartão e valores, padre Vicente respondeu:
- Isso eu não sei, não. É coisa da contabilidade deles. O cartão eu dou para todo mundo na rua.
Como Maria Valadão não foi eleita, o Ministério Público recomendou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Goiás que envie os documentos para a Polícia Federal, que investigará supostos crimes de lavagem de dinheiro, caixa dois e compra de votos.
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Helena.
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